Ministério do Trabalho e construtora trocam farpas após morte no Itaquerão
Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo
A morte do operário Fabio Hamilton da Cruz no Itaquerão no último sábado agora virou uma queda de braço entre o Ministério do Trabalho e a Fast Engenharia, empresa responsável pela instalação das arquibancadas provisórias do estádio. Os dois lados trocam acusações sobre a culpa pela morte do trabalhador.
O acidente aconteceu na manhã de sábado. O operário caiu de uma plataforma a cerca de sete metros de altura. Ele foi levado a um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu algumas horas depois.
Segundo a Fast, houve negligência do trabalhador, que no momento do acidente não estaria usando o equipamento de segurança. "Vamos aos fatos: ele [Fabio Hamilton da Cruz] tinha cinto de segurança, estava treinado e fez parte da equipe que instalou as outras 500 placas [foram 550 no total]", afirmou David Rechulski, advogado da Fast Engenharia.
Fabio Hamilton da Cruz era funcionário da WDS Construções, empresa contratada pela Fast para trabalhar na obra do estádio. No dia do acidente ele havia concluído um curso sobre segurança no trabalho e uso de talabartes.
"Havia mais dois funcionários no momento do acidente. Eles estavam com os cintos conectados e não tiveram problemas. Um deles alertou a vítima sobre o cabo, mas ele não fez nada", continuou Rechulski.
A visão do Ministério do Trabalho sobre o caso é totalmente oposta. A contradição chegou a ponto de gerar atritos entre Rechulski e Luiz Antonio Medeiros, superintendente da pasta, durante uma entrevista coletiva realizada na última terça-feira.
"Culpar o trabalhador não é o caminho. É a pior forma de prevenção", resumiu Noé Dias Azevedo, auditor do Ministério do Trabalho que esteve no Itaquerão para vistoriar o setor em que aconteceu o acidente.
De acordo com o Ministério do Trabalho, o equipamento de segurança do estádio não é suficiente. O talabarte usado por Fabio Hamilton da Cruz tinha um cabo de 1,5 m, mas ele trabalhava em uma plataforma com 2,5 m. Além disso, não há fios longitudinais. "Não havia a segurança necessária", disse Luiz Antonio Medeiros.
O Ministério do Trabalho interditou a obra nas arquibancadas móveis e fez três exigências à Fast: instalação de guarda-corpos, colocação de cabos longitudinais e criação de um esquema coletivo de segurança – redes, de preferência.
Aí entra outro ponto de discordância: o efeito que a interdição de uma semana terá numa obra que já tem sido tocada em ritmo acelerado. "Acho que não vai haver um atraso significativo. O que não pode é morrer alguém, limpar o lugar e fingir que nada aconteceu", disse Noé Dias Azevedo.
As instalações provisórias têm custo estimado em R$ 60 milhões. Nesta semana, em mensagem enviada ao Blog do Perrone, o COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo de 2014 disse que a previsão é que essas estruturas sejam concluídas apenas em junho, a poucos dias da abertura do torneio – o primeiro jogo está marcado para o dia 12 de junho. A margem de tempo, portanto, já é bem pequena.
O que torna essa situação ainda mais grave é o que ela pode proporcionar. O UOL Esporte já havia revelado, em janeiro deste ano, que funcionários recebiam dinheiro "por fora" para trabalhar além do limite de horas previstas em acordo entre o Ministério do Trabalho e a Odebrecht.
O temor da pasta é que a interdição de uma semana aumente a incidência desse tipo de prática. A menos de três meses do início da Copa do Mundo, o Itaquerão é a maior preocupação da Fifa entre os estádios que receberão jogos do torneio.