Governo do AM ainda não sabe o que fazer com Arena da Amazônia após a Copa

Leandro Prazeres

Do UOL, em Manaus

A menos de seis meses da Copa do Mundo, o Governo do Amazonas ainda não sabe o que fará com a Arena da Amazônia depois que a competição acabar. A obra, orçada em R$ 605 milhões, deverá custar R$ 500 mil por mês em manutenção aos cofres públicos. Uma consultoria internacional foi contratada para analisar as possibilidades de exploração econômica da arena, mas os primeiros relatórios só deverão ficar prontos em Março de 2014, a pouco menos três meses do início da Copa.  

Desde o anúncio das cidades-sede da Copa de 2014, Manaus, Natal e Cuiabá têm sido alvos de ceticismo em relação ao destino de suas arenas. Alguns críticos afirmam que, dada a pouca expressão do futebol nessas cidades, as arenas correm o risco de se transformarem em "elefantes brancos". 

As obras da Arena da Amazônia começaram em 2010, mas foi apenas no final de 2012 que a Unidade Gestora do Projeto Copa (UGP Copa) solicitou à Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan) um estudo para analisar as opções disponíveis no mercado para viabilizar a arena economicamente.

Apesar de o pedido ter sido feito no final de 2012, a licitação para contratação da empresa que faria a análise só foi realizada em outubro de 2013. Os estudos, segundo a própria UGP Copa, sequer foram iniciados. A empresa contratada foi a Ernst Young ao custo estimado de R$ 1,05 milhão. 

O coordenador  da UGP Copa, Miguel Capobiango Neto, nega que a contratação do estudo tenha sido feita em cima da hora. Para ele, não faria sentido fazer análises sobre as possíveis alternativas de gestão da arena antes da Copa das Confederações deste ano. "Até 2011, tínhamos um cenário de arena no Brasil  que não era esse formato de Copa. Só passamos a ter arenas operando com a realidade brasileira, com formato FIFA, em junho de 2013 (com a Copa das Confederações). Não adiantava pensar em formato anterior", disse Capobiango.  

Para Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria (especializada em marketing esportivo), o estudo de viabilidade econômica para uma arena desse porte deveria ter sido feito com anos de antecedência e, preferencialmente, deveria ter sido produzido antes mesmo da construção da arena. "Se a decisão para construir o estádio fosse técnica, o estudo deveria ter sido feito antes da obra. Mas não foi o caso. A decisão pela construção da Arena da Amazônia foi política. Agora que a obra está em pé e a população está cobrando, eles fazem esses estudos para dar uma resposta ao povo", disse o consultor.   

Em entrevista, Capobiango admite que a decisão de construir a Arena da Amazônia foi política.  "Sem arena, não haveria Copa em Manaus. Ela foi construída com o foco de receber a Copa aqui. Ela não tem a intenção (de se remunerar)... porque ela não é uma PPP... ela não vai se remunerar. O foco dela é trazer a copa do mundo. E ela cumpriu com o objetivo de trazer a copa do mundo", disse o coordenador.  

Pelo menos três modelos de negócio estão sendo analisados por técnicos da Secretaria de Planejamento do Estado do Amazonas (Seplan) em relação ao futuro da Arena da Amazônia: concessão dos direitos de uso da arena, parceria público-privada e contratação de uma operadora de estádios.  

Para Fernando Ferreira, estádios como a Arena das Dunas (Natal), Arena Pantanal (Cuiabá), Estádio Nacional (Brasília) e Arena da Amazônia (Manaus) dificilmente serão lucrativos. "Para você ter lucro numa operação com essas, é preciso ter uma taxa de ocupação de 60% da arena com ela sendo utilizada pelo menos 30 ou 40 vezes ao ano. É uma realidade distante demais do que acontece nessas cidades. No Amazonas, por exemplo, a média do público no Campeonato Amazonense é de menos de mil espectadores por jogo. No máximo, eles irão encontrar uma solução para tirar a taxa de manutenção do estádio. Nada além disso", afirma o consultor.  

Mesmo sem ter os estudos da consultoria Ernst Young em mãos, Capobiango descarta a ideia de que o futebol amazonense possa manter, sozinho, os custos de manutenção da Arena da Amazônia. "Não é suficiente", admite o coordenador.  Em 2013, a média de público da primeira divisão do Campeonato Amazonense de Futebol foi de meros 770 pagantes por jogo. A persistirem esses dados, seria necessário o público de quase todas as 59 partidas do campeonato em 2013 para lotar os 44 mil lugares da Arena da Amazônia. 

Para o deputado estadual Marcelo Ramos (PSB-AM), um dos poucos parlamentares de oposição ao governador Omar Aziz (PSD), a demora na contratação do estudo para analisar as soluções econômicas para a Arena da Amazônia é uma irresponsabilidade. "Acho uma irresponsabilidade com os interesses do povo do Amazonas que terá que pagar com o suor do seu trabalho mais de 600 milhões de reais gastos naquela obra, através de empréstimos. E o governo não sabe o que fazer porque não tem o que fazer", dispara.  

Fernando Ferreira afirma que a maioria dos estudos de viabilidade econômica das arenas a que ele teve acesso até agora são bem elaborados, mas partem de premissas equivocadas. "Os estudos são muito bons. Não existe amador nesse negócio. O problema é que as premissas são equivocadas. Eles fazem a conta fechar na perspectiva mais otimista, nunca na mais conservadora. Num negócio como esses, o cenário mais conservador é o que tinha que ser levado em conta, não o contrário", diz. 

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