Figurinhas da Copa

Da hora marcada ao WhatsApp: tecnologia facilita troca de figurinhas

Verônica Mambrini

do UOL, em São Paulo

A Copa já era tema de álbuns de figurinhas no Brasil desde os anos 50, mesmo ano em que a televisão chegou ao Brasil. Por muito tempo, trocar figurinha para completar um álbum era praticamente um ritual, com seu tempo e lugares certos, sempre pessoalmente. O dentista Herbert do Amaral Sobrinho, 56 anos,  começou a colecionar na Copa de 70. "Mas antes, eu já colecionava álbuns que reuniam os times Paulistas e os Cariocas, e a seguir lançaram alguns mais completos com equipes do Brasil todo", conta.

De lá para cá, algumas coisas não mudaram: em tempos de mundial, preencher as páginas com todos os cromos e trocar figurinhas furiosamente sempre é febre. "Todos colecionavam. Como na época não existiam video games, tampouco computadores, após o horário escolar e as obrigações feitas, todos iam para a rua, ponto de encontro habitual." A portaria de qualquer escola hoje mostra que os encontros presenciais e informais, marcados para a "hora do intervalo" continuam firmes e fortes, assim como os encontros em banca de jornais.

Outra estratégia do passado que a cada Copa volta é bater figurinha, ou "bater bafo". "Cada um colocava o mesmo número de figurinhas e depois de uma famosa disputa de par ou ímpar para ver quem era o primeiro, tentávamos virar o maior numero possível batendo com a palma da mão." Como hoje, cada colecionador tem seus truques e macetes, guardados à sete chaves.

Na infância de Herbert, quem completava o álbum ganhava até a bola oficial, de couro. "Chamávamos de capotão", diverte-se. "Comprávamos tantas figurinhas que quase dava para completar vários álbuns. Os editores provavelmente não faziam circular, ou não distribuíam determinadas, para que as pessoas seguissem comprando. Quando a pessoa já havia completado o seu álbum e possuísse alguma figurinha difícil de se encontrar ou até mesmo carimbada - que eram as mais difíceis - então as vendiam ou até leiloavam", recorda-se. Herbert nunca procurou a editora, mas lembra que já existia a prática.

Luis Henrique Amaral, filho de Herbert, pegou a mania de figurinhas com o pai. Mas acompanhou a evolução tecnológica. "Hoje costuma ser em duas fases: primeiro com os amigos mais próximos, do futebol, do trabalho. Quando começa a ficar difícil, apela-se para os encontros no Pacaembú, no vão livre do Masp", conta. Já adulto, usa a tecnologia para dar uma ajudinha. "Facilitou muito. Comecei a entrar em grupos de troca no Orkut, agora no Facebook. Já existem redes sociais exclusivas para troca de figurinhas... e eu estou em todas elas. Não existe mais possibilidade de ficar sem completar álbum." Ele só continua irredutível quanto a completar o álbum pedindo os cromos à editora – "Não sou a favor de 'trapacear'".

Na década de 90, fóruns de internet e sites ganharam alguma popularidade para facilitar a troca de figurinhas. O Troca Figurinhas, por exemplo, não é exclusivo da Copa, mas inclui os álbuns e é uma mão na roda para quem tem pendências com álbuns de anos anteriores e para colecionadores mais permanentes. No que se refere à Copa do Mundo, as tecnologias preferidas são a do momento e acabam até ficando datadas. É o caso do Orkut, que tinha diversas comunidades de trocas de figurinhas nas Copas de 2006 e de 2010, com centenas de membros, e pouquíssimas hoje.

Thiago Pitol, 30 anos, faz parte dessa resistência orkutiana. "A gente ainda utiliza uma comunidade sobre futebol para marcar trocas, apesar do grupo ser cada vez menor." Como as copas anteriores renderam muitas amizades, iniciadas justamente nas páginas dessa rede social, o grupo ainda é ativo, mas com membros herdados dos eventos anteriores. "Orkut não é mais do momento", reconhece Thiago. "Na Copa de 2010 teve vários encontros, ajudou muita gente a completar o álbum." Ele tem todos os álbuns desde 1990, completados na raça. Pedir figurinha para a editora? "É trapaça, não gosto." "Em 1994, eu morava no interior de São Paulo, numa cidade era bem pequena, de cerca de 40 mil habitantes. Trocava com os colegas de escola e em uma banca grande, na praça em frente. O jornaleiro que armava o encontro aos sábados ou domingos de manhã. Todo mundo já sabia e ia para lá".

Além do Facebook, os mais desesperados em completar o álbum rápido sem "apelar" estão usando o Whatsapp. O produtor de eventos Anderson Teixeira, de 25 anos, criou um grupo de troca de figurinhas que está bombando. "Eu acredito que para trocar no Whatsapp, só meu grupo. Comecei segunda-feira, e já tem 30 pessoas", conta. As pessoas marcam e se encontram imediatamente. Basta alguém postar na hora da saída do trabalho em que estação do metrô vai passar, e está marcado um mini encontro com pessoas da mesma região. "As pessoas fazem grupos à parte, regionais, para trocar."

Outra ajudinha que o pessoal mais antigo não tinha são aplicativos para fazer o controle das figurinhas faltantes. A Panini o Panini Collectors, que permite escanear a foto ou adicioná-la pelo número numa ficha. "Deveria ser mais simples e fácil de usar, mas ajuda na troca de figurinhas, porque não preciso andar com papéis e caneta. Eu clico e tenho a listagem de quais eu tenho para trocar", diz Wyllian Leiva Clasen.

Mas nem todo colecionador tem tantos escrúpulos quanto Luís Henrique e Thiago. Eric Michel De Campos aproveita as Copas para lucrar com os apressadinhos. Ele vende pelo Mercado Livre, site de comércio online desde 2010, e só nas Copas. "O pessoal não tem paciência para esperar 30 dias pedindo pela Panini. Comigo chega em 2 ou 3 dias, pelo Correio", diz. Há desde álbuns completos, em que o colecionador só precisa colar os cromos, a figurunhas avulsas para completar. "Tem gente que pede 200, 300 das que faltam, de uma vez, já para completar o álbum." Mas pelo menos Eric se diverte. "Eu acabo indo também nas feiras de troca, no MASP, no Pacaembu."

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