Qual conselho o governo dos EUA dá a americanos sobre protestos anti-Copa?

Gustavo Franceschini e Tiago Dantas

Em São Paulo

  • Reinaldo Canato/UOL

    Protestos contra a Copa do Mundo têm terminado em conflitos violentos e assustam o governo dos EUA

    Protestos contra a Copa do Mundo têm terminado em conflitos violentos e assustam o governo dos EUA

A escalada de protestos contra a Copa do Mundo, que se iniciou em junho do ano passado e segue até hoje, não passou despercebida pelo governo dos EUA. Na página dedicada ao Brasil em seu site, o Departamento de Estado do país orienta que os cidadãos norte-americanos evitem aglomerações e se fechem em casa caso as manifestações aconteçam em uma área próxima.

"A polícia brasileira tem usado gás lacrimogêneo, controle de distúrbios e unidades de cavalaria para dispersar os manifestantes. Se você souber de um protesto em sua vizinhança, você deve se manter em um local fechado e fechar portas e janelas", diz um trecho do aviso do Departamento de Estado dos EUA, que pode ser lido na íntegra no box abaixo.

O "conselho" está em uma página que contém informações úteis aos norte-americanos sobre todos os países do mundo. As informações vão desde dados sobre segurança e relacionamento com a população local até datas e necessidades de vacinas. Na mesma seção, o Departamento de Estado também faz alertas e avisos sobre determinados países.

Atualmente, por exemplo, há uma deliberação do órgão sobre a situação na Ucrânia. Devido aos conflitos no país europeu e à mudança de governo, os EUA aconselham seus cidadãos a cancelarem viagens não essenciais ao local.

O Brasil, embora tenha chamado a atenção da mídia mundial em junho do ano passado, nos protestos que marcaram a Copa das Confederações, não chegou a ser alvo de um alerta de viagem. No caso verde-amarelo, a precaução com os protestos ficou restrita à orientação de comportamento aos cidadãos.

O UOL Esporte procurou a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília para comentar as orientações e saber quando elas foram atualizadas. O órgão, porém, não respondeu aos questionamento até o fechamento da matéria.

A reportagem também consultou o Ministério das Relações Exteriores para saber a posição da pasta sobre o assunto. O Itamaraty respondeu que cada país reproduz sua percepção de segurança sobre os outros lugares do mundo e o procedimento é considerado normal pela chancelaria.

O ministério faz algo parecido em seu site, dentro da página "alerta aos viajantes", indicando aos brasileiros riscos que correm em outros países. O Itamaraty preferiu não comentar diretamente as recomendações feitas pelo Departamento de Estado dos EUA.

LEIA O "CONSELHO" DOS EUA SOBRE OS PROTESTOS

Manifestações e atos políticos ou de trabalhadores são comuns em áreas urbanas e podem causar falhas temporárias nos transportes público e privado. Apesar de os protestos não serem direcionados aos cidadãos norte-americanos, aconteceram incidentes de vandalismo que afetaram instalações do governo dos EUA.

Em alguns casos, a polícia brasileira tem usado gás lacrimogêneo, controle de distúrbios e unidades de cavalaria para dispersar os manifestantes. Se você souber de um protesto em sua vizinhança, você deve se manter em um local fechado e fechar portas e janelas. Os cidadãos norte-americanos no Brasil são aconselhados a monitorar noticiários locais e planejar suas atividades de acordo com eles.

Protestos em qualquer lugar do mundo têm o potencial para se tornarem violentos. Mesmo manifestações programadas para serem pacíficas podem se transformar em confrontos com potencial para a violência.

Cidadãos norte-americanos residentes ou viajando ao Brasil são aconselhados a usarem o bom senso para tomar precauções, evitar grandes reuniões ou outros eventos em que multidões se reuniram para se manifestar ou protestar, e a atender as instruções das autoridades locais. Cheque o site da embaixada ou do consulado mais perto de você para mais informações atualizadas.

Professor do curso de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), Carlos Eduardo Lins e Silva acredita que o comunicado contra os protestos feito pelo governo dos Estados Unidos é uma amostra de como a imagem do Brasil pode ser afetada pela realização da Copa do Mundo.

"Tudo o que está acontecendo prejudica a imagem do país. Muita gente achava que a Copa poderia funcionar como um grande relações públicas para mostrar o Brasil para o mundo, mas acho que o tiro pode sair pela culatra. Há uma lente de aumento em cima do Brasil. Tudo o que acontecer de errado, será notícia no exterior", argumenta.

Lins e Silva, porém, acredita que o comunicado não deve interferir na relação entre os dois países. Para ele, mostra um cuidado do governo norte-americano com seus cidadãos. "É como uma bula de remédio que fala para você não dirigir após tomar um comprimido que dá sono. É mais uma precaução, ainda mais em um país que tem uma cultura de entrar com processo judicial por qualquer coisa. Caso aconteça alguma coisa com um cidadão norte-americano durante um protesto, o governo pode se eximir de culpa, pois já tinha avisado sobre o risco."

O governo dos EUA não está sozinho na preocupação com os protestos, que começaram como uma revolta contra o aumento das tarifas do transporte público e hoje têm a Copa como alvo. Universidades norte-americanas que têm estudantes fazendo intercâmbio no Brasil também se assustaram com os acontecimentos.

"Eu recebi muitos e-mails das universidades parceiras. Logo na orientação, um dia antes do início das aulas, surgiu o questionamento dos alunos sobre o que estava acontecendo. Não impedimos alunos de se informarem, fomos claros. , mas como instituição não recomendamos que os estrangeiros participassem por questão de segurança. Tenho de zelar pela segurança do aluno estrangeiro", disse Lourdes Zilberberg, diretora de internacionalização da Faap.

A universidade paulistana é uma das que mais atraem estudantes de fora do país. Em 2013, a escola estima ter recebido quase 500 jovens de mais de 50 países. Por meio da Isep (Programa Internacional de Intercâmbio de Estrangeiros, na sigla em inglês), as faculdades americanas que enviaram alunos à Faap manifestaram sua preocupação.

"Os primeiros e-mails foram deles. Eles queriam saber se havia algum risco, se as aulas seriam canceladas, se o protesto era muito perto da faculdade. Eu respondi e eles se acalmaram, mas seguirem acompanhando o andamento das coisas", disse Lourdes.

O problema não foi exclusivo da Faap. "No segundo semestre de 2013, preparando para esse ano, perguntavam das manifestações. 'Vão acontecer?' Os estudantes veem com curiosidade, mas há uma orientação das instituição às quais eles pertencem para que tenham cuidado", disse Antonio Manzatto, assessor de assuntos internacionais e institucionais da PUC-SP.

Manzatto ressalta que a universidade brasileira não acompanha a orientação, e deixa os alunos livres para tomarem suas decisões. Acrescenta até que, em junho do ano passado, alguns alunos participaram dos protestos. 

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