Contra o Brasil, Balotelli joga como leva a vida e desperta amor e ódio

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Salvador

Mario Balotelli é um bom vivant. E a rotina de destruição de carros, trocas frequentes de namoradas e muitas extravagâncias é, de certa forma, replicada quando o atacante está atuando. Contra o Brasil, no jogo mais importante de sua seleção na Copa das Confederações até agora, ele mostrou o mesmo ritmo que apresenta fora de campo, deixando a ralação para os outros e aparecendo só para brilhar.

Foi dele o lindo passe de calcanhar que deixou Giaccherini na cara do gol para empatar o jogo, que terminaria 4 a 2 para a seleção brasileira. Foi dele também o primeiro chute do time europeu no jogo, aos 16 minutos do primeiro tempo, levando algum susto à meta verde-amarela. É ele, por fim, o responsável pelas cobranças de falta da Itália, que chegaram a forçar Julio Cesar a espalmar a bola meio sem jeito em uma delas.

Quem acompanhou o restante do jogo, porém, pouco viu o atacante do Milan, que ao longo da carreira acumulou polêmicas em todos os clubes que passou. Balotelli é a grande referência do time de Cesare Prandelli e normalmente fica isolado no ataque.

Sempre com cara de poucos amigos, anda de um lado para o outro dando muito trabalho aos zagueiros, mas pouco interage com os companheiros. Quando recebe a bola, costuma definir o lance com rapidez, chutando ou passando quase sempre de primeira.

Sem a bola, ele é praticamente invisível. Enquanto a Itália recua e participa de uma forte marcação conjunta, ele se contenta em ficar no ataque andando calmamente entre os zagueiros. Não é raro flagrá-lo, por exemplo, em posição de impedimento, voltando lentamente de um ataque infrutífero.

Manifestações mais exacerbadas também não são o forte do atacante. Quando a Itália inteira reuniu-se em torno do juiz para reclamar da falta que originou o segundo gol da seleção, Balotelli ignorou a comoção, caminhando sorridente a poucos metros da confusão.

Ele só muda o tom para bronquear com algo que lhe diz respeito. No primeiro tempo, por exemplo, o italiano passou dois minutos encarando um dos auxiliares por entender que recebeu uma falta de Oscar, não marcada pela arbitragem.

 

Também por isso, não espere cordialidade do atacante. No intervalo, ele foi o primeiro a sair e o último a voltar para o gramado, sem conversar com ninguém. Após o jogo, ele ignorou os protocolos e foi o único a deixar o gramado sem cumprimentar ninguém. Durante o jogo, Luiz Gustavo foi flagrado pelas câmeras de TV direcionando ao rival o tradicional gesto de "fala muito".

Balotelli tem a postura de quem, deliberadamente ou não, deixa o trabalho sujo para os colegas e toma para si o função de definir. O passe para Giaccherini e pelo menos dois chutes tiraram o fôlego do torcedor na Arena Fonte Nova. Não por acaso, ele não passou incólume pela torcida.

Quando chegou ao gramado, ainda no aquecimento, Balotelli foi bastante aplaudido pelos mais de 48 mil torcedores presentes. Sinal de respeito ao jogador que, um dia antes, furou o cerco imposto pela Fifa e decidiu caminhar na praia e disse no Twitter que parecia ser alguém da Bahia.

O apito inicial mudou tudo, e Balotelli passou a ser o alvo principal das vaias do público. Sempre que pegava na bola, o atacante causava apreensão na torcida, que chegou a xingá-lo em coro. Se entendeu algo, Balotelli fingiu bem e não alterou em nada seu comportamento. 

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