Cabral muda de novo projeto do Maracanã e deixa privatização "em suspenso"
Vinicius Konchinski*
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Júlio César Guimarães/UOL
Pista de atletismo do Célio de Barros dá lugar a caminhões e material da reforma do Maracanã
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anunciou nesta sexta-feira mais uma mudança no projeto de privatização do Maracanã. O Estádio de Atletismo Célio de Barros, que seria demolido para dar lugar a um estacionamento, será mantido na área do complexo esportivo. Essa é a segunda alteração no plano de concessão do estádio confirmada nesta semana. Por causa delas, segundo Cabral, é possível que a privatização do Maracanã seja totalmente anulada.
"Daremos 20 dias para o consórcio [responsável pela administração do estádio] estudar as mudanças. Hoje, [o futuro da concessão] está em suspenso", afirmou Cabral.
Na segunda-feira, o próprio governador já havia informado que o Parque Aquático Julio Delamare não seria mais demolido. Nesta manhã, após reunião com Farj (Federação de Atletismo do Estado do Rio de Janeiro) e a Complexo Maracanã Entretenimento SA, o cancelamento da derrubada do Célio de Barros também foi confirmado.
Os dois equipamentos dariam espaço a lojas, museus e outras estruturas que seriam construídas pela Complexo Maracanã. A concessionária exploraria os novos espaços e ganharia dinheiro com eles. Com a mudança, não há garantia de que o Maracanã é rentável.
O governo deu 20 dias para a Complexo Maracanã se pronunciar sobre o assunto. Caso a empresa queira, o Maracanã pode ser devolvido ao Estado.
"Com a informação que o governo está nos dando agora, nós evidentemente temos que voltar ao nosso plano de negócio . Vamos verificar para ver se é possível, somente com as receitas do estádio, mostrar resultados que prevíamos", afirmou João Borba, após a reunião com Cabral. "Os acionistas é que vão decidir. Não tenho a menor ideia do que vai acontecer."
Antes de as demolições do Julio Delamare e do Célio de Barros serem canceladas, Borba já havia dito que não esperava administrar o Maracanã sem os estacionamentos e lojas projetados. A construção desses espaços, inclusive, estava na lista de obras obrigatórias do edital de concessão do Maracanã.
O governador Cabral afirmou que, por causa do edital, até questões jurídicas podem comprometer a concessão do estádio. Como a concorrência do Maracanã foi feita de uma forma, é preciso avaliar se ela ainda é válida após as mudanças. "Não é só a questão econômica-financeira. Temos que ver a questão jurídica também."
Célio de Barros e Julio Delamare
Na entrevista coletiva, Cabral afirmou que o cancelamento da derrubada do estádio de atletismo e do parque aquático foram motivadas por solicitações de atletas, federações, Justiça e Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Após defender por meses a demolição dos espaços, Cabral disse que seu governo não vai se opor a uma decisão judicial nem a um clamor da sociedade. "Isso é do jogo democrático. Graças a deus estamos numa democracia", complementou.
Segundo ele, os dois equipamentos esportivos continuarão sendo administrados pelo Estado. No caso do Julio Delamare, a reabertura para população deve ocorrer em breve, disse Cabral. Já o Celio de Barros deve demorar cerca de oito meses para voltar a receber atletas por causa de obras.
O presidente da Farj, Carlos Lancetta, informou que cerca de R$ 10 milhões terão de ser investidos para a recuperação da pista do espaço, destruída para que veículos pudessem usar o local como estacionamento da Copa das Confederações. Cabral afirmou também que a arquibancada do estádio terá sua estrutura reformada devido a problemas estruturais.
O governador ainda defendeu o modelo de privatização do Maracanã adotado por sua gestão. Para ele, tudo o que havia sido proposta para o complexo deixaria uma legado imenso para a população. Cabral não quis falar sobre o que será feito do Maracanã caso sua concessão seja anulada. "Não vamos falar sobre hipótese."
Confira o comunicado divulgado pelo Consórcio Maracanã no final da tarde:
"A concessionária Complexo Maracanã Entretenimento S.A, após a decisão do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o poder concedente, de manter o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare, já está analisando o novo cenário.
Conforme acordado com o poder concedente, em 20 dias, apresentará alternativa para viabilização e continuidade da concessão, assegurando que os equipamentos do Complexo Maracanã possam ter garantidos os investimentos para a manutenção e modernização permanente. A concessionária mantém ainda o compromisso de aprimorar sua operação para oferecer segurança e conforto aos torcedores e visitantes desses importantes patrimônios públicos do Rio de Janeiro.
A concessionária aproveita a oportunidade para esclarecer à imprensa e à sociedade brasileira que o Complexo Maracanã não foi privatizado, mas sim concessionado a uma empresa privada pelo período de 35 anos"
*Atualizada às 17h01