Operador de guindaste no Itaquerão nega falha humana em acidente
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo*
Considerada uma das principais testemunhas do acidente do Itaquerão, que causou a morte de duas pessoas na última quarta-feira, 27, o homem que operava o guindaste que carregava a peça da cobertura que caiu foi ouvido pela polícia nesta quarta-feira.
José Walter Joaquim, de 56 anos, garantiu aos investigadores que todo o procedimento para o içamento da peça foi feito dentro das regras e que tentou evitar a tragédia antes de ser orientado pelo seu supervisor a abandonar a máquina.
Joaquim foi o responsável por operar o mesmo guindaste na colocação das outras 37 peças que formam a cobertura do estádio corintiano, segundo o advogado da empresa Locar, dona do guindaste, Carlos Kauffmann.
Ao ser perguntado sobre como Joaquim notou que algo estava errado no processo, Kauffmann disse que o funcionário não deu "impressões subjetivas sobre a causa do acidente". "A descoberta da causa é puramente técnica. Só com os laudos saberemos isso."
"Os operários tomaram todos os cuidados devidos antes de começar a operação de içamento. Ele [Joaquim] é um funcionário experiente, que tinha operado essa mesma máquina para colocar todas as 37 peças da cobertura. Toda a operação é acompanhada por um supervisor, e eles se falam o tempo todo por rádio. Ele contou ter tentado evitar o acidente, por meio de manobras, mas não foi possível. E o supervisor pediu para ele sair da máquina", afirmou o advogado ao UOL Esporte.
O delegado Luiz Antonio da Cruz, do 65º DP (Artur Alvim), responsável pela investigação, disse que Joaquim negou que houvesse qualquer problema no solo onde a máquina estava apoiada, embora não tenha apontado uma possível causa para o desastre.
Ainda de acordo com o delegado, o operário contou que a operação de içamento das outras 37 peças da cobertura chegou a ser paralisada "três ou quatro vezes" por questões relacionadas à segurança, embora nenhum estivesse relacionado com o solo.
"Ele deixou bem claro que foi feita vistoria em todas as condições antes e o plano de operação do guindaste foi aprovado por todos os responsáveis. Até agora, todos os depoimentos que ouvi vão nesse sentido: de que os procedimentos foram seguidos como previsto", disse o delegado.
Ao longo do depoimento, Joaquim mostrou certificados que comprovam sua experiência como operador daquele tipo de guindaste. O operador da máquina foi a oitava pessoa ouvida pela Polícia Civil desde o dia do acidente.
Até terça-feira, o delegado Cruz pretende ouvir duas pessoas que trabalhavam com Joaquim na operação de içamento da peça e um engenheiro da obra. Após os depoimentos, o policial espera o resultado dos laudos técnicos e o relatório da caixa-preta do guindaste.
A construção do estádio foi retomada na segunda-feira, embora 5% de toda a obra - ou 30% da arquibancada leste - ainda esteja interditada pela Defesa Civil. Corinthians e Odebrecht ainda não informaram quando a arena ficará pronta.
* Atualizada às 15h43
ITAQUERÃO TINHA INAUGURAÇÃO PREVISTA PARA JANEIRO
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Com um custo estimado de R$ 1 bilhão, o Itaquerão tinha previsão de entrega para dezembro e inauguração para janeiro. O estádio estava com 94% das obras concluídas. O Itaquerão será sede da partida de abertura da Copa do Mundo. O Brasil fará o jogo inicial do torneio, contra adversário não definido. Para ser a abertura do torneio, o Itaquerão teve que aumentar a sua capacidade para 69.160 lugares apenas para a Copa do Mundo.