CBF vive clima eleitoral com espiões, piadas sobre Marin e fogo-amigo

Paulo Passos

Do UOL, em São Paulo

José Maria Marin, presidente da CBF
José Maria Marin, presidente da CBF

A eleição será apenas daqui a alguns meses, no primeiro semestre de 2014, e nenhum candidato em potencial assumiu-se como tal. Mesmo assim, o clima eleitoral na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para o pleito que definirá o sucessor de José Maria Marin como presidente da entidade já começa a esquentar.

Braço-direito de Marin, o vice da CBF e presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Marco Polo Del Nero é candidato certo. Quem diz isso é tanto quem o apoia como, principalmente, seus opositores. Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, Francisco Novelletto e Rubens Lopes Filho, mandatários das federações do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, respectivamente, tentam se posicionar como nomes da oposição.

Mas, mesmo que ainda velado, o clima eleitoral na CBF já acumula causos entre os cartolas: do dia em que Del Nero mandou espiões vigiar rivais ao aumento da "mesada" dada aos cartolas das federações estaduais, passando por disputas internas na oposição.

Espiões

Considerado um dos líderes da oposição a Del Nero, Francisco Novelletto aproveitou o amistoso da seleção brasileira contra a França, em junho, para tentar trazer outros cartolas para o seu lado. A convite do gaúcho, 10 presidentes de federações foram a Porto Alegre e a Gramado. Entre churrascos, vinhos e conversas, o pleito do próximo ano foi assunto debatido.

Críticas à atual gestão, ao rival Del Nero e uma discussão sobre um nome de oposição foram os temas. Dias depois, porém, os cartolas ficaram sabendo que tudo o que havia sido conversado foi repassado num relatório a Del Nero.

"Ficamos sabendo que tinham dois presidentes que foram para monitorar quem foi, quem estava e o que era discutido. Tudo foi passado", conta um dos cartolas, que pediu para não ser identificado.

"Fiquei indignado. Mandei um e-mail para o Del Nero reclamando. Ele me ligou dizendo que não teve isso. Sei que teve. Falei o que queria e pronto", disse o dirigente, que já decidiu em quem votará no pleito do ano que vem. Apesar da "indignação", ele afirma que seu voto será de Del Nero.

Medalha Marin

Aliado de primeira hora de José Maria Marin, um presidente de federação estadual deixou a festa da CBF, na última segunda-feira, para fumar na área externa do hotel Unique, em São Paulo. Sorridente, exibia no peito a medalha dada pela entidade. O presente foi entregue a todos os presidentes de federações e dos clubes da série A.


"Quando me chamaram para subir no palco, eu fui logo, correndo. Se fico por último, corro o risco de ficar sem medalha. Vai que o presidente coloca no bolso", contou rindo.
 

Em 2012, Marin foi flagrado colocando no bolso uma medalha que seria entregue a um dos jogadores campeões da Copa São Paulo. A Federação Paulista de Futebol, que organiza o torneio, informou na época que a peça era um presente ao atual presidente da CBF. Porém, o goleiro do Corinthians Matheus Vidotto, campeão, ficou sem medalha na cerimônia. Um dia depois, recebeu o prêmio.

Fogo-amigo

Nos bastidores da CBF calcula-se que o grupo de oposição a Del Nero e Marin conta hoje com o apoio de cinco federações. Para lançar uma chapa na eleição é preciso o apoio de oito presidentes de entidades estaduais. Na busca por apoios, Rubinho, como é conhecido o presidente da federação do Rio de Janeiro, Novelletto e Andrés Sanchez se movimentam e conversam com cartolas ainda indecisos.

O discurso do trio, porém, não parece coeso, segundo cartolas ouvidos pelo UOL Esporte.

"Uma pessoa enviada pelo Andrés disse que ele não confiava numa chapa com Novelletto ou o Rubinho de candidato", conta um presidente de federação. "O Novelletto contou para outros dirigentes que o Rubinho pode abandonar o barco e apoiar o Del Nero e o Andrés não é confiável porque defende os clubes", disse. "Tem muito fogo-amigo na oposição", completou.

Mesada mais gorda

Maioria no colégio eleitoral, com 27 dos 47 votos, as federações estaduais de futebol receberam um agrado do presidente da CBF. José Maria Marin reajustou em 100% o valor do repasse mensal dado às entidades nos últimos três meses de 2013. De R$ 50 mil, a mesada passou para R$ 100 mil.

"Todo ano tem um aumento nos últimos meses para ajudar a pagar décimo terceiro [salário] e impostos, mas dessa vez o extra foi bem maior. Ninguém falou ainda se esse valor vai se manter em R$ 100 mil. A gente espera que sim", opina um presidente de federação.

O reajuste às vésperas da eleição é criticado por opositores a Marin e Del Nero. "Porque só aumentaram agora? Isso é compra de votos", diz um cartola rival da dupla.

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