Brasil pode fazer gol contra com preços abusivos na Copa

AFP

Do Rio de Janeiro (RJ)

De olho no aumento do turismo e do seu prestígio internacional, o Brasil acreditava ter ganhado na loteria quando foi escolhido como sede das próximas Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

Mas num país que corre contra o tempo para melhorar sua infraestrutura, alguns analistas que estudam a alta dos preços alertam que a galinha dos ovos de ouro pode morrer antes de chocar.
 
"O Brasil vai dar um tiro no próprio pé se cobrar preços abusivos na hospedagem e no transporte dos torcedores", disse o professor alemão de economia Wolfgang Maennig, que estudou de perto o impacto na economia de países que foram sede de grandes eventos esportivos.
 
Maenning apontou para diversos hotéis brasileiros que chegam a cobrar para a Copa do Mundo do ano que vem até quatro vezes mais do que o normal, enquanto a empresa de marketing brasileira Mundi encontrou aumentos de até 1.000% no preço de passagens aéreas.
 
Esses abusos obrigaram a presidente Dilma Rousseff a criar em outubro uma Comissão de monitoramento dos preços de hotéis e passagens aéreas, Flávio Dino, presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), alertou, em entrevista à AFP: "Não podemos permitir que se difunda uma imagem de um governo brasileiro que não tomou iniciativa alguma para evitar estes abusos".
 
Exemplo da África do Sul Mas Maennig, professor da Universidade de Hamburgo, acredita que o Brasil pode estar caindo numa armadilha de preços.
 
"O Brasil corre o risco de repetir os mesmos erros da África do Sul (país-sede do Mundial de 2010), onde expectativas irreais elevaram os preços e uma comissão responsável agiu tarde demais", explicou.
 
O Brasil recebe 'apenas' 6 milhões de turistas estrangeiros por ano e está muito atrás do primeiro destino turístico do mundo, a França, que tem 80 milhões de visitantes.
 
"O problema é a fase pós-2016. O Brasil não pode ser visto como um destino caro. Se isso acontecer, pode prejudicar o turismo no país nas próximas décadas", avisou Flavio Dino.
 
Para Maenning, é impossível ter expectativa de grandes receitas com o turismo de torcedores vindos de países vizinhos como a Argentina, que podem simplesmente viajar para ver um jogo e voltar para casa no mesmo dia, fugindo dos preços abusivos exigidos pelos hotéis.
 
O professor alemão acredita também que muitos turistas que não se interessam por futebol evitarão o Brasil em junho de 2014, e a ausência desses visitantes deve significar um número bem menor do que o total de 600.000 esperados oficialmente.
 
"Até na Alemanha, em 2006, foram apenas cerca de 100.000 visitantes que passaram uma noite no país", lembrou Maenning, alertando para o perigo de se ver o futebol como uma maneira de promover o crescimento econômico.
 
Aeroportos congestionados, transporte de má qualidade e as grandes distâncias entre as cidades-sede são alguns dos maiores desafios.
 
 
Torcedores europeus preocupados A imprensa vem sendo inundada há semanas com relatos de preços de passagens nacionais acima dos cobrados por viagens para Paris, Nova York e até o Caribe.
 
Um recente estudo da Embratur aponta o Rio de Janeiro como a terceira cidade mais cara do mundo em preços de hotéis, com o custo médio de uma diária saindo a $246,71, contra $245,82 em Nova York e $196,17 em Paris.
 
Uma Copa do Mundo no Brasil pode ter um valor sentimental para os amantes do futebol, mas os preços abusivos já afastaram alguns visitantes. Uma delegação do parlamento europeu cancelou a viagem para participar da Rio+20 do ano passado em protesto contra o preço das diárias do hotel, que eram de 800 dólares.
 
Cerca de 20.000 estrangeiros compareceram em junho deste ano à Copa das Confederações, que sofreu com manifestações maciças nas ruas das grandes cidades do país contra os gastos de $30 bilhões com as organizações da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos de 2016.
 
Apesar de 100.000 torcedores ingleses já terem mostrado interesse em comprar ingressos para a Copa de 2014, Mark Perryman, da associação de torcedores LondonEnglandFans, acredita que muitos vão mudar de ideia quando calcularem o tamanho do prejuízo.
 
"Os organizadores precisam ter uma conversa com os hoteleiros porque a impressão que dá, certa ou errada, é de que os preços estão subindo muito", disse Perryman ao jornal inglês Daily Telegraph.
 
A agência MATCH, que cuida da hospedagem para a Fifa, já comprou pacotes em hotéis para os clientes, mas um porta-voz explicou à AFP que "grande parte dos nossos esforços no Brasil foram usados para garantir preços justos e termos razoáveis dos nossos hotéis parceiros".
 
Apesar da MATCH afirmar que este objetivo foi em grande parte alcançado, "isto não faz do Brasil o destino turístico mais acessível, longe disto", concluiu a agência.

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