Após bronca, Felipão vira reforço em treino e carrega até barreira

Gustavo Franceschini e Paulo Passos

Do UOL, em Goiânia

Felipão não gostou do treino do último domingo e deu uma bronca pública na seleção brasileira. Nesta segunda, ele respondeu à má atuação sendo mais participativo. No Serra Dourada, onde o Brasil enfrentará o Panamá nesta terça, às 16h, o treinador correu junto dos atletas, pediu bola, fingiu ser um rival em campo e carregou até barreira. Tudo para deixar os comandados do jeito que ele quer para o penúltimo teste antes da Copa do Mundo.

O cuidado especial com o trabalho desta segunda começou antes mesmo da bola rolar. Enquanto a seleção fazia o alongamento no gramado do Serra Dourada, Felipão bateu a bola no chão com as mãos, estranhou algo no quique que ela dava e conversou com um membro da comissão técnica, que saiu correndo para tentar resolver o problema apontado.

"O gramado daqui é diferente da Granja. Aqui a bola segura muito. A gente pediu ao senhor que cuida do estádio que regasse antes e depois do aquecimento, para dar velocidade à bola", disse Felipão na entrevista coletiva. 

Era uma pitada boleira de Felipão que, se não foi um jogador primoroso em seus tempos de zagueiro, aprendeu alguns truques nos anos como treinador. Quando uma bola escapou da roda de bobo e foi em sua direção, ele imitou Ronaldinho Gaúcho nos seus bons tempos. Em vez de devolver a bola de primeira, fingiu e ficou com ela, deixando Daniel Alves no vácuo.

O Felipão "jogador" foi a tônica do trabalho, que durou menos de uma hora. Sem seu elenco completo (Thiago Silva, Paulinho e Fernandinho ficaram em Teresópolis, poupados), o técnico optou por um "treino fantasma", em que os dez titulares de linha atacam contra um adversário imaginário. Por vezes, esse rival de suposição foi o próprio Scolari.

Um passe errado em sua direção foi o bastante para Felipão fingir que era um meia puxando um contra-ataque. Do alto de seus 65 anos, o técnico deu um pique curto diante de Luiz Gustavo e percebeu um buraco na marcação do Brasil. Hernanes, que instantes antes estava preocupado com o ataque, tinha esquecido de voltar fechando o meio, o que lhe rendeu uma bronca.

Foi o mesmo espírito de quem quer testar a atenção do elenco que fez Felipão pegar uma bola nas mãos quando o Brasil treinava escanteios. Em vez de devolvê-la para mais uma cobrança de Neymar, sem aviso prévio, ele agiu como se fosse um goleiro prestes a repor a bola em jogo. Os homens de defesa estavam desatentos no meio-campo, à mercê de um contra-ataque rápido.

Sobrou até para Neymar. Em dois lances quase seguidos, o camisa 10 do Brasil tentou finalizar contra Jefferson com um toque de classe por cobertura. O goleiro defendeu o primeiro e viu o segundo ir para fora. Felipão, descontente com as chances perdidas, chamou o atacante e passou uma orientação específica para ele.

Foi o mesmo Neymar quem sofreu com o chefe na hora das cobranças de falta. Em um primeiro momento, Felipão posicionou-se na linha da barreira móvel e ficou vendo o atacante arriscar cobranças com Marcelo. Descontente com o aproveitamento, ele se aproximou da dupla e mostrou como eles deveriam posicionar o corpo para a cobrança.

Coincidência ou não, os dois passaram a acertar mais depois da "dica" do treinador, que não chegou a tentar ele mesmo fazer um gol em Victor. O que Felipão fez foi agilizar o processo. Quando Willian foi chamado para fazer as cobranças do lado direita da intermediária, o próprio treinador arrastou a barreira móvel, sem esperar um membro da comissão técnica.

De longe, parecia ser a pressa de quem quer arrumar o time. No último domingo, depois do segundo treino coletivo, Felipão soltou os cachorros ao falar do desempenho da equipe. "Tudo que foi planejado foi efetuado. Seguimos à risca todo o cronograma. O que não foi estabelecido foi que treinássemos daquela forma, com marcação muito frouxa, posicionamentos que não são os nossos desde que jogamos contra a Inglaterra. Não podemos esquecer que estamos a uma semana da Copa", disse Luiz Felipe Scolari. 
 

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