Saiba o que (mais) atormenta as seleções no Mundial do Brasil
José Ricardo Leite e Rodrigo Mattos
Do UOL, em Florianópolis
As características de um país continental - viagens longas, logística complicada e mudanças de temperatura - são os maiores desafios na Copa do Mundo no Brasil, à frente de preocupações como a segurança. Essa é a opinião de técnicos de seleções ouvidos pelo UOL Esporte durante o congresso técnico da Fifa, primeiro evento da entidade no país após as delegações definirem suas bases. A maioria escolheu o Sudeste.
Houve até críticas à federação internacional por exigir uma base fixa para as seleções, o que aumenta os deslocamentos. Diante desses problemas, foi a logística que teve maior peso na decisão das delegações sobre qual centro de treinamento utilizar durante a competição.
"É mais difícil em todos os sentidos atuar em um país continental. Uns têm mais sorte e outros menos sorte (no sorteio). Pode ter um caminho mais fácil ou mais difícil. Escolhemos o Rio de Janeiro (como sede) porque tem uma temperatura entre as outras do país. E é mais fácil pegar voos para outras partes", explicou o técnico da Holanda, Louis Van Gaal. Seu time ficará hospedado em hotel na zona sul do Rio e treinará no campo do Flamengo.
Algumas das seleções escolheram a sua cidade base antes mesmo do sorteio do grupo, como foi o caso de Estados Unidos e Itália, que serão as duas seleções que mais sofrerão deslocamentos, com mais de 14.000 km percorridos cada uma.
Sediada no Estado do Rio, em Mangaratiba, a delegação italiana se preocupa com o desgaste a que serão submetidos os jogadores pelos deslocamentos. São Paulo, por exemplo, foi descartada por conta do trânsito ruim.
"Sabemos que as viagens aqui dentro do Brasil são muito longas", contou o chefe da delegação italiana, o ex-jogador Demetrio Albertini. "[Nossa intenção] é que os jogadores fiquem inteiros fisicamente. Temos uma boa equipe, a única preocupação é que possam se desgastar mentalmente e fisicamente."
Os Estados Unidos até tentaram, sem sucesso, dar um jeitinho e viajar diretamente de uma cidade para outra sem ter que voltar para sua sede, em São Paulo. Mas a Fifa rechaçou a possibilidade e fez valer a regra de voltar para a base cada vez que se joga.
Os americanos se deram muito mal com a escolha, pois farão três viagens ida e volta de São Paulo para o Norte e Nordeste, já que terão partidas em Natal, Manaus e Recife.
Para o treinador português Fernando Santos, que dirige a Grécia, não deveria haver uma base fixa para os times, como é obrigatório pelo padrão da Fifa. Ele disse que não adianta reclamar porque a entidade não vai aceitar mudanças no seu esquema de operação.
"Não é um país, é um continente. Teremos dificuldades. Queríamos ficar em Atibaia, mas teríamos que fazer viagens de cinco ou seis horas, o que é impossível. Por isso, ficaremos em Aracaju", afirmou Santos. "Se pudesse, queria sair de Natal e ir direto para Recife. Prejudica. Mas não adianta reclamar que a Fifa não vai ouvir", afirmou.
Conhecedor do Brasil, onde disputou a Copa das Confederações, o técnico uruguaio Oscar Tabárez também reclama do tamanho do país. Ele enfrentou problemas de logística em treinos durante a competição do meio de 2013. "Em um país tão grande como Brasil, sete vezes maior que a África do Sul, demoram muito os deslocamentos aéreos, são viagens longas", observou o uruguaio.
O Uruguai foi mais uma seleção que optou por um centro de treinamento no meio do país, ao escolher Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Já Portugal será uma das 15 seleções no Estado de São Paulo, também à procura de uma localização central com bom campo de futebol para treinamento. "Estamos satisfeitos com a parte do hotel e logística para o campo e para viagens. Fomos bem tratados", afirmou Paulo Bento, treinador de Portugal, que ficará em Campinas.
Os deslocamentos também são um problema interno da organização. O governo planejou, em 2011, uma série de melhorias para as 12 cidades-sede. Todas elas têm obras atrasadas nos aeroportos, segundo a última atualização do Portal da Transparência, no dia 31 de janeiro.
Apesar dos problemas, a Infraero afirma que todas as reformas estarão concluídas até junho, quando, segundo a Embratur, cerca de 600 mil turistas estrangeiros devem desembarcar no Brasil.
Na contramão das outras seleções, o treinador de Costa Rica, José Luis Pinto, tem uma visão diferente quando perguntado sobre qual o maior problema de uma Copa no Brasil.
Morador de São Paulo no passado, sua opinião é de que as questões sociais terão maior peso sobre o Mundial. "Os estádios vão terminar. O único problema que vejo para o Mundial é a questão social, que tem protesto e manifestações. O resto não tem problema, o povo brasileiro gosta de futebol", afirmou.