De olho no cofre

Em obra desde 1997, metrô de Salvador começará a circular 2 meses após Copa

Marcelo Barreto

Do UOL, em Salvador*

  • Divulgação/Secom BA

    Diretor da CCR, contratada para gerenciar metrô da cidade, confirmou que obras terminam em janeiro

    Diretor da CCR, contratada para gerenciar metrô da cidade, confirmou que obras terminam em janeiro

O metrô de Salvador não ficará pronto até a Copa do Mundo. O anúncio foi feito nesta terça-feira (15), em evento na capital baiana, por Harald Peter Zwetkoff, diretor-presidente da concessionária CCR Metrô Bahia, empresa que venceu a licitação para operar o sistema.

De acordo com Zwetkoff, a previsão para o início da operação comercial do primeiro trecho da Linha 1 do metrô, entre Lapa e Retiro, é setembro de 2014, dois meses após o Mundial. No evento, Zwetkoff disse que a conclusão do empreendimento está prevista para janeiro de 2015. O dado refere-se somente à Linha 1. Mais tarde, o Grupo CCR informou que a obra inteira, que também prevê a Linha 2, só estará pronta em abril de 2017.

As duas linhas serão inauguradas aos poucos. Até setembro, será entregue o trecho da Linha 1 entre Lapa-Retiro. Em janeiro de 2015, segundo a concessionária, entrará em funcionamento a ligação da Lapa a Pirajá, completando o primeiro ramal. O cronograma prevê mais cinco fases, que serão inauguradas entre 2015 e 2017. O empreendimento inteiro, com as duas linhas e todas as estações, tem prazo de entrega para abril de 2017, quando deve funcionar o trecho Lapa–Aeroporto/Lauro de Freitas.

Os primeiros trabalhos para a construção do metrô na capital da Bahia começaram em 1997. Mais de R$ 1 bilhão já foi gasto com a iniciativa.

Zwetkoff disse que em junho, data do Mundial da Fifa, os trens ainda estarão operando em fase de testes com sacos de areia, ao contrário do que prometeu o secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa, em maio de 2012. No fim de 2012, a obra acabou sendo excluída da Matriz de Responsabilidades da Copa.

Durante cerimônia realizada em um hotel da capital, na tarde desta terça, a presidente Dilma Rousseff assinou o contrato que autoriza a retomada das obras e construção de novas vias do metrô de Salvador e Lauro de Freitas, na região metropolitana.

Ao lado do governador Jaques Wagner, Dilma firmou a PPP (Parceria Público Privada) entre os governos federal, estadual e o Grupo CCR, única empresa a fazer uma oferta, de R$ 127,6 milhões, para participar da licitação.

Do montante total a ser investido no projeto, R$ 3,9 bilhões, o governo federal vai arcar com R$ 1,3 bilhão, por meio do PAC 2 da mobilidade. O governo estadual entrará com R$ 1 bilhão e a CCR com os restantes R$ 1,6 bilhão através de financiamentos.

O orçamento prevê a conclusão da Linha 1 e da implementação início da Linha 2 do metrô de Salvador e Lauro de Freitas, totalizando 33,4 km de linhas e 19 estações.

A presidente da República anunciou novos investimentos dentro do PAC 2 da mobilidade na capital, a exemplo do BRT Lapa-Iguatemi, parceria entre governo federal e a prefeitura de Salvador, que terá um trajeto de 3 km e custará 600 milhões para os cofres da União e outros financiamentos.

Outra novidade é a implementação do VLT metropolitano ligando o bairro de Águas Claras a Paripe, em parceria com o governo estadual. Ambos os projetos ainda não têm previsão para sair do papel.

"Devemos jogar no lixo essa discussão sobre o metrô ser um transporte de rico ou de pobre. O soteropolitano precisa e merece poupar tempo e dinheiro", ressaltou a presidente.

A aposta do governo em um maior volume de inaugurações e assinaturas de contratos para obras de mobilidade urbana tem sido encarada pelos especialistas como uma clara resposta às manifestações de junho que ocorreram em todo o País.

O governador Jaques Wagner lembrou do nascimento da ideia que originou o projeto em 1985, ainda na gestão do prefeito Mário Kertész, e disse que faltou espírito público e boa vontade das gestões anteriores para tocar as obras. "Para muitos o metrô é uma piada, mas a mobilidade urbana de Salvador vai finalmente entrar nos trilhos", destacou.

Procuradoria investiga contrato

A obra nem começou e já está sob suspeita de irregularidades. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) detectou exigências ilegais na minuta do edital de licitação que podem ter reduzido a competitividade. A Procuradoria abriu inquérito.

O TCE encontrou duas exigências que não podem ser feitas em conjunto: estipular valor mínimo de patrimônio líquido e valor de garantia da proposta (espécie de caução). A licitação teve só um concorrente, que foi o vencedor: a CPC, do grupo CCR, composto por Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Soares Penido.

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Siemens construíram o primeiro trecho do metrô, obra que começou em 1997, foi paralisada, retomada em 2000 e já consumiu R$ 1 bilhão.

Em 2012, o TCU apontou superfaturamento de R$ 166 milhões na obra (R$ 400 milhões em valores corrigidos).

O governo da Bahia afirmou que não recebeu o relatório do TCE e que, caso isso ocorra, irá se pronunciar. O grupo CCR afirmou que não iria comentar o caso.

* Atualizado às 20h23

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