Museu do Futebol corta de exposição ironias de Juca Kfouri à cartolagem

Gustavo Franceschini e Mauricio Stycer

Do UOL, em Teresópolis e São Paulo

  • UOL

    Comentário de Juca Kfouri em filme foi cortado pelo Museu do Futebol depois de sofrer críticas na 1ª exibição

    Comentário de Juca Kfouri em filme foi cortado pelo Museu do Futebol depois de sofrer críticas na 1ª exibição

Entrevistado em um filme que brinca com a ideia de que a seleção brasileira ganhou todas as Copas da história, o jornalista Juca Kfouri foi irônico ao se referir aos cartolas do país. Nesta semana, depois do lançamento da obra, o Museu do Futebol, responsável pelo projeto, decidiu cortar o comentário do blogueiro do UOL Esporte e colunista da Folha de S. Paulo.

O filme em questão é o curta-metragem "Brasil, eternamente campeão", feito especialmente para a exposição. Com roteiro de José Roberto Torero e direção de Henrique Goldman (diretor do filme "Jean Charles"), a obra é feita a partir de entrevistas com ex-jogadores e jornalistas que contam a história ficcional de que todas as Copas foram vencidas pela seleção e imaginam os desdobramentos desse domínio hipotético.

"No meu comentário eu faço uma referência à Copa de 1970 e, como se trata de uma fantasia, elogio a gestão do futebol no país. Digo que em 1974 só foi fácil ganhar porque desde 1970 todo o dinheiro da CBF foi investido somente no futebol", explica Juca Kfouri à reportagem.

Para entender o comentário irônico é preciso lembrar que, depois de levantar o tri em 1970, a seleção só voltou a vencer 24 anos depois. Neste período, dirigentes da CBF foram seguidamente acusados de má gestão e, por isso, são apontados como responsáveis pelo jejum.

O filme faz parte de uma exposição temporária que, dessa semana até 7 de setembro, ocupará o primeiro andar do Museu do Futebol. A primeira versão do curta foi exibida duas vezes na última segunda. Pela manhã, foi vista por jornalistas em um evento de divulgação. À noite, convidados viram o mesmo material.

Nesta sessão, o filme foi muito aplaudido e provocou risos entre os espectadores. Na terça, quando a exposição foi aberta para o público, a obra já não estava mais lá.

"Antes de exibirmos na segunda a gente já tinha decidido que o filme teria de ser menor, porque estava muito longo para uma exposição temporária. Dentro da lógica da obra a gente cortou alguns depoimentos e tiramos o do Juca por que achamos mais legal que ficasse no contexto do futebol mesmo", disse Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do Museu do Futebol.

A reportagem apurou, no entanto, que a declaração irônica não caiu bem entre alguns dos convidados da sessão de segunda à noite. Pessoas com influência no Museu do Futebol se incomodaram com o tom crítico e pediram a retirada do comentário de Juca Kfouri, e a administração cedeu à pressão.

"O que eu acho disso tudo? Que é absolutamente ridículo", disse o jornalista, que está em Teresópolis, no Rio de Janeiro, acompanhando a preparação da seleção brasileira para a Copa do Mundo.

O UOL Esporte foi ao Museu do Futebol na última quarta. Na sala onde ficaria o filme havia apenas um aviso que dizia "Evento em montagem". Um funcionário informava que o vídeo estava "em manutenção". O curta é uma das principais atrações do local junto com três peças preciosas do acervo da FPF (Federação Paulista de Futebol): a camisa azul usada por Didi na final de 1958, uma bola utilizada na decisão de 1962 e uma réplica da taça Jules Rimet.

O Museu do Futebol explica que a versão editada do filme ainda não ficou pronta e que, por isso, os responsáveis pela exposição preferiram manter a sala fechada. "Nós estamos em época de Copa, há uma demanda muito grande e nossa equipe é pequena. Não é o ideal abrir sem uma das atrações, é claro, mas às vezes acontece", explicou Daniela.

Por que, então, o Museu não manteve a versão exibida na última segunda, que já estava pronta? "É que nós tivemos um problema técnico. Um dos projetores dessincronizou dos outros dois que são usados e, por isso, preferimos aguardar o filme final para podermos resolver tudo isso de uma vez.

Na verdade, tirar a versão inicial da exibição foi uma tentativa de evitar o corte. Parte da equipe responsável, que era contra a edição da fala de Juca Kfouri, passou a última terça argumentando com os superiores para que o filme fosse mantido, mas não conseguiu vencer a queda de braço. A tendência é que nos próximos dias a obra seja recolocada no Museu do Futebol, mas já sem a declaração irônica sobre a cartolagem.

A decisão de cortar o comentário compete apenas ao Museu do Futebol, e não ao diretor ou ao roteirista. Em resposta a um pedido da reportagem, a administração do local explicou que os artistas produziram a obra sob encomenda e que, por isso, ela preferia assumir a responsabilidade e falar sobre o assunto. 

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