Natural da cidade de Savona, no norte da Itália, mas descendente de egípcios, o atacante do Milan Stephan El Shaarawy, 20 anos, mais parece um jogador brasileiro, por conta do chamado estilo "boleiro". Assim como os atletas daqui, tem apelido e é chamado de "Faraó" pelos laços com o país da África. Com corte de cabelo moicano ousado, olhar invocado e chiclete na boca, é o que mais se aproximou de Balotelli na marra durante a Copa das Confederações. Durante os treinos, o jovem mostra ser despojado, com toques na bola olhando para o lado oposto, ao melhor estilo Ronaldinho. E, entre uma corrida e outra, não esquece de arrumar o penteado.

Assim foi o comportamento do jogador durante o torneio. Sua voz, no entanto, só foi ouvida por seus companheiros. El Shaarawy não deu nenhuma entrevista e sempre que foi abordado na zona mista nem sequer olhava para dizer não. Ignorava.

Mais do que a personalidade forte, o que explica o trato arredio por parte de El Shaarawy é o fato de o atacante ter sido um dos fiascos da seleção do técnico Cesare Prandelli no torneio. O jovem vinha atuando como titular no ataque até o último jogo das eliminatórias europeias, contra a República Tcheca, fora de casa. Perdeu a posição e não voltou mais.

Foi utilizado apenas 17min, durante o segundo tempo do jogo contra a seleção brasileira, na derrota por 4 a 2, em Salvador, na última partida da primeira fase. O que fez até agora em quase 20 dias no Brasil foi receber três bolas e dar um chute a gol.

A confiança de Prandelli no jogador parece estar diminuindo cada vez mais. Tanto que foi sacado do time titular no início da Copa das Confederações para a entrada de um jogador que atua um pouco mais recuado, o meia Giaccherini, da Juventus. A equipe então passou a jogar em um 3-6-1.

No decorrer das partidas, outro jogador de meio para a frente da Juventus, Giovinco, foi mais utilizado como opção de segundo tempo pelo comandante italiano. E quando Balotelli foi cortado e o time não tinha um jogador de referência, Prandelli optou pelo veterano Gilardino.

Curioso é que El Shahrawy foi recentemente comparado a Neymar por Adriano Galliani, influente dirigente de seu clube.  "El Shaarawy está acima de nossas expectativas. Só completou 20 anos na semana passada e eu não sei quantos atacantes de sua idade estão marcando com esta continuidade. Assim como ele no mundo, há apenas Neymar", disse o diretor do clube, em dezembro do ano passado.

A badalação começou depois de colocar no banco Robinho e Bojan. Fez gols importantes e conduziu a equipe a uma vaga na Copa das Campeões. Terminou na terceira colocação na artilharia do Campeonato Italiano, com 16 gols.  

El Shaarawy, então, passou a ser especulado em grandes clubes da Europa e avaliado em cerca de 30 milhões de euros, segundo jornais italianos. Despertou a atenção da gigante de material esportivos Nike, que o procurou para assinar contrato e colocou seu nome na lista de jovens promissores da mídia, como Neymar e o alemão Goetze.

Com toda badalação, os companheiros tentam justificar a fraca performance. "É um garoto que carregou o Milan nas costas por meia temporada. Acho normal ele ter se apagado fisicamente e mentalmente, é natural esse tipo de altos e baixos para um jogador de 20 anos", defendeu o companheiro de Milan e seleção italiana Abate.

No Brasil, a última oportunidade de fazer suas coloridas chuteiras colocar uma bola pra dentro ou executar pelo menos um lance ousado será na disputa de terceiro lugar, contra o Uruguai, no próximo domingo, na Fonte Nova, em Salvador. Isso porque Prandelli deve dar chance a vários reservas.