Klinsmann diz ter a fórmula ideal para Neymar superar a fama de "cai-cai"

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

Já campeão do mundo e com mais de 200 gols na carreira, o alemão Jurgen Klinsmann, então com 30 anos, chegou em 1994 ao Tottenham, da Inglaterra, sob desconfiança da torcida e, principalmente, da imprensa. A fama de "cai-cai" o levou a ser batizado de "diver" (mergulhador, em inglês) pelos tabloides locais. Tudo por causa de algumas quedas do atacante na semifinal contra a Inglaterra na Copa de 1990, vencida pelos alemães.

Esse tipo de resistência, principalmente na Inglaterra, lembra a sofrida por Neymar desde quando atuava no Brasil. O atacante já se acostumou com as vaias em partidas disputadas em campos britânicos. Sempre que jogou com a seleção brasileira no país foi alvo preferencial dos protestos da torcida local.

O alemão, atual técnico da seleção dos Estados Unidos, se livrou da pecha e do apelido de "mergulhador" com gols (21 em uma temporada) e humor. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Klinsmann indica a "fórmula" como ideal para Neymar vencer a resistência inglesa.

"Na minha coletiva de imprensa, na chegada ao Tottenham, eu disse para os repórteres que estava com um snorkel e equipamentos para mergulho. Perguntei se os jornalistas conheciam um bom lugar para ter aulas de mergulho. Eles amaram isso! É isso que eles gostam. Os ingleses querem rir e você tem que jogar com isso. No final do dia, você tem que provar que é um bom jogador. E Neymar é um ótimo jogador", afirma o técnico.

Nas últimas duas semanas, Klinsmann esteve no Brasil com a seleção dos Estados Unidos para uma temporada de treinamentos no CT do São Paulo. Entre elogios a Neymar e até mesmo a jogos em Manaus, o técnico disse que seu time não tem chances de vencer o Mundial e apontou o Brasil como um dos favoritos.

Confira a entrevista exclusiva com Jurgen Klinsmann:

UOL Esporte: Como é viver esse crescimento do futebol nos Estados Unidos? Quando vocês vão ganhar uma Copa do Mundo?

Jurgen Klinsmann: É muito empolgante viver esse momento do futebol nos Estados Unidos. Nós temos uma liga profissional, que está crescendo, ficando maior a cada ano. Temos milhares de jovens jogando futebol. Estamos melhorando. Temos muito para melhorar. Nós não iremos vencer a Copa do Mundo neste ano. Vamos tentar competir e ter bons resultados. Queremos surpreender. Estarmos aptos a vencer uma Copa do Mundo vai levar muito anos ainda. Melhores jogadores, melhores treinadores. O que empolga é que os americanos são muito ambiciosos. Estivemos em todas as Copas desde 1990. Na Concacaf somos os primeiros, à frente do México. Não iremos ganhar do Brasil, mas vamos tentar surpreender.

SE MEU FUSCA FALASSE...

  • Klinsmann viveu uma das melhores fases da carreira de jogador durante sua passagem pelo Monaco, da França, no início da década de 90. Principal estrela do time e milionário, o alemão circulava pelas ruas glamorosas do principado com um Fusca ano 1967. "Eu tive esse carro por muitos anos. Usei até estragar uma vez, quando eu fazia uma viagem de Londres a Munique. Ele quebrou no meio do caminho. Vendi por um preço bem barato para um amante de Fuscas", lembra o técnico. Em 2006, quando Klinsmann dirigia a seleção alemã, o veículo foi leiloado pelo então proprietário, que recebeu um lance de US$ 383,2 mil (R$ 929 mil).

UOL Esporte: Quem são os favoritos para a Copa?
Klinsmann: Brasil, Alemanha, Espanha. Tem fortes equipes da América do Sul também, como Argentina e Colômbia. Vai ser uma grande Copa.

UOL Esporte: Jogar em Manaus, pelo calor, é um problema para vocês?
Klinsmann:
Eu acho que temos que respeitar todo o lugar que vamos. É uma Copa no Brasil e Manaus é no Brasil! E está na Amazônia. Estamos empolgados de ir lá. Os dois times enfrentarão os mesmos problemas, como o clima. Estamos olhando para frente e vamos nos ajustar às circunstâncias. Não temos reclamações para fazer. 

UOL Esporte: Algum dia você chegou a pensar em jogar no Brasil?
Klinsmann: Sempre foi um sonho jogar no Brasil e contra o Brasil também. Mas nunca foi algo que me passou na cabeça. Como um europeu, nós sempre víamos os melhores [jogadores] do Brasil indo jogar na Europa. Então, tive a chance de jogar contra os melhores na Itália, na Inglaterra. Os melhores sempre estiveram lá. É onde você quer estar.

UOL Esporte: É verdade que na passagem pelo Bayern de Munique, você introduziu novas práticas com os jogadores, como ioga?
Klinsmann: Eu não pratico ioga, mas eu ofereço aulas de ioga para os meus jogadores. Porque eu acho que eles têm que experimentar o que pode ajudá-los. Pode ser ioga, pilates. Eu digo: experimente e veja se você gosta. No Bayern de Munique, Zé Roberto e Lúcio experimentaram e acho que eles gostaram.

CALOR DE MANAUS


Eu acho que temos que respeitar todo o lugar que vamos. É uma Copa no Brasil e Manaus é no Brasil! E está na Amazônia. Estamos empolgados de ir lá. Os dois times enfrentarão os mesmos problemas, como o clima. Não temos reclamações para fazer.

UOL Esporte: Você teve uma carreira de sucesso na Europa. O que você acha do Neymar? Ele pode ser o melhor do mundo?
Klinsmann: Eu acho que o Neymar é um dos grandes talentos no mundo atualmente. Ele tem muita atenção nele, assim como Cristiano Ronaldo e Messi. Ele é muito jovem e tomou a decisão certa de ir para o Barcelona e aprender como as coisas funcionam na Europa, que é diferente do Brasil. Acho que ele precisa de tempo, como todo o jogador. Tenham paciência para ele crescer. Ele tem potencial de estar nos próximos anos entre os três melhores do mundo.

UOL Esporte: Quando joga na Inglaterra, Neymar é sempre vaiado pelos torcedores, pelo seu estilo e porque interpretam que ele se joga demais no chão. Você sofreu com isso. Há algo que possa sugerir para ele?
Klinsmann: Na Inglaterra há uma mentalidade diferente. Em alguns momentos, eles lhe provocam, esperando que você reaja de uma maneira irônica. É um pouco desse humor inglês conhecido. O jeito é fazer piadas sobre essas provocações, trabalhar com humor. Neymar está na Espanha agora, mas ele vai aprender a lidar com isso. Quando os fãs assistirem a tudo de bom que ele faz no campo, gols, aí não vão se preocupar com isso, com uma situação de dúvida sobre pênalti, falta, o que for. Eles vão passar a admirar o Neymar. Ele não tem que se preocupar com isso. Os ingleses gostam de testar você. Eles dizem algo provocativo e se você se ofende, você perde. Então, nunca se ofenda! Após uma provocação ou uma pergunta crítica, o melhor é responder com humor. Eles adoram isso. Eles querem rir!

UOL Esporte: É verdade que você fez piada sobre o fato de ser chamado de "diver" (mergulhador) na sua apresentação no Tottenham, em Londres? 
Klinsmann: Na minha coletiva de imprensa, na chegada ao Tottenham, eu disse para os repórteres que estava com um snorkel e equipamentos para mergulho e perguntei se os jornalistas conheciam um bom lugar para ter aulas de mergulho. Eles amaram isso! É isso que eles gostam. No final do dia, você tem que provar que é um bom jogador. E Neymar é um ótimo jogador. Ele terá que provar que é o melhor e será provocado no campo, fora de campo e no momento certo ele vai aprender.
 

 

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