Protesto contra Copa ganha apoio dos índios no DF; policial é flechado

Aiuri Rebello

Do UOL, em Brasília

O tour da taça da Copa do Mundo na área externa do estádio Mané Garrincha, em Brasília, foi interrompido devido a um protesto contra o Mundial no final da tarde desta terça-feira (27). Após início de confusão e confronto entre manifestantes e policiais, a organização do evento resolveu retirar o troféu do local. Cerca de mil manifestantes nas contas da PM e 2 mil na conta dos organizadores, que protestavam contra os gastos do governo com a Copa do Mundo, entraram em conflito com policiais militares quando ficaram a cerca de 300 metros de distância do local onde a taça era exposta.

Um grupo de índios, que fez uma manifestação na Esplanada dos Ministérios pela manhã contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia, e contra o método de demarcação de terras adotado pelo governo -- entre outras demandas -- se juntou aos outros grupos que protestavam contra a Copa. Durante o confronto, a PM atacava bombas de gás e efeito moral, enquanto parte dos manifestantes respondia com paus e pedras. Alguns índios chegaram a atirar flechas contra os policiais. De acordo com a PM, um policial ficou ferido depois de ser atingido por uma flecha. Um cabo da cavalaria identificado pela Polícia Civil como Cléber José Ferreira, que participava do conflito com os manifestantes, foi alvejado na perna esquerda.

Ele foi atendido em uma ambulância do Samu e liberado em seguida, informou a PM. Depois, a assessoria de comunicação corrigiu a informação e disse que ele foi levado ao hospital, mas não soube dizer para qual. O cabo passa bem. Segundo a PM, o índio responsável pela agressão foi detido e seria levado para a delegacia.

Depois, a PM corrigiu a informação outra vez e afirmou que ele seria levado à PF, por ser nativo de tribo indígena. Na PF de Brasília, porém, a informação é de que até às 20h não havia nenhum índio detido por ali. A Secretaria de Segurança Pública do DF, por sua vez, informou que terá um balanço completo sobre a manifestação apenas na manhã de quarta-feira (28). Na delegacia próxima ao estádio indígena supostamente preso também não estava.

 Pelo menos outros dois manifestantes também foram detidos em meio ao conflito. Com o início da confusão, a organização retirou a taça da tenda na área externa do estádio e interrompeu as visitas. Mesmo assim, centenas de pessoas, incluindo crianças, ficaram do lado de dentro da tenda de exposição até a confusão terminar. 

Segundo a Polícia Militar, a briga começou quando os índios tentaram ultrapassar o limite estabelecido para a manifestação. Já de acordo com os manifestantes, a PM começou a agressão livremente. O protesto foi organizado pelo Comitê Popular da Copa no DF, pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e outros grupos, além dos indígenas.

"Mais cedo fizemos um julgamento da Fifa e do governo sobre os crimes e gastos da Copa lá na Rodoviária do Plano Piloto. Os índios que tinham participado da manifestação no Congresso mais cedo se juntaram a nós", disse o estudante universitário e um dos organizadores do protesto, Raphael Sebba, de 23 anos.

"Não íamos até a taça, mas uma parte dos manifestantes resolver subir e acompanhamos pacificamente. Os índios até foram na frente para mostrar que seria pacífico. Mas chegando perto, a PM abriu fogo e jogou bombas na gente", completa.

O confronto entre policiais e manifestantes durou aproximadamente uma hora, quando os manifestantes foram empurrados de volta para longe do estádio e do local onde está exposta a taça. Após a briga com a PM, uma parte dos manifestantes desceu de volta para a rodoviária, onde começaram a se dispersar. O grupo de dezenas de índios encerrou sua participação no protesto após o conflito. Eles fizeram uma roda e ficaram cantando e dançando em local próximo.

Durante a manifestação, a pista norte do Eixo Monumental chegou a ficar totalmente fechada, mas foi liberada por volta das 18h. Por volta das 16h, os manifestantes se concentraram na rodoviária e subiram em passeata até o estádio. Ao todo, foram cerca de quatro horas de protesto.

Não há informações sobre feridos além do PM. A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do DF não sabe informar quantos feridos foram atendidos pelo Samu e nos hospitais da região. Apesar disso, no local era possível constatar que dezenas de manifestantes tiveram ferimentos e escoriações leves.

Apesar da violência, a PM não chegou a utilizar balas de borracha pelo que acompanhou a reportagem do UOL Esporte. Cerca de 300 PMs -- 100 no entorno do estádio, 100 na Torre de TV e outros 100 na rodoviária -- participaram da operação. No final, pelo menos 500 PMs estavam espalhados pelo Eixo Monumental, onde correu a confusão, com cachorros, carros, motos e helicópteros.

Instantes antes do conflito entre manifestantes e PM, outro protesto bem menor havia conseguido chegar até a tenda de exposição da taça de forma pacífica. Cerca de 50 militantes da Fasubra (Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil), que estavam lá com ingressos para ver a taça, levaram faixas e cartazes e gritaram palavras de ordem por cerca de uma hora. Ele ameaçam entrar em greve.

Mais tarde por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que a PM agiu estritamente dentro do protocolo previsto em casos de manifestações. A operação foi considerada eficiente por ter protegido o público, "especialmente crianças, estudantes e idosos que estavam no evento de visitação à  Taça da Copa do Mundo".
 
De acordo com a nota, a manifestação teve de ser contida no limite estabelecido para segurança dos visitantes que estavam na tenda onde estava a Taça. "A operação preservou a integridade física dos manifestantes. Por determinação de governo, os policiais não usaram armas letais. Portanto, houve o uso progressivo de ações, como a utilização de bombas de efeito moral".
 
No comunicado, o governo do Distrito Federal "reitera que manifestações públicas e pacíficas fazem parte do processo democrático e que as forças de segurança da capital estão preparadas para garantir esse direito e proteger a população".
 
Por meio de nota, a Coca-Cola, que organiza o tour da taça, disse que manifestações públicas e pacíficas são parte do processo democrático e da livre expressão de opiniões, mas que "a empresa lamenta que o protesto em Brasília tenha impedido que centenas de pessoas que aguardavam na fila conseguissem visitar a Taça da Copa".
 
De acordo com a empresa, "em nome da segurança de todos, a visitação desta terça-feira foi encerrada mais cedo por recomendação de autoridades públicas". A Coca-Cola informou ainda que, em princípio, a exposição desta quarta-feira, dia 28, está mantida, a partir das 9h".
 
Congresso
 
Mais cedo, durante o protesto dos índios na Esplanada dos Ministérios, o grupo chegou a subir no telhado do Congresso.  "Subir no Congresso foi um ato de valor, mostra que somos guerreiros e defendemos nossos direitos", disse Tamalui Kuikuru, da tribo Xingú, em entrevista à AFP. "Antes de fazer Copa do Mundo, o Brasil deveria pensar melhor em sua saúde, a educação, o que não traz benefícios", completou Neguinho Truká, índio de outra tribo que também participou do protesto.

A expectativa da Coca Cola, responsável pela exposição da taça da Copa, era de que o local recebesse cerca de 15 mil pessoas nesta terça-feira. A organização só voltará a expor a taça nesta quarta-feira (28). Ao todo, cerca de 30 mil pessoas devem passar pelo local para conhecer o troféu. A taça da Copa chegou à Brasília na manhã desta terça-feira, acompanhada pelo deputado estadual do Rio de Janeiro e ex-atacante tetracampeão mundial Bebeto.

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