Magoados, sortudos e 'arte' no banheiro: veja o que corte já fez na seleção

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

  • Patrícia Santos/Folha Imagem

    Magoado com o corte Romário ironizou Zagallo e Zico em porta de boate

    Magoado com o corte Romário ironizou Zagallo e Zico em porta de boate

O técnico Luiz Felipe Scolari anunciou há uma semana os 23 nomes convocados para disputar a Copa do Mundo de 2014. E, na terça-feira, divulgou os sete suplentes. A dúvida, até a estreia contra a Croácia, no dia 12, é se a lista pode sofrer algum tipo de alteração por um motivo indesejado: a amarga sensação do corte de algum atleta por contusão. Fato que gera tristeza na comissão técnica e muitas vezes mágoa em quem deixa o time, mas que acaba por agraciar "sortudos" que ficam de stand-by.

Em 2010, o time de Dunga passou ileso por isso. Mas até então vinha sofrendo bastante com esse tipo de situação. Em 2006, Carlos Alberto Parreira, hoje coordenador, teve que cortar Edmilson por por lesão no joelho direito e convocar Mineiro. Alegria para um, tristeza para outro.

"Eu encarei como um presente de Deus. Não pela lesão do Edmilson, claro, que fiquei triste por ser um companheiro saindo machucado. Mas foi uma experiência única e que guardo com muito carinho, mesmo o time não tendo sido campeão", falou Mineiro.

"Fiquei muito triste, pois eu fazia uma temporada muito boa. Estava bem para caramba e tinha marcado bem o Kaká em jogos da Liga dos Campeões. Muita gente fala que eu poderia ficar lá, mas não conseguia nem treinar direito", lembrou Edmilson, um dos poucos que se conformam com a exclusão.

Em 2002, o cortado foi o volante Emerson, um dia antes da estreia brasileira, por uma lesão no ombro direito. Ele deu lugar a Ricardinho. Curiosamente, Emerson havia sido o "sortudo" em 1998 depois do corte de Romário. O grupo de Zagallo já havia tido outros dois corte semanas antes. O meio-campista Flávio Conceição deu lugar ao lateral Zé Carlos, e o zagueiro Márcio Santos cedeu vaga a André Cruz.


O mesmo número de trocas houve em 1994. Mozer deu lugar a Aldair por um caso de hepatite e Ricardo Gomes saiu para dar vaga a Ronaldão, poucos dias antes da estreia contra a Rússia. As reações de quem acaba ganhando a vaga são inusitadas.

"Fui tomar café no São Paulo e o pessoal ficava me dando parabéns; eu não entendia. Demorou pra cair a ficha, eu achava que o pessoal estava brincando. Depois que o Felipe, assessor do time, veio me informar é que dei credibilidade para a informação", lembrou Mineiro sobre 2006.

"Eu estava no Japão concentrado pro jogo numa Ilha de Toyama quando eu recebi a ligação da minha esposa que deu a noticia que o Parreira e o Zagalo tinham ligado na minha casa me convocando. Primeiro foi um frio na barriga e pensei se era verdade mesmo. Mas depois então foi maravilhoso", disse Ronaldão, sobre o episódio de 1994.

"Eu estava em uma missa num domingo de manhã em 2002. O Parreira (técnico do Corinthians na época) ligou para a minha esposa e falou pra ela que o Felipão tinha falado com ele (estava como observador da Fifa no torneio). A sensação foi a melhor que eu poderia ter, pois você sempre quer defender o Brasil em uma Copa. E acabou culminando no título", lembrou Ricardinho, que depois foi chamado para 2006.

Mas para alguns dos cortados sobraram críticas e sobram até hoje. Romário nunca engoliu o fato de ter sido excluído e disse que poderia ficar mais no grupo de 1998. Na época, chegou a se tratar com o fisioterapeuta Filé, que diz ter recuperado o craque de sua lesão na panturrilha direita para jogar ainda durante a competição. Como sinal de sua indignação com a comissão técnica, o Baixinho mandou pintar imagens do técnico Zagallo e do coordenador Zico nas portas do banheiro de uma boate que adquiriu na época. A polêmica foi parar até na Justiça, pois os dois membros da comissão técnica na época quiseram indenizações pelo deboche.

O Baixinho fez as pazes com Zico mais de uma década depois. Mas, com Zagallo, a relação virou uma rusga eterna com troca de acusações. O Velho Lobo acusa o ex-jogador de ter forjado lesão para não jogar a final da Copa América de 1997.

Também cortado em 98, Flavio Conceição reclamou recentemente de que sua exclusão pode ter sido por não ser patrocinado pela mesma marca que vestia a camisa da seleção. "Isso me incomoda bastante. É o sonho de qualquer jogador. Ganhei vários títulos, faltou disputar uma Copa do Mundo. Muita gente do meio, com conhecimento, veio me alertar que era coisa de patrocinador. Porque foi muito estranho", falou.

"Foi uma coisa estranha. O Lídio (Toledo, médico) me ligou na segunda, perguntou como eu estava e falei 'Se eu não jogar sábado pode me cortar, se eu jogar, é porque estou bem'. Na quinta me ligou de novo e disse que eu estava cortado. Quis saber o motivo", continuou.

Mozer foi outro que recentemente ficou indignado ao lembrar de sua exclusão em 1994. Ele saiu por um quadro de hepatite, mas disse que pessoas não o queriam na seleção. "Fui cortado e até hoje não sei porque não me deram a chance de estar no Mundial.   Percebi que não era bem-vindo e temos que ficar nos lugares em que somos úteis.  No fundo não interessava pra eles que eu ficasse lá."

Depois de Mozer, o cortado em 1994 foi Ricardo Gomes, que tem mágoa até hoje e não gosta de tocar no assunto. Sempre se recusa a comentar quando questionado sobre o episódio.

Felipão já vivenciou a delicada situação em 2002, quando teve que cortar Emerson e chamar Ricardinho. Questionado na quarta-feira sobre a chance de corte, ele já adiantou que não quer passar por isso de novo e chamou a situação de "horrível".

"A experiência que tive aquele dia foi horrível. É uma coisa que não quero passar de novo. Naquela oportunidade o Ricardinho foi bem no grupo, mas não quero ver isso de novo às vésperas de uma Copa do Mundo. São os piores 15 minutos que uma seleção pode ter. Tomara que não tenhamos nenhuma dificuldade com isso agora."

Na terça, Scolari enviou a lista com 30 nomes para a Fifa. Além dos 23 já anunciados na semana passada, as novidades foram os outros sete jogadores que ficaram como "estepes" em caso de contusão. São eles Diego Cavalieri (Fluminense), Rafinha (Bayern), Miranda (Atlético de Madri), Filipe Luis (Atlético de Madri), Lucas Leiva (Liverpool), Lucas (PSG) e Alan Kardec.

Veja lista de cortados e substitutos na seleção em Copas

1970 – Rogério (Botafogo-RJ) deu lugar a Leão (Palmeiras)

1974 –Wendell (Botafogo-RJ) deu lugar a Waldir Peres (São Paulo)
 
Clodoaldo (Santos) deu lugar a Mirandinha (São Paulo)              

1978 – Zé Maria (Corinthians) deu lugar a Nelinho (Cruzeiro)

Nunes (Santa Cruz) deu lugar a Roberto Dinamite (Vasco)

1982 – Careca (Guarani) deu lugar a Roberto Dinamite (Vasco)

1986 – Mozer (Flamengo) deu lugar a Mauro Galvão (Internacional)

Cerezo (Roma) deu lugar a Valdo (Grêmio)

1994 – Mozer (Benfica) deu lugar a Aldair (Roma)

Ricardo Gomes (PSG) deu lugar a Ronaldão (Shimizu-JAP)

1998 – Flávio Conceição (La Coruña) deu lugar a Zé Carlos (São Paulo)

Márcio Santos (São Paulo) deu lugar a André Cruz (Milan)

Romário (Flamengo) deu lugar a Emerson (Bayer Leverkusen)

2002 – Emerson (Roma) deu lugar a Ricardinho (Corinthians)

2006 – Edmilson (Barcelona) deu lugar a Mineiro (São Paulo)

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