Bom Senso gera clima de tensão e faz sombra política em jogo da seleção
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Miami (EUA)
A paralisação do Campeonato Brasileiro, na última quarta, criou um clima de tensão política em torno do amistoso da seleção contra Honduras, neste sábado, em Miami. Em um jogo que deveria ser de festa para a cartolagem, os dirigentes estão pressionados pelo Bom Senso FC, e até os jogadores mostram sinais de agitação com o tema.
A tensão está presente no ambiente da seleção desde que os jogadores do futebol nacional cruzaram os braços por um minuto. A CBF, quando questionada, tem adotado o silêncio como resposta sobre o Bom Senso, que aumentou o tom em direção à entidade por entender que não está recebendo a devida atenção.
Em nota oficial, de forma lacônica, a CBF limitou-se a dizer que segue em busca da "razoabilidade". Questionado, o presidente José Maria Marin permaneceu calado na única oportunidade em que encontrou os jornalistas.
O cartola sabe que o desenrolar do movimento pode afetar a eleição da CBF, no ano que vem, e por isso age com cautela. Em teoria, o amistoso em Miami serviria como uma oportunidade ideal para que ele agisse politicamente.
Em um destino atraente, com um clima teoricamente tranquilo, Marin convidou os presidentes de quatro federações estaduais, com tudo pago, a Miami. A cidade onde está radicado Ricardo Teixeira também serviu para que o mandatário estreitasse laços com amigos de seu antecessor, que visitaram o hotel da seleção - Teixeira saiu da cidade para evitar qualquer assédio.
Só que o clima de protesto no Brasil afetou até o ambiente da seleção. Na última quinta, Edu Dracena disse à rádio ESPN que Paulo André procuraria Thiago Silva para pedir apoio ao Bom Senso na seleção. Na saída do último treino da seleção, na sexta-feira, o zagueiro demonstrou certo incômodo com o tema.
"Estou fora disso daí", disse o capitão brasileiro. Além dele, Neymar, David Luiz e Dante também negaram qualquer contato do Bom Senso. Hoje, os representantes do grupo na seleção são Victor e Jô, que, assim como a grande maioria dos jogadores do país, assinaraam o manifesto.
Na visão dos líderes do movimento, os astros da seleção estão cientes das bandeiras levantadas, e a adesão é o "caminho natural". Até agora, porém, tem pesado mais a proximidade da CBF e o temor de uma possível represália a poucos meses da Copa do Mundo. Felipão não é contrário à reivindicação, mas também está longe de ser um entusiasta.
Na última sexta, ele também preferiu se calar quando perguntado sobre o Bom Senso, e disse que já havia se posicionado sobre o tema anteriormente. Segundo a CBF, não há qualquer orientação sobre o tema para os jogadores, que não devem fazer qualquer tipo de protesto neste sábado, contra Honduras. A partida ocorrerá no estádio Sunlife, em Miami, às 22h30 (horário de Brasília), e terá acompanhamento ao vivo do Placar UOL Esporte.