Pode faltar água em São Paulo durante a Copa. Mas não para os turistas

Tiago Dantas

Do UOL, em São Paulo

São Paulo enfrenta uma situação de risco de racionamento de água próximo à Copa do Mundo. O nível dos reservatórios do Sistema Cantareira, que abastece cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na Região Metropolitana de Campinas, atingiu 16,8% nesta quarta-feira, 26. Meteorologistas e técnicos acreditam que as chuvas do outono podem ser insuficientes para aumentar esse nível. O racionamento seria, então, necessário para manter o abastecimento até a próxima estação chuvosa, só no fim do ano.

Na última vez que o Estado enfrentou um grande racionamento de água, em dezembro de 2003, o nível dos reservatórios ficou abaixo de 5%. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu, na terça-feira, que o racionamento de água na capital "é uma decisão técnica que está sendo monitorada dia a dia pela Sabesp". Por enquanto, a companhia aposta em uma campanha que dá descontos na conta para quem economizar mais de 20% de água.

Soma-se ao problema o fato de que algumas cidades da região receberão turistas que vão acompanhar a Copa do Mundo, aumentando o consumo de água. Além da capital paulista, que é sede do Mundial, Campinas será a casa das seleções de Portugal e Nigéria. O turista, porém, não precisa se preocupar tanto. A maior parte dos hotéis com mais de três estrelas já têm dois reservatórios de água para enfrentar períodos de estiagem, segundo a Abih (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira).

Grandes redes de hotéis mantêm, ainda, contratos com empresas que entregam água em caminhões-pipa. O procedimento é adotado por hotéis de luxo em cidades como Guarujá, no litoral paulista. No fim do ano, é comum que haja falta d'água devido ao excesso de turistas.

Para não secar o reservatório, Francisco Lahòz, secretário executivo do Consórcio PCJ, que engloba as bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, defende a adoção de medidas de racionamento. "Fizemos uma lista com 25 recomendações [para a Sabesp], que faz desde o uso consciente de água até fazer a distribuição com caminhão pipa em caso de racionamento", disse.

Lahòz, no entanto, se diz otimista com relação à situação do reservatório Cantareira. "Se cada uma das 14 milhões de pessoas economizar três minutos de banho, é uma melhora bem grande para o reservatório."

Março terá chuvas

Desde dezembro de 2013, parte do sudeste vive uma situação climática excepcional, segundo meteorologistas. A formação de um bloqueio atmosférico nos últimos meses barrou a passagem das frentes frias no oceano, impedindo a formação de nuvens de chuva. O bloqueio já não existe mais, segundo o meteorologista Alexandre Nascimento, da Climatempo. 

A quantidade de chuva em março, segundo ele, deve até ser acima da média para o período. Isso não significa, porém, que será suficiente para recuperar os últimos três meses de seca, já que a população continuará consumindo água.

O MP (Ministério Público) também se preocupa com a questão. Segundo a promotora Alexandra Facciolli, do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Meio Ambiente), a Promotoria já havia pedido para que a capital poupasse água do Sistema Cantareira.

Atualmente, entram 10 metros cúbicos de água por segundo e saem 32 metros cúbicos – 28 para a Grande São Paulo e 4 para a Região Metropolitana de Campinas. "A situação é gravíssima. Precisamos reduzir o consumo para garantir a segurança do abastecimento das duas regiões", afirma a Alexandra.

A Sabesp, responsável pelo abastecimento de água no Estado, sustenta que não há risco de falta de água. A empresa informou que contratou uma empresa especializada no serviço de indução de chuvas localizadas por meio de aviões. 

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