Jogo de alto risco no Egito e inédito domínio negro marcam decisão africana
Do UOL, em São Paulo
-
REUTERS/Amr Abdallah Dalsh
Torcedores do Al Ahly protestam nas ruas do Egito após condenação de envolvidos em massacre de 2012
Depois de 144 partidas e 42 países frustrados, as eliminatórias da África terão definidos nos próximos dias os cinco representantes para a Copa de 2014 no Brasil. De sábado até a terça-feira, os confrontos decidem o pelotão de classificados, em cenário que aponta para uma supremacia das nações negras contra os países árabes, que podem "zerar" pela primeira vez.
Um dos destaques entre os cinco embates é o jogo de alto risco entre Egito e Gana no Cairo. Esportivamente, a partida já não sugere tanto interesse, em razão da goleada ganense por 6 a 1 na partida de ida. No entanto, os contornos extracampo tornam o compromisso um evento de apreensão especial por parte da Fifa.
Dirigentes da federação de Gana se reuniram com representantes da Fifa na última segunda-feira para debater as condições de segurança do jogo no Egito. Antes da conversa, os ganenses já tinham tido dois pedidos negados de levar o confronto para um campo neutro, basicamente em razão da instabilidade política e animosidade das ruas em território egípcio.
Na última semana, a polícia local teve trabalho para conter distúrbios na festa da torcida do Al Ahly após a decisão do campeonato africano de clubes. O episódio remeteu à memória de 2012, quando mais de 70 pessoas morreram em Port Said em um confronto de torcidas, que também teve conotações políticas como pano de fundo.
No clima de expectativa para o jogo, o noticiário de futebol do Egito já se misturou com o de política. Nos últimos dias o atacante do Al Ahly Ahmed Abdul Zaher foi suspenso por ter manifestado apoio ao presidente deposto Mohammed Morsi durante uma partida.
Primeiro presidente eleito democraticamente no Egito, Morsi atualmente enfrenta julgamento com a acusação de incitar o assassinato de manifestantes durante confrontos na capital em 2012. O político foi deposto em julho passado.
ÁFRICA NEGRA LEVANDO A MELHOR CONTRA A ÁFRICA ÁRABE
As seleções da África árabe vivem situação delicada na rodada de desfecho das eliminatórias. Pela primeira vez desde que o continente passou a ter mais de uma vaga em Copas as representantes das nações negras podem ocupar todas as vagas de classificados.
Os árabes da África sempre estiveram em Copas desde 1978, em nove edições consecutivas. Em 1986, por exemplo, ocuparam as duas vagas do continente, com Marrocos e Argélia. Agora lutam com três representantes para reverter a vantagem das nações negras nos jogos de ida do mata-mata final.
ELIMINATÓRIAS AFRICANAS
SÁBADO, 16 DE NOVEMBRO |
13h00 - Nigéria x Etiópia (2 a 1 Nigéria na ida) 17h00 - Senegal x Costa do Marfim (3 a 1 Costa do Marfim na ida) |
DOMINGO, 17 DE NOVEMBRO |
12h30 - Camarões x Tunísia (empate por 0 a 0 na ida) |
TERÇA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO |
14h00 - Egito x Gana (6 a 1 Gana na ida) 16h15 - Argélia x Burkina Fasso (3 a 2 Burkina Fasso na ida) |
As equipes árabes do continente ganharam quatro das últimas seis edições da Copa Africana de Nações. Em âmbito de clubes, são sete taças nos últimos dez campeonatos. Nesta galeria de conquistas, o principal destaque é o futebol do Egito, que só irá ao Brasil se conseguir um resultado milagroso contra Gana.
Após deixar o Mundial de 2010 com o rótulo de sensação africana, eliminada nas quartas de final num eletrizante duelo com o Uruguai, Gana está muito perto de voltar ao torneio da Fifa. O time de Asamoah Gyan joga no Egito na próxima terça-feira com a confortável vantagem de 6 a 1 construída na partida de ida.
Também na terça, Burkina Fasso pode ingressar para o rol de países que estreiam em Copas. Depois de bater a Argélia por 3 a 2 em casa, o time defende a vantagem como visitante.
O placar de 0 a 0 na ida sugere Camarões x Tunísia como o confronto mais equilibrado no desfecho das eliminatórias africanas. Mas os "leões indomáveis" fecham o duelo em casa, neste domingo, e jogam por uma vitória simples contra os árabes.
Nos embates exclusivos da África negra, a Nigéria, outra figurinha carimbada de Copas, bateu a Etiópia por 2 a 1 fora de casa. Agora, em seus domínios, neste sábado, deve apenas confirmar o favoritismo.
A expectativa é de que Costa do Marfim também confirme a classificação contra Senegal. A seleção do já veterano goleador Didier Drogba, adversária do Brasil em 2010, venceu o jogo de ida em casa por 3 a 1.
ENTRE OS MAIS POBRES DO MUNDO, BURKINA FASSO É SURPRESA
Um relatório recente publicado pelo Índice de Pobreza Multidimensional, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, colocou Burkina Fasso entre os dez países mais pobres do planeta. Mas mesmo com uma realidade social dramática, a pequena nação do oeste da África pode ser a surpresa na festa global da Fifa em 2014.
Burkina Fasso joga por um empate contra a Argélia fora de casa para se juntar à Bósnia como países estreantes em Copas do Mundo. O time não tem grandes destaques individuais, mas leva ao duelo de Blida o retrospecto de ser o atual vice-campeão do continente [perdeu a final da última Copa Africana de Nações para a Nigéria].
O líder do sonho burquinense é o técnico belga Paul Put, que já foi banido por três anos do futebol de seu país por envolvimento em escândalos de resultados arranjados.
QUEM ESTÁ NO PÁREO
País | Ranking da Fifa | Índice de Desenvolvimento Humano (2013) |
Costa do Marfim | 17º | 168º |
Gana | 23º | 135º |
Argélia | 32º | 93º |
Nigéria | 33º | 150º |
Tunísia | 47º | 94º |
Egito | 51º | 112º |
Burkina Fasso | 52º | 183º |
Camarões | 59º | 153º |
Senegal | 64º | 154º |
Etiópia | 95º | 173º |
AMANTE DOS ELEFANTES, TOURÉ É ÚNICO AFRICANO ENTRE MELHORES
Por muitos anos Drogba, Essien e Eto'o seguraram a bandeira africana entre os pré-finalistas do prêmio da Fifa de melhor do ano. Em 2013, na relação de 23 jogadores anunciados pela entidade, o continente será representado apenas por Yaya Touré.
O marfinense do Manchester City tem chances improváveis de figurar entre os cinco finalistas na festa da Fifa, mas já desfruta da companhia de Messi e Neymar na pré-lista como um prêmio simbólico. Além do bom futebol, Touré teve a temporada marcada pela polêmica do racismo. Após sofrer ofensas da torcida do CSKA em um jogo na Rússia, o meio-campista falou em boicote à Copa de 2018 no país em questão.
De quebra, o melhor jogador africano da atualidade recentemente se engajou na defesa dos elefantes, ameaçados de extinção no continente.