Neymar desafia lógica com a 10 na seleção e descarta numeração fixa
Gustavo Franceschini, Paulo Passos e Ricardo Perrone
Do UOL, em Goiânia e Porto Alegre
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Julio Cesar Guimarães/UOL
Neymar com a camisa 10 da seleção no amistoso contra a Inglaterra; atacante não usa numeração fixa
O camisa 10 da seleção começou a carreira com a 7, fez história com a 11 e ainda não sabe qual número o acompanhará no maior desafio de sua carreira. Em uma espécie de "crise existencial" sobre o assunto, Neymar desafia a lógica do mercado publicitário e não define uma marca para acompanhá-lo dentro e fora dos gramados como outros grandes garotos-propaganda do futebol.
Hoje, ele é o 10 da seleção, mas a escolha surpreendeu o público, acostumado a vê-lo atuar pelo Santos e pelo Brasil com a camisa 11. A novidade surgiu no último domingo, pouco antes do empate por 2 a 2 com a Inglaterra.
Tanto Felipão quanto Neymar, este por meio de seu estafe, dizem que a escolha que fez Oscar herdar a 11 foi quase fortuita. Dias depois, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) confirmou a opção e garantiu que a 10 será do maior astro do time no último evento-teste antes da Copa do Mundo.
Neymar terá de lidar com o peso da camisa eternizada por Pelé e com uma mudança em sua imagem. Desde que afirmou-se no Santos, o jogador se notabilizou pela relação com o número 11. Embora não tenha construído uma imagem sólida nesse sentido, como fizeram antecessores como Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, ele tirou proveito da relação até comercialmente.
Em 11 de novembro de 2011, por exemplo, ele foi convidado pela Gillette a participar de um bate-papo com outros camisas 11 históricos: Pepe e Romário. Seu estafe, no entanto, nega que a mudança possa afetá-lo comercialmente.
"Nunca fizemos o marketing do Neymar em cima de número de camisa porque os números mudam. Ele não vai perder nada sem o 11 porque nenhuma de suas marcas tem esse número. Ele só o 11 usa numa conta do Instagram [njunior11] por falta de opções", explica Eduardo Musa, assessor de Neymar e um dos conselheiros mais próximos do jogador.
A Nike, uma das principais parceiras do jogador, concorda com a visão. Consultada pela reportagem, ela nega ter tido qualquer relação com a mudança de camisa de Neymar e diz acreditar que as vendas também não serão afetadas, positiva ou negativamente. A avaliação contraria alguns dogmas do mercado.
Neymar
"Falar que o número de camisa não é importante não é verdade. É só você ver no que o Michael Jordan transformou o número 23, que a princípio era um número comum", disse Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo, referindo-se ao astro do basquete e sua marca história nos tempos de Chicago Bulls.
David Beckham, considerado o maior ícone do marketing esportivo no futebol em todos os tempos, jogou com a 7 em todo o início de sua carreira. Quando começou a namorar o mercado americano, o 23 usado no Real Madrid lhe abriu algumas portas, justamente por conta da alusão a Jordan. Mesmo hoje em dia, superastros como Messi e Cristiano Ronaldo não dispensam a 10 e a 7, respectivamente.
E mesmo se quiser, Neymar também não poderá adotar totalmente o 10 daqui em diante. No Barcelona, seu novo clube, a primazia é de Messi. Para usar o 11, ele precisaria aguardar uma eventual negociação de Thiago Alcântara, já que não está disposto a "tomar" uma camisa já ocupada de um companheiro, segundo o UOL Esporte apurou.
De novo, não se trata de nenhuma novidade na carreira dele. Fã assumido de Robinho, Neymar sempre jogou com a 7 nas categorias de base do Santos. Quando mudou para o profissional, ele só abandonou o número preferido quando o ídolo voltou para a Vila Belmiro, em 2010, e o então jovem talento abdicou da primazia.
"Não me parece realmente que ele seja tão apegado aos números assim", resume Somoggi.