Manifestante leva tiros da PM, e torcedor sofre com gás no Maracanã
Bernardo Gentile e Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Vinicius Konchinski/UOL
Estudante Fernando Matos mostra marca de tiro levado em manifestação
A repressão da PM (Polícia Militar) a uma manifestação no entorno do Maracanã deixou protestantes feridos e incomodou até quem não tinha nada a ver com o ato. No domingo, minutos antes do estádio do Rio de Janeiro receber seu primeiro jogo da Copa das Confederações, em meio a muita confusão e tumulto, um estudante levou dois tiros de bala de borracha e um torcedor viu uma bomba de gás estourar ao seu lado.
Fernando Matos foi um dos cerca de mil manifestantes que se reuniu nas proximidades do Maracanã para reclamar do aumento da tarifa de ônibus e o custo de vida do Rio. Estudante de Direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele segurava um cartaz quando a Tropa de Choque avançou sobre o protesto. Correu.
Foi perseguido pelos policiais e resolveu parar. Viu o policial mirar e atirar contra ele. Foi atingido na canela.
Ao sentir o impacto, levantou os braços. Mesmo assim, recebeu mais um tiro. Desta vez no peito. "Não reagi em nenhum momento", disse ele, ainda na manifestação. "Corri para me proteger, parei e levantei os braços".
Djair Freitas também não reagiu. Ele, aliás, não tinha nada a ver com o protesto no Maracanã nem com a ação policial. Apesar disso, minutos depois de desembarcar na estação São Cristóvão do metrô, foi recebido com uma bomba de gás lacrimogênio lançada pela PM.
"Quando vi, a bomba estava do meu lado", contou ele, enquanto tossia e limpava os olhos. "Só deu tempo de saltar e ver a fumaça subir. É muita confusão".
A PM iniciou um confronto contra manifestantes minutos antes da partida entre México e Itália. Bombas de gás, tiros de bala borracha e gás de pimenta foram usados para conter o protesto, que era pacífico.
Em entrevista coletiva depois do jogo no Maracanã, o porta-voz da PM, Frederico Calda, negou excessos da corporação. Justificou a ação da policia dizendo que o protesto poderia levar ao cancelamento da partida. "Houve depredação, bloqueio de vias. Se não tivesse isso, não haveria bombas e gás lacrimogêneo", disse ele.
Não foi divulgado um número de feridos ou detidos na ação da policia. Durante as cerca de duas horas em que os policias enfrentaram os manifestantes, o UOL Esporte viu pelo menos três pessoas sendo carregadas após inalarem gás ou spray de pimenta. Nenhum deles era manifestante. Todos eram somente pessoas que passavam perto do local do confronto.
PM ALEGA QUE 'SALVOU' JOGO NO MARACANÃ E NEGA EXCESSO EM PROTESTO
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A Polícia Militar do Rio de Janeiro se pronunciou logo após o fim do protesto no entorno do Maracanã. Em entrevista coletiva, o porta-voz da corporação Frederico Caldas alegou depredações, disse que a ação evitou o cancelamento da partida entre Itália e México e negou excessos contra os manifestantes.
"Questão de excesso e limite é difícil de analisar friamente. Estavam em jogo questões sérias como a vida da cidade como um todo. Quero dividir com vocês esse dilema. Vamos nos preparar cada vez mais para evitar provocações. Foi recomendado máximo de cuidado. É chato comparar com SP [ação da polícia nos protestos de quinta-feira], mas está bem evidente o cuidado que tomamos no Rio. Houve depredação, bloqueio de vias. Se não tivesse isso, não haveria bombas e gás lacrimogêneo. Estamos calibrando nossa atuação. Não faltou preparo, equipamento, planejamento ou integração", disse.
"As pessoas querem chegar em casa. Sou cidadão e eles não me representam. 6 milhões podem ficar reféns de 2 mil? Não estamos lá para coibir ou proibir a manifestação. Temos clareza do que ocorre e há uma perplexidade no país inteiro. Não é tão simples assim. Quem vai responder se alguém morrer na ambulância impossibilitada de andar por causa de rua obstruída? Se o Choque não tivesse agido, o evento poderia não ter ocorrido", completou.