Em sete dias, Balotelli mostra face bipolar e mescla paixão e desprezo
José Ricardo Leite e Pedro Ivo Almeida
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Christophe Simon/AFP
Balotelli tira a camisa para comemorar o gol da vitória da Itália sobre o México
Tido como uma das principais estrelas da Copa das Confederações, o atacante Balotelli mostrou e despertou contrastantes atitudes até agora nos sete dias que esteve no Brasil, entre treinos, turismo, jogo e tuitadas.
Tão carismático quanto polêmico, o centroavante de 22 anos sintetizou no domingo, na vitória contra o México, um pouco do que foi sua passagem. Na última segunda, logo quando chegou, Balotelli escreveu em seu Twitter "eu amo o Brasil". Mas o carinho demonstrado pelo país na hora de escrever não foi condizente na hora de agir.
Nas caminhadas na praia da Barra da Tijuca, no amistoso contra o Haiti em São Januário e na saída da porta do hotel, todos só queriam saber do "Balo". E o atacante sempre ignorou os apelos.
Enquanto estrelas como Buffon, Pirlo e De Rossi distribuíam autógrafos, sorrisos, acenos e posavam para fotos, Balotelli seguia seu caminho como se nada estivesse acontecendo.
O experiente goleiro Buffon tentou "passar um pano". "Não tem nenhum problema. É o jeito dele e nós já o conhecemos bem. O importante é ele jogar e nos ajudar na competição. No fundo, é uma pessoa legal."
Durante toda a semana, o atacante esbanjou marra perante os companheiros. Nos treinamentos, atacante do Milan só costumou dar atenção ao técnico Cesare Prandelli. Ainda assim, foi comum ver o comandante gesticulando com os jogadores enquanto o polêmico atacante fazia embaixadas e curtia o seu "próprio mundo".
Nos intervalos das atividades, enquanto os jogadores bebem água, se distraem e conversam com alguns membros da comissão técnica, Balotelli preferia ficar solitário no meio do campo. Em seguida, sozinho, se refrescava com isotônicos.
Eis que no último treino antes do duelo contra o México, no Maracanã, demonstra comportamento absolutamente diferente e esbanja sorrisos para todos os lados. Só faltou pedir para os fotógrafos mirarem a câmera para sua feição alegre.
No duelo contra o México, viveu de tudo. Foi o primeiro jogador italiano procurado pelas câmeras e mostrado no telão quando a equipe entrou para fazer o aquecimento. Aplausos.
Mario Balotelli dentro e fora de campo
Mais tarde, se irritou contra a arbitragem contra a não marcação de um pênalti. Reagiu jogando a caneleira longe. E foi xingado pelo público brasileiro com um coro tradicional. "Balotelli, viad..."
Mas foi só fazer o gol para receber aplausos e fazer a tradicional comemoração em que tira a camisa. Foi repreendido pelo árbitro com cartão amarelo. Logo depois, foi substituído do jogo e exaltado efusivamente.
Mas se engana quem pensa que o cartão saiu barato. Levou dura do técnico Cesare Prandelli. "Já conversamos bastante com ele. Todos já conhecem seus músculos. Não precisa mais tirar a camisa para mostrar".
A bronca do chefe, no entanto, foi amenizada pelo líder Buffon. "Fazer tantos gols assim tão jovem quer dizer que tem qualidades importantes. Não penso que seja o único a tomar cartão por tirar a camisa."
Após a partida, só falou com as emissoras detentoras de direito, no qual era obrigado. Do restante, esbanjou desprezo e passou com sorriso irônico apenas fazendo sinal negativo de que não falaria.