Fortaleza vive clima de Copa, mas feriado em dia de jogo revolta lojistas
Luiz Paulo Montes e Mauricio Stycer
Do UOL, em Fortaleza
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Flavio Florido/UOL
Torcida cearense recebeu a seleção brasileira de braços abertos para jogo contra o México
A cidade de Fortaleza recebeu desde o meio de maio uma decoração diferente. Pinturas, bandeiras e enfeites da seleção brasileira 'deram as caras' e evidenciaram um clima de Copa. Tudo isso para receber a seleção brasileira, que nesta quarta-feira duela contra o México, pela segunda rodada da Copa das Confederações na Arena Castelão.
Mas nem toda a cidade está contente com o duelo desta quarta. Aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores na última quinta-feira (13), o projeto de lei que criou feriados em Fortaleza nos dias de jogos desagradou os lojistas da cidade. "Bem na hora em que vai começar a festa, nós não podemos participar?", questiona Francisco Freitas Cordeiro, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza.
Na justificativa do projeto, o prefeito Roberto Cláudio (PSB), autor da proposta, disse que os feriados se explicam pelo fluxo extraordinário de pessoas que circulará por ruas, bares, restaurantes e outros pontos da cidade. "A Copa das Confederações não está empolgando ninguém", rebate Cordeiro. "A decisão parece apenas uma imposição da Fifa".
Ainda na justificativa do prefeito, ele observa que o feriado pode ajudar nos esforços para garantir mobilidade urbana nos dias dos jogos. "Não precisava de feriado para isso. Bastava tomar providências no entorno do estádio", critica Cordeiro.
Pelas ruas e avenidas da capital cearense, os moradores e turistas podem enxergar calçadas pintadas, enfeites em hotéis e postos de gasolina, além de bandeiras penduradas nas janelas de casas, apartamentos e carros. Parte disso é fruto de um 'mutirão' organizado pela Secopa-FOR (Secretaria Especial de Copa de Fortaleza), para colorir a cidade.
"Uma característica do cearense é a hospitalidade, sempre há um clima festivo. Incentivar esse movimento é importante, une um conjunto de sentimentos envolvidos. Cuidamos da cidade, mantemos a cidade limpa e enfeitada, e ajuda a ter o espírito de Copa. Premiamos com ingressos para o jogo do Brasil as casas mais bem decoradas de Fortaleza, para estimular o povo a abraçar o evento", afirmou Domingos Neto, secretário extraordinário da cidade para a Copa.
Neto nega que um dos motivos para tamanha receptividade com a seleção seja a carência de ídolos. Mas populares admitem que ter a presença da seleção brasileira em Fortaleza é "histórico". "Nós temos no máximo os times da cidade, que não são grandes em relação ao resto do Brasil. Ter Neymar, Lucas, Fred, Thiago Silva é histórico para nós. Faltam ídolos e outros grandes eventos esportivos para a população cearense", afirmou Gustavo Bechara Adiel, de 41 anos. Ele é um dos que 'tietou' a seleção na frente do hotel.
Enquanto parte dos torcedores comemora a seleção por perto, a Câmara de Dirigentes Lojistas lamenta. A entidade, com cerca de 8.300 associados, estima um prejuízo de 5% no faturamento mensal por dia de feriado. "Fortaleza é um destino turístico por excelência. Como é que você recebe alguém na sua casa com as portas fechadas?", reclamou Cordeiro.
Cordeiro ainda levanta outro problema do feriado. "Estatisticamente, o nível de violência e acidentes sempre aumenta em feriados." Isso deve explicar o reforço no policiamento de Fortaleza por esses dias. A Secretaria de Segurança do Ceará suspendeu férias e convocou 3.062 agentes extra durante a Copa das Confederações.
A Arena Castelão vai receber três partidas, mas só terá feriado em dois deles. Além desta quarta, com Brasil x México, nada funcionará também no dia 27, quando ocorre uma das semifinais. O confronto entre Espanha e Nigéria cai num domingo, dia 23 de junho.