Rio tem surto de roubos em locais-chave da Copa do Mundo
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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EFE/Felipe Trueba
Garotinho caminha ao lado de blindado da PM ao lado do Maracanã durante a Copa das Confederações
A violência voltou a assustar o Rio de Janeiro às vésperas da Copa do Mundo de 2014. Meses antes do início do torneio, os principais indicadores de segurança do Estado pioraram significativamente e um surto de roubos atingiu três áreas-chaves para o Mundial na capital fluminense: o entorno do Maracanã, o bairro de Copacabana e de São Conrado.
O Maracanã receberá sete jogos do Mundial de 2014, inclusive a final; na praia de Copacabana, acontecerá a Fan Fest do Rio de Janeiro; e em São Conrado, estará concentrada a seleção inglesa durante a Copa. Nesses três locais, o número total de roubos quase dobrou nos primeiros três meses deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado (de 1.443 ocorrências para 2.623).
Esses dados estão entre os mais recentes divulgados pelo ISP (Instituto de Segurança Pública) do Estado. Órgão contabiliza mês a mês ocorrências registradas em delegacias fluminenses e organiza os números por áreas de atuação de batalhões da PM (Polícia Militar). A área de atuação de um batalhão é chamada de AISP (Área Integrada de Segurança Pública) nos levantamentos do ISP.
O Maracanã, por exemplo, fica na AISP atendida pelo 4º Batalhão da PM, junto com o bairro de São Cristóvão, parte da Tijuca e outros locais. Lá, foram registrados 1.332 roubos de janeiro a março de 2014 –87% mais do que no mesmo período de 2013. Do total de roubos, mais da metade (714) foi de transeuntes, ou seja, pessoas que caminhavam pelas ruas. Isso é mais que o dobro do verificado no primeiro trimestre de 2013.
Já na AISP de Copacabana o número de roubos aumentou 58% do primeiro trimestre de 2013 para o primeiro trimestre de 2014 (veja os números abaixo). Os roubos a transeuntes, mais especificamente, subiram 86%. Vale lembrar que fica em Copacabana a favela do Cantagalo. Lá, um confronto entre polícia e criminosos causou a morte do dançarino DG. O fato motivou manifestações contra a polícia na comunidade.
Na AISP em que fica o hotel em que a Inglaterra estará hospedada, os roubos a transeuntes subiram 143% e a o total de roubos, 94%. Os dados dessa AISP compreendem ocorrências na favela do Vidigal e Rocinha. O hotel da Inglaterra, aliás, fica bem perto da Rocinha, onde a violência também aumentou nos últimos meses. Desde o início do ano, já foram registrados confrontos entre policiais e traficantes em vias movimentadas da favela.
Aumento preocupante
Para o pesquisador Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o aumento no número de roubos em locais-chave da Copa é motivo de alerta. Segundo ele, 1.332 roubos em três meses perto o Maracanã é algo preocupante. "Mais que o percentual de aumento (87%), a quantidade absoluta de roubos preocupa."
Cano ressalta ainda que o crescimento da violência é uma tendência geral no Estado do Rio de Janeiro. Ele, porém, não acredita que isso possa prejudicar a Copa justamente pelo esquema de policiamento montado para o torneio. "Haverá muita polícia na rua, ainda mais nessas áreas [relacionadas ao evento]", disse ele, em entrevista ao UOL Esporte.
O professor do Departamento de Segurança Pública da Faculdade de Direito da UFF (Universidade Federal Fluminense), o Roberto Kant de Lima, também diz que o aumento da violência no Rio não está isolado em determinadas áreas. Segundo ele, ele é fruto da deficiência da polícia. "A polícia ainda ainda não aprendeu a lidar com o crime após a ocupação das favelas" disse.
Esquema antecipado
Ante à piora dos indicadores de segurança do Estado, o governo do Rio de Janeiro resolveu antecipar em um mês a implantação do plano de segurança da Copa do Mundo. Desde o início de maio, policiais militares não podem tirar férias e licenças. Com isso, mais 2 mil homens patrulham as ruas da capital fluminense.
Áreas-chave do Mundial, como o Maracanã, receberam reforço de segurança. Só estádio e seu entorno terão 2.372 policiais militares atuando. O efetivo será 70% maior do que o planejado para a Copa das Confederações.
Todo esse plano foi aprovado em abril pela Cesege (Comissão Especial de Segurança do Estado para Grandes Eventos) do Estado. Forças federais, como Exército, Força Nacional e Polícia Federal, também atuarão no Rio durante a Copa.