PM prepara tropa de elite de cachorros para trabalhar na Copa do Mundo
Felipe Pereira
Do UOL, em São Paulo
Eles são fofinhos e até brincam como pets, mas um sinal muda tudo. Assim que recebem o comando, a expressão "cão de guarda" fica pequena para definir os cachorros da Polícia Militar de São Paulo que trabalham na segurança dos estádios do Estado. E são esses animais que ajudarão a promover a segurança dos jogos da Copa do Mundo.
O comandante do Pelotão do Canil Central, tenente Renato Leão, confia tanto nesta tropa que tem certeza que os animais dão conta de evitar uma invasão de campo mesmo com a grade de proteção derrubada. "Desafio qualquer pessoa a passar para lá. Não passa! Pode ser o cara mais bravo da pior torcida do mundo. Pode trazer um hooligan que o cara não passa".
Orgulhoso, o tenente logo enumera as vantagens dos cães dizendo que cada um é capaz de bloquear um espaço de até quatro metros. A mesma função exige cinco homens. Leão explica que um policial segura uma guia e quando o animal morder o torcedor um cutucão basta para que o solte de maneira rápida. A medida é necessária porque evita grandes ferimentos e também impede que o local fique desguarnecido e outros aproveitem o momento para entrar no campo.
Nos estádios de São Paulo os cães são empregados em jogos de maior público, rivalidade e potencial de confrontos como os clássicos. São 16 animais - 12 trabalham na pista ao redor do gramado para evitar invasão e os demais são farejadores. Uma dupla busca drogas e outra, bombas. O trabalho destes é concentrado nas torcidas organizadas.
Mas não é qualquer cachorro que pode integrar o canil. Há três requisitos a serem preenchidos, afirma o sargento Sandro Luis Baptista, adestrador há 19 anos. Acima de tudo é procurado um cão que tenha equilíbrio. Ele faz uma espécie de psicotécnico canino para descartar aqueles que atacarão sem ordem.
O animal também deve ter um bom drive, expressão técnica para desejo por objetos. A habilidade é essencial porque o treinamento é feito com a concessão de prêmios, como o brinquedo preferido, por tarefa bem realizadas. Um cachorro que não liga para este tipo de coisa não terá o estímulo para aprender. Por último, são escolhidos cachorros com pouca sensibilidade ao som, afinal um estádio é um ambiente bastante barulhento.
Finalizada esta parte, ainda existe uma avaliação veterinária e a análise da documentação, quando são checados pedigree e vacinas. Aos eleitos, um tratamento vip que inclui ração premium, assistência médica 24 horas por dia e uma vida de aventuras que começam com o treinamento.
"A partir das primeiras semanas você começa a colocar coisas diferentes na vida do cão. E a partir de três meses de idade ele está apto a começar os treinamentos. Claro, respeitando a idade", diz o adestrador. O sargento Baptista conta que o condicionamento é feito com repetições de exercícios.
Todo o processo de aprendizagem leva em média um ano e meio. O treinamento inclui ensinar o animal a morder 10 pontos espalhados pelas costas, peito, braços e pernas. Este item é importante porque a natureza do cão é atacar o pescoço, o que pode ter consequências sérias.
A convivência com o policial cria um laço forte de afeto, afinal são turnos de trabalho de até oito horas. Nem nas férias homem e cachorro costumam ficar longe. "Normalmente o policial sai de férias e dia sim dia não está aqui para soltar o animal e brincar", revela o tenente Leão. A rotina dura até o cão completar oito anos, quando é aposentando. A amizade criada é tão forte que é comum o policial levar o cachorro para casa. Prova do afeto está na pele do sargento Baptista, que tem no braço os nomes e os rostos de dois cães tatuados: Princess e Troy.
Na Copa do Mundo, a segurança interna dos estádios ficará a cargo de vigilantes privados, mas no entorno o policiamento ostensivo contará com veículos do canil ocupados por três homens e um cão. No total, a PM de São Paulo possui 350 animais das raças pastor alemão, pastor belga de malinois, labrador e rottweiler.