No Brasil, imprensa estrangeira sente medo de protestos: 'É brutal'

Luiz Paulo Montes

Do UOL, em Fortaleza

Os frequentes protestos realizados em diversas cidades nos últimos dias tem chamado a atenção não só da população local, mas também dos estrangeiros. No Brasil para a cobertura da Copa das Confederações, diversos jornalistas estrangeiros confessam que estão com medo do que andam vendo.

Especialmente após uma manifestação que começou pacífica, mas acabou em uma batalha entre polícia e manifestantes em Fortaleza, antes do jogo Brasil x México, no Castelão. O argentino Ariel Rodriguez, por exemplo, estava no meio do protesto nesta quarta-feira. E admite o medo que sentiu ao se deparar com a 'guerra'.

"Vi 95% ser pacífico, gritos de 'não à violência', muitas mulheres. Mas nos últimos 20 metros, foi incrível. Tenho certeza que eram infiltrados no meio. Fiquei com medo. Foi algo brutal, muito forte. Vi desde o começo, vi tudo preparado para uma festa. Em 3 horas, vi um contraste muito grande: 15 mil em guerra na rua, e 57 mil no estádio", afirmou o jornalista.

João Correia, repórter cinematográfico português, recebeu até ligações dos familiares para saber se tudo estava bem. Após verem na televisão o que acontecia em Fortaleza, os parentes telefonaram assustados. Ele, porém, tratou de tranquilizar, e disse que em seu país deveria acontecer algo semelhante caso houvesse um torneio lá.

"Receio não tem como não sentir. Todo mundo protesta em Portugal, também por razões econômicas, mas as coisas não acontecem da forma como foi aqui. Foi assustador. Mas se tivesse um evento importante como esse em Portugal também haveria protesto. As pessoas ficam preocupadas pois sabem que estou aqui. Já me ligaram para saber o que se passava, se eu estava no estádio. Por acaso eu já tinha chegado, ainda bem", disse Correia.

Jaime Motta, americano da emissora Univision, ficou assustado com a manifestação, apesar de estar já no Castelão no momento da passeata. Ele deu razão 'em parte' para os manifestantes, mas lembrou que quando o país foi anunciado como sede da Copa das Confederações, Copa do Mundo, e Olimpíada, não houve protesto contra tudo que teria de ser gasto pelo governo.

"Todo mundo comemorou, festejou. Para se ter grandes eventos, precisa de estádios e muitas instalações. Não dá para ser o centro dos esportes sem investir. Tem que construir, mas também não pode se esquecer do resto. Em alguns lugares têm mais pobrezas do que outros. Em Fortaleza, estou hospedado na praia, e não vejo a outra parte, o 'lado ruim'. Em Brasília, fiquei na rede hoteleira, e não vi o lado pobre. Aqui fiquei assustado", declarou o americano.

Durante as manifestações, no trajeto entre a barreira policial e a entrada do Castelão, uma repórter mexicana questionou à reportagem do UOL Esporte se deveria ter medo do que estava vendo. Antes mesmo da resposta, duas explosões de bombas de efeito moral cortaram o papo. "Não precisa nem responder", emendou a jornalista, apressando os passos juntamente com sua equipe (câmera e produtor). 

Em Brasília, o UOL Esporte conversou com jornalistas tchecos, franceses e japoneses, que não escondiam o medo de presenciarem uma multidão queimando pneus e protestando em uma das maiores avenidas da cidade, em frente ao Estádio Mané Garrincha, e sem ação da polícia. Todos admitiram estarem assustados, mas se tranquilizaram ao perceberem que o protesto era somente contra o governo.

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