SP vai realocar um quarto das famílias vizinhas ao Itaquerão em junho

Tiago Dantas

Do UOL, em São Paulo

Cerca de um quarto das famílias que vivem na Comunidade da Vila da Paz, favela vizinha ao novo estádio do Corinthians, em Itaquera, zona leste da capital, devem ser enviadas a um conjunto habitacional no Jardim São Pedro, a cerca de 3 km da arena, a partir de junho. Inicialmente, a saída desses moradores era prevista para janeiro. 

A realocação de 101 das 377 famílias que atualmente vivem na comunidade será anunciada na manhã desta sexta-feira pelo prefeito Fernando Haddad (PT) – até a noite desta quinta, a agenda de Haddad confirmava a visita a Itaquera. Será a primeira vez que o prefeito visitará a favela.

As demais 276 famílias devem ficar mais tempo na comunidade, até que novos apartamentos do programa "Minha Casa, Minha Vida" sejam construídos. Um dos medos dos moradores era que a realização da Copa do Mundo no bairro provocasse uma remoção em massa, algo que, segundo a prefeitura, não vai acontecer.

Parte das demandas da comunidade, porém, não foi atendida. Os moradores argumentam que a prefeitura demorou muito para indicar o novo endereço das famílias e não deu atenção a um plano alternativo elaborado pela própria comunidade e que prevê, entre outras coisas, urbanizar parte da favela e de um terreno próximo.

"Onde estamos hoje o metrô é próximo, tem hospital, tem escola, as pessoas já estão acostumadas com aquele lugar. O lugar para onde seremos enviados é bem mais distante e não tem estacionamento. Muito morador precisa do carro para trabalhar", argumenta André Luiz Vicente, presidente da Associação dos Moradores da Vila da Paz.

O plano alternativo para a Comunidade da Paz foi elaborado no início de 2013 com o apoio do Comitê Popular da Copa, o Instituto Polis e a ONG Peabiru Trabalhos Comunitários. Entre outras coisas, previa que 155 casas fossem removidas da favelas e realocadas em um terreno vizinho, junto a empreendimentos comerciais.

"Entregamos o projeto no começo do ano passado, mas ninguém se manifestou. Esperava que pelo menos a prefeitura desse uma justificativa concreta explicando porque nosso projeto é inviável em vez de só nos enrolarem", disse Vicente. Técnicos da prefeitura, por sua vez, avaliam que demoraria muito mais tempo deslocar todos os moradores para outras unidades habitacionais, reurbanizar a favela e, depois, levar parte deles de volta para suas casas.

Dívida com construtora paga obra

O conjunto habitacional São Sebastião, para onde será enviada parte das famílias da favela da Paz, será erguido por uma construtora que tem dívidas com a Prefeitura, logo, não envolverá gastos públicos. Os prédios receberão moradores de outras favelas da região.

Os primeiros barracos da Vila da Paz foram construídos há 19 anos, entre o Rio Verde, a Avenida Miguel Ignácio Curi e a Rua Doutor Luís Aires. As casas que ficam à beira do rio são consideradas de alto risco de desabamento por deslizamento de terra e, por isso, seus moradores serão os primeiros a sair do local.

A favela entrou em evidência nos últimos anos, ainda na gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que pretendia criar um parque linear nas margens do rio, retirando a comunidade do local. Os moradores se articularam para evitar que a realização da Copa do Mundo no bairro apressasse a remoção da favela ou provocasse alguma política higienista.

A Comunidade da Paz é uma pequena amostra do problema habitacional da cidade de São Paulo. Em toda a capital, cerca de 890 mil famílias vivem de forma considerada precária (favelas, loteamentos irregulares, cortiços, áreas de risco). Estima-se que para zerar o déficit de habitação seria necessário construir 230 mil unidades. A gestão Fernando Haddad (PT) se comprometeu a entregar 55 mil domicílios até o fim de 2016.

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