Cidade natal de Diego Costa se prepara para 'febre espanhola' na Copa

Renan Rodrigues

Do UOL, no Rio de Janeiro

O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, diz que Diego Costa virou as costas para o sonho de milhões de brasileiros. Mas para os cerca de 100 mil habitantes de Lagarto, no agreste sergipano, o atacante segue com status de ídolo mesmo depois de escolher jogar pela seleção espanhola. Ao menos este é o sentimento dos amigos e da família do jogador do Atlético de Madri.

A cidade, 76 quilômetros distante da capital Aracaju, já foi palco de carreata e show de fogos de artifício quando Diego foi convocado por Felipão para amistosos contra Itália e Rússia. Agora, apesar da tristeza de alguns conterrâneos, começa a se preparar para também torcer pela 'Fúria' no próximo Mundial.

"As pessoas dizem na rua que torcerão pelo Brasil e pela Espanha na Copa. Disseram até que criarão uma camisa com metade das cores de cada seleção. Muita gente conhece o Diego desde pequeno, sabem que ele ama o país, mas que as chances não estavam aparecendo", declarou Jair Costa, irmão do atacante, ao UOL Esporte.

Os bares e restaurantes da região também querem aproveitar a atenção que o caso despertou para lucrarem. A intenção é de que o movimento nos dias de jogos da Espanha seja similar ao do Brasil, com a 'Roja' sendo adotada pelos lagartenses.

"Vamos torcer primeiro pela seleção brasileira, mas também pelo Diego e pela Espanha. Se as duas seleções se cruzarem o coração ficará dividido, mas acho que todos vão querer que ele faça gols e o Brasil vença no final. A ideia é colocar camisas da Espanha, fotos dele e atrair o movimento", disse Emanoel de Oliveira Neto, gerente da Choperia Memorial, que colocará telões durante o torneio da Fifa.

Diego deixou Lagarto aos 16 anos para realizar dois sonhos - o próprio e o do pai José de Jesus Costa, que tentou se profissionalizar no futebol sem sucesso. Com escala em São Paulo e Portugal, encontrou na Espanha a recompensa financeira e o sucesso profissional. Agora, a família acredita que ele também terá o reconhecimento nacional.

"A gente vai torcer pelo Diego, claro. Por ele e pela Espanha. Somos brasileiros, mas a torcida será pelo nosso filho. Foi a decisão correta. O Felipão não o convocou para os últimos amistosos, depois da Copa das Confederações. A opção é do treinador, mas acabaram deixando de lado, sempre como última opção. Quando a CBF viu que poderia jogar por outro país, tentaram impedir", disse Josileide Silva, mãe de Diego.

Fama de 'esquentadinho'

Antes de escolher entre as seleções brasileira e espanhola, Diego era disputado nas peladas do colégio Cenecista Laudelino. A fama de habilidoso e goleador era seguida de perto pelo rótulo de 'esquentadinho' dentro dos campos.

"Eu estudava no Silvio Romero, colégio vizinho, e quando sabia que ele iria jogar, era derrota certa. Tinha muita habilidade, além de ser alto e forte para a idade. Apesar de ser tranquilo fora de campo, odiava perder e era 'brigão' quando estava jogando. Mas depois voltava a ser aquele cara simpático, humilde", disse Laudelino Viana do Nascimento, amigo do atacante.

Outra história famosa em Lagarto diz respeito ao irmão de Diego Costa, que também chegou a atuar em clubes na base, mas desistiu do sonho de se profissionalizar.

"Dizem que eu era bom de bola e quase me profissionalizei. Mas no futebol não tem essa de 'era' e de 'quase'. Além da qualidade, é preciso ter dedicação. E o Diego teve coragem, teve mais vontade e foi morar em outro estado antes dos 18 anos. Fazia minhas jogadas de habilidade, mas ele é o craque da família", disse Jair Costa.

Ameaça de cidadania cassada

Diretor jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes afirmou à edição de quarta-feira do jornal "O Globo" que a decisão do jogador  em optar pela Espanha foi motivada por dinheiro, informação veementemente negada pela família de Diego Costa. Além disso, Carlos Eugênio Lopes afirmou que a entidade pedirá ao governo que o atacante tenha a cidadania brasileira 'cassada'. A ameaça não assusta a família do jogador.

"Eu acredito que não chegue a esse ponto. Ele nunca falou mal do Brasil ou prejudicou alguém. É injusto. Falei com ele ontem de noite [terça-feira] e ele está feliz. Andava triste por ter poucas chances com a seleção brasileira, mas está feliz com a escolha. A gente procurou ouvir, respeitar e apoiar", disse a mãe do jogador.

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