No Maracanã, Pirlo completa 100 jogos como maestro discreto da Itália
José Ricardo Leite
Do UOL, no Rio de Janeiro
-
AFP PHOTO / FABRICE COFFRINI
Pirlo com Neymar no jogo Brasil x Itália; italiano é discreto
O Maracanã será o palco de uma partida histórica para o meio-campista Andrea Pirlo. Contra o México, neste domingo, às 16h (horário de Brasília), completa 100 jogos com a camisa azul da Itália. Uma prova da importância do jogador de 34 anos, que se tornou o maestro discreto da Azurra nos últimos anos.
A marca centenária o coloca em grande companhia: é o quinto atleta que mais vestiu a camisa na história, atrás apenas de Fabio Cannavaro (136), Gianluigi Buffon (128), Paolo Maldini (126) e Dino Zoff (112). Destes, somente Maldini não foi campeão mundial com a equipe.
O palco do 100º jogo também é especial: o Maracanã, muito provavelmente, foi o escolhido para a quebra da marca. Na última terça-feira, a Itália fez um amistoso contra o Haiti, no estádio de São Januário. O meio-campista da Juventus tinha condições de entrar em campo, mas foi preservado. "A emoção do fazer meu centésimo jogo nesse estádio é incrível. Me sinto como um rapaz que está próximo de estrear. Tenho a sorte de estar aqui para fazer o jogo 100. Estou muito feliz e espero poder comemorar em campo", afirmou o veterano.
Quem o conhece deve ter se surpreendido com essa declaração. Ela pode parecer trivial para qualquer um , mas não para o maestro discreto. Falar em emoção é algo raro. Pirlo é do tipo que quase não comemora gol. É muito procurado pelos companheiros, mas na grande maioria das vezes demonstra frieza.
Mesmo sendo um dos mais veteranos da seleção, vai na contramão dos que usam a bagagem para se impor perante os mais jovens. Não tentar ser líder na base do grito. O volante quase não fala. Nos treinamentos da equipe, gesticula pouco. Quando o faz, é contido. Não se ouve sua voz em um treinamento.
Recentemente, lançou sua autobiografia. E, claro, quem esperava algo bombástico se decepcionou. A história mais picante de bastidores nem era tão picante assim. Ele recusou o Barcelona em uma reunião com o técnico Pep Guardiola. O encontro foi regado a vinho tinto. Com muitos elogios ao italiano, em um verdeiro jogo de sedução, que acabou com uma negativa educada.
É assim que Pirlo parece agradar. Nas ações que mostram caráter. Ganhou respeito e virou referência para os companheiros sem gritar. "Andrea (Pirlo) é, para nós, o ponto de referência. Ele e (o goleiro) Buffon. Os dois têm mais experiência, nos fazem dar um salto de qualidade. Só a presença em campo representa um ponto de força. Quando estamos em dificuldade, olhamos para eles e sempre nos dão força para reagir", falou o meio-campista Giaccherini. "É um prazer poder ser companheiro de Pirlo. É muito melhor tê-lo no seu time do que como rival", endossou o zagueiro Barzagli, que joga com o meia também na Juventus.
Os elogios italianos encontram eco no rival deste domingo. O volante distribuidor de bolas (e batedor de faltas) é a maior preocupação do técnico da seleção mexicana. "Precisamos da muita concentração em campo. Pirlo cria muitas jogadas para outros companheiros. Se conseguirmos marcá-lo, teremos dado um passo grande para controlar o jogo. É o caminho se quisermos vencer", falou o técnico José Manuel De la Torre.
Ao saber do elogio, o italiano fez mais do que mesmo: discrição e humildade. "É uma honra pelo simples fato de o técnico de outra equipe me considerar um jogador importante. Mas não jogo sozinho. A equipe tem outros jogadores e, se me marcarem, vamos encontrar, todos juntos, uma outra solução".