Herói improvável, Ribéry vira protagonista e tenta colocar França na Copa
Do UOL, em São Paulo
O francês Franck Ribéry está acostumado a ter de superar a primeira impressão. Vítima de um acidente automobilístico quando tinha dois anos, o jogador de futebol carrega cicatrizes no rosto até hoje e sempre foi uma espécie de anti-herói. Até este ano, o visual e as polêmicas fora de campo dividiam espaço com o grande desempenho. Em 2013, porém, o rendimento do meia-atacante tem sobrepujado qualquer outra análise. Decisivo no Bayern de Munique e na seleção francesa, ele ganhou de vez o status de protagonista em âmbito mundial.
Ribéry, 30, é a principal aposta da França para a repescagem europeia da Copa do Mundo de 2014. Os gauleses farão mata-mata com a Ucrânia por uma vaga no certame, e o primeiro duelo será realizado nesta sexta-feira, às 17h45, na Ucrânia.
Na quinta, o jornal francês "L'Equipe" publicou uma entrevista com Ribéry. O texto exemplifica um pouco o momento vivido pelo francês, que foi eleito pela Uefa em agosto deste ano o melhor jogador da Europa na temporada 2012/2013.
"Antes eu era bom, mas agora eu sou melhor", disse Ribéry em um dos trechos da entrevista. Em outro excerto, o francês revelou que já até separou um lugar em casa para a Bola de Ouro, prêmio que a Fifa destina ao melhor jogador do planeta: "Perto da lareira, na sala de estar. Minha esposa preparou tudo".
A autoconfiança parece natural para um jogador que defende a seleção francesa desde 2006 e que tem sido destaque do Bayern de Munique desde o ano seguinte, quando os bávaros desembolsaram 30 milhões de euros para tirá-lo do Olympique de Marselha.
No entanto, o Ribéry protagonista é uma novidade. Oriundo de Boulogne-sur-Mer, o francês começou a jogar futebol aos seis anos de idade. Ele chegou a ser selecionado para as categorias de base do Lille, mas a primeira impressão não foi nada positiva: por causa do mau rendimento na escola, o meia-atacante foi dispensado após quatro anos na equipe.
Ribéry conseguiu mais uma chance em 2001, quando ingressou no Boulogne. Aí, superou a primeira impressão e começou a se destacar. Ele passou por Olympique Alès, Brest e Metz, time em que o meia-atacante debutou na elite do futebol francês.
No Metz, Ribéry ganhou o apelido de "Fera". Não apenas pelo desempenho em campo, mas pelo visual.
O francês ainda teve uma passagem rápida pelo Galatasaray até chegar, em 2005, ao Olympique de Marselha. Foi ali que Ribéry conseguiu superar a primeira impressão de não construir carreira em nenhuma equipe.
O desempenho no Olympique de Marselha levou Ribéry à Copa do Mundo de 2006. Ele participou de todos os jogos da campanha da França, que foi vice-campeã, mas era coadjuvante em um time liderado por Zinedine Zidane.
Depois da aposentadoria de Zidane, Ribéry era o maior candidato a liderar a França. Em 2008, porém, ele sofreu uma lesão no tornozelo e não conseguiu ajudar a seleção a ir além da fase de grupos na Eurocopa.
A França também foi eliminada na fase de grupos da Copa do Mundo de 2010. Nesse caso, com um agravante: os jogadores organizaram uma revolta contra o técnico Raymond Domenech.
Em 2012, Domenech publicou uma biografia e disse que a campanha ruim da França na Copa do Mundo tem dois grandes responsáveis: Nicolas Anelka e Franck Ribéry.
Um ano depois, a versão do técnico parece uma realidade distante. Ribéry, que chegou a ter problemas públicos com outros atletas no Bayern de Munique, virou líder no clube e na seleção.
Foi Ribéry um dos principais destaques do Bayern de Munique que venceu a Copa da Alemanha, o Campeonato Alemão e a Liga dos Campeões da Uefa na temporada 2012/2013.
"O Mundial de 2010 foi muito difícil para nós, mas agora temos uma chance de nos redimir. Seria uma catástrofe para todos os franceses se não conseguíssemos a vaga para 2014", declarou o jogador.
Em julho, a Nike fez uma ação de marketing curiosa com Ribéry na Alemanha. O jogador ficou na vitrine de uma loja da marca, estático, como se fosse um manequim. Quando as pessoas paravam perto, ele se movia e dava sustos no público.
Ribéry pode ainda não ter se transformado em um garoto-propaganda convencional, mas o grande desempenho serviu para transformar até o visual em diferencial para o francês.
Após 116 anos, a França tem novamente um herói como Cyrano de Bergerac, escritor que foi retratado como protagonista da peça homônima. O texto de Edmond Rostand conta a história de um homem que brigava pelo amor da prima, que gostava de ser cortejada.
Cyrano era feio e disputava o amor da jovem com Cristiano, que era bonito e não tinha uma oratória tão eficiente. A aposta do escritor foi a assertividade.
Desde o lançamento, em 1897, a peça foi um enorme sucesso na França. Como Cyrano, Ribéry não precisa de discursos ou de apresentações visuais para convencer o país. Novamente, os gauleses apostam em alguém que é mais marcado pelo que cria do que pela aparência.