Jogos da seleção geram briga judicial entre empresas estrangeiras
Do UOL, em São Paulo
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Sergio Moraes/REUTERS
Neymar disputa a posse da bola com Cristian Álvarez no amistoso com o Chile
A renda de jogos da seleção brasileira gerou um processo judicial entre duas empresas que envolvem investidores da Suíça, dos Emirados Árabes, do Qatar, da Síria e da Itália. A informação é da agência de notícias Bloomberg. E a ação, que não tem relação direta com a CBF, revela como as partidas do Brasil se tornaram uma mercadoria cujos direitos são fatiados e têm diversos donos sem que a própria confederação tenha controle sobre esses negócios.
Na ação, a Global Eleven aciona judicialmente a suíça Kentaro, que já teve direito de organizar partidas do Brasil até 2012, para cobrar supostos valores não pagos referentes a amistoso do time nacional, entre outros negócios. Com sócios árabes e um italiano, a Global Eleven fez um investimento na compra desses direitos junto a Kentaro em troca de lucros futuros com os jogos.
Pior, a Kentaro sequer era a empresa que, de fato, comprara da CBF os direitos sobre os jogos da seleção. Ela se tornara a organizadora das partidas por um cessão feita pela Internacional Sports Events (ISE), empresa que adquiriu da confederação todos os amistosos a partir de 2006. Agora, seu contrato vai até 2018. Isso significa que, até o ano passado, pelo menos três empresas diferentes, que têm diversos investidores, tinham fatias sobre partidas do time nacional, fora a Nike e Ambev, que também têm alguns jogos da equipe.
Em 2012, a ISE trocou a Kentaro pela Pitch International. Com a perda dos direitos sobre os jogos brasileiros, a Kentaro não pôde pagar de volta parte do investimento de US$ 20 milhões feito pela Global Eleven em jogos do Brasil e em direitos sobre jogadores da América do Sul. Assim, essa empresa Global Eleven cobra US$ 8 milhões da Kentaro em processo na corte da suíça.
"A companhia está em litígio com a Kentaro pela quebra dos contrato e por não pagar montantes devidos em em progresso por esses contratos", afirmou à Bloomberg o administrador da Global Eleven, Nick Hoskins, cuja sede é no paraíso fiscal de Bermudas.
Entre os sócios da Global Eleven, ainda segundo a agência de notícias, estão o aristocrata italiano Sella Di Monteluce, o grupo qatariano Ghanim Bin Saad Al Saad & Sons Group Holdings e o Baniyas Sports Club, cujo dono é o vice-primeiro ministro do Emirados Árabes Unidos, Sheikh Saif bin Zayed Al Nahyan.
Não é a primeira polêmica envolvendo a Kentaro e a seleção brasileira. Pouco antes de deixar a CBF, o ex-presidente Ricardo Teixeira renovou o contrato com a ISE para vender amistosos do time nacional. Só que a Kentaro foi troca pela Pitch como organizadora dos jogos. A empresa suíça acusou a confederação de fechar um contrato por valor menor do que ela tinha oferecido.
Em resumo, ao entrar em campo, Neymar e seus colegas da camisa amarela estão representando os interesses de investidores desconhecidos do grande público nacional. Foi com tantos interesses, empresas e investidores envolvidos que o amistoso entre Brasil e Portugal tornou-se um caso de polícia e um dos motivos para a queda de Teixeira.