Forte, decisivo e chorão: amigos contam como era Hulk na infância

Isabela Noronha

Do UOL, em São Paulo

Escolhido por Felipão para integrar o ataque da seleção brasileira durante a Copa do Mundo, Hulk está acostumado a ter papel decisivo em campo desde criança. E ele não admitia perder. Chegava até a deixar o campo chorando por causa de uma derrota. Quem conta são os amigos que o viram o jogar nessa época, quando ele ainda morava em uma casa simples na periferia de Campina Grande, Paraíba.  

"O Hulk é um cabra de decidir a partida", diz o vendedor Gilsimar da Silva Avelino,  de 27 anos,  o "Negão", que foi colega do jogador na sala de aula e na escolinha de futebol da infância. "Em um jogo contra outro time da cidade, a gente tinha saído perdendo. O Hulk olhou para mim e disse: Negão, toda bola que você pegar manda para mim, porque eu vou decidir essa partida'", lembra. "Eu fiz isso e deu certo. Ele fez dois gols e virou o placar. Ganhamos por 2 a 1."

Para Gilsimar, a maior qualidade do Hulk, que já tinha o apelido naquela época, sempre foi o chute potente. A maior dificuldade do atacante, por outro lado, era aceitar as derrotas. "Ele não podia perder uma partida que chorava", revela o amigo.

O choro talvez fosse menos pelo resultado e mais por ver os esforços frustrados. O garoto Hulk era viciado em treinar.  "Ele era diferente dos outros porque era muito dedicado, levava o futebol a sério", diz José Antônio da Costa, 51 anos, primeiro treinador do jogador, conhecido como Mano. "A aula de futebol era de manhã, mas ele pedia para vir de tarde também e, quando podia, ainda jogava de noite", conta.

Foi graças a Mano que Hulk conseguiu treinar em uma escola de futebol. Ele trabalhava na Futebol&Cia e era amigo do pai de Hulk, Gilvan, que ganhava a vida como feirante. Quando Mano assumiu a coordenação da escolinha, Gilvan foi pedir ajuda para o filho bom de bola.

Desconto, transporte e comida de graça

Mano conseguiu um desconto de 50% para o menino. O restante, tirava do próprio bolso. Além disso, garantiu o transporte de ida e volta para casa de Hulk e ainda liberou os lanches para ele na cantina do escola.

O jogador agradeceu o investimento mostrando seus talentos em campo. Aos 14 anos, veio sua virada. O time da escolinha foi o vencedor de um campeonato estadual, os "Jogos da Esperança", e o atacante foi o grande destaque. Como as partidas eram destaque do noticiário local, receberam muita atenção. "Depois disso, muitas pessoas de times profissionais vieram assediar, queriam levá-lo", lembra Mano.

O técnico conta que à medida que Hulk foi fazendo sucesso com a bola, também foi conquistando a atenção das meninas de Campina Grande. "Ele não se aproveitava, porque sempre foi tímido. Mas mexeu com muita gente nesse sentido, fica até inconveniente falar", diz.

Tanto Mano quanto Gilsimar ainda têm contato com o jogador. Mano conta que ganhou de presente camisas, chuteiras e agasalhos de todos os times pelos quais o ex-pupilo passou. "Ele me chama de professor até hoje. E, uma vez,  disse que eu era seu segundo pai", conta.

O primeiro treinador de Hulk hoje é diretor e proprietário da Escolinha de Futebol 100% Nordeste, fundada pelo jogador em Campina Grande. "É uma forma de dar continuidade ao que houve e tentar descobrir outros iguais a ele", afirma Mano.

Para Gilsimar, a maior emoção foi ter reencontrado o amigo em julho do ano passado, quando ele veio ao Brasil de férias e organizou uma partida beneficente na escolinha que fundou.

"Quando ele me viu, chorou de lágrimas e eu também. A gente deu um abraço daqueles, como se tivesse sido gol. Só faltou um subir no pescoço do outro", conta Gilsimar.

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