Marcelo mostra que tem um jeito muito particular de ser engraçado
Gustavo Franceschini e Paulo Passos
Do UOL, em Teresópolis (Rio de Janeiro)
Entre os jogadores há uma unanimidade. Marcelo é o rei da graça na seleção. Piadista, gozador e engraçado são algumas adjetivos usados pelos colegas para descrever o lateral esquerdo do Real Madrid. Até Luiz Felipe Scolari concorda com a fama.
Nos treinos, é ele quem puxa as gozações, ri com frequência e não poupa os companheiros. Nesta quinta-feira, ele foi escalado para a entrevista coletiva aos jornalistas na Granja Comary.
"A criatividade que ele tem dentro de campo é a mesma para zoar alguém, para tirar onda. Está sempre alegre. Sabe dançar e tem a mente fértil", avisou Hernanes, sentado ao seu lado na bancada da sala de imprensa.
O recado motivou os jornalistas a tentarem fazer Marcelo repetir os risos e as gozações na entrevista. "Você é alegre, faz piada?", questionou um repórter.
Como que driblando a pergunta, tirando sarro, até, de quem falava, o lateral respondeu da forma mais sóbria possível, sem rir ou brincar. "Não mudo com as câmeras, são as perguntas. Se for engraçado, vou ficar engraçado. Se for sério, vou ficar sério. Tenho alegria com meus amigos. Não tenho que ficar dando uma de bonzinho aqui", avisou. Em alguns momentos, sorria para o lado, olhava para Hernanes, para funcionários da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e seguia evitando as piadas.
A entrevista teve até momentos tensos. Ao ouvir uma pergunta sobre uma suposta ausência de craques no Brasil, Marcelo se indignou e ironizou o entrevistador. "É tua essa pergunta?" questionou. "Olha só, tu acha mesmo que o Brasil não está formando craque? Eu acho sacanagem você falar isso. Só ver nossa seleção. Outros que não vieram que estão arrebentando na Europa, no Brasil", retrucou. "Na minha língua, a moral, é assim....", ironizou, sem completar a frase e virando o rosto para ouvir outra pergunta.
Depois, se fez de surdo e desentendido ao ser questionado sobre um grupo de Whatsapp (aplicativo usado em telefones para troca de mensagens) criado pelos jogadores para se comunicarem. "Quem?", disse, levando o repórter a repetir a pergunta por três vezes. "Não entendi", respondeu sorrindo. A pergunta foi abandonada.
Ele perdeu a calma? Perdeu. Mas tratou do assunto com ironia, provocação. O objetivo era usar uma frase engraçada ("É sua mesmo essa pergunta?") e tentar evitar uma reclamação direta. Apesar de afirmar que superou a timidez, sua seriedade mostra um certo desconforto no trato com a imprensa.
Ele até tenta descontrair. Ao ouvir uma pergunta de uma jornalista japonesa, conhecida dos jogadores por acompanhar a seleção (e pela voz aguda), Marcelo quase brincou. Fez caretas enquanto ela falava. Na hora da resposta, porém, não ousou. Respondeu sobriamente.
Mas conseguiu arrancar risadas. No fim da entrevista, um dos repórteres cometeu uma gafe: errou o mês de nascimento do lateral. "Meu aniversário é 12 de maio", disse. Quando o repórter insistiu que a data certa era junho, o lateral gargalhou. "Pô, você quer saber meu aniversário mais do que eu? A estreia [risos]... Qual era a pergunta mesmo? [risos] Errou, hein velho? Deu ruim", completou.
Foram poucos momentos engraçados. Mas foram justamente neles que quem acompanhava a entrevista percebeu: ali estava o gozador do time de Felipão.