De olho na Copa 2014, Juventus planeja estádio de R$ 200 milhões, mas torcida se divide

Francisco De Laurentiis

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/Clube Atlético Juventus

    Perspectiva de como ficaria a Arena Juventus, estádio que o "Moleque Travesso" pretende construir na Mooca

    Perspectiva de como ficaria a Arena Juventus, estádio que o "Moleque Travesso" pretende construir na Mooca

"Ódio eterno ao futebol moderno". Com essa faixa, uma parte da torcida do Juventus, tradicional clube do bairro da Mooca, em São Paulo, prega sua ideologia sobre o esporte e seu time. Eles querem que sobreviva no estádio Conde Rodolfo Crespi o último respiro do futebol romântico na capital paulista.

Mas a modernidade chegou à rua Javari. A equipe grená projeta a construção de uma moderna arena multiuso de 20 mil lugares (16 mil cobertos) e avaliada em R$ 200 milhões, com intenção de utilizá-la como CT na Copa do Mundo de 2014. Além disso, o clube também planeja construir um hotel quatro estrelas com moderno business center em sua sede social.

No novo projeto, o Conde Rodolfo Crespi (nome oficial da Javari) seria transformado em um estádio no padrão Fifa. O velho placar que informa quanto está o jogo entre o "CA Juventus" e o "Visitante", assim como outros ícones, deixariam de existir.

"Embora os momentos que vivemos tenham sido maravilhosos, com histórias lindas e muita emoção, nosso estádio tem uma certa idade. Sei que (uma arena padrão Fifa) custa caro, mas temos condições de buscar isso. A história foi, é e está sendo escrita. Não podemos ficar parados no tempo", explica o presidente do Juventus, Rodolfo Antonio Cetertick, ao UOL Esporte.

"Nós estávamos na Série A3 do Paulista em 2012 e, com muito esforço, conseguimos voltar para a A2. Agora, a intenção é regressar à primeira divisão e precisamos de um estádio que comporte jogos da Série A e também de outras competições, como o Brasileirão", completa o dirigente, confiante em dias melhores para o time, que não disputa nenhuma das quatro divisões do campeonato nacional.

O projeto milionário, para os padrões da equipe, acaba sendo até pequeno em relação ao de duas modernas arenas que estão sendo erguidas em São Paulo. O Itaquerão, do Corinthians, custou R$ 820 milhões até o momento, enquanto a Nova Arena do Palmeiras está com obras avaliadas em R$ 420 milhões.

"Muitos investidores"

Para custear a Arena Juventus, o "Moleque Travesso" pretende fazer parcerias nos moldes das feitas pelo Grêmio e pelo Palmeiras na construção de seus novos estádios: uma empresa banca a obra e depois tem o direito de explorar o local por um período de tempo, cedendo-o ao clube após este prazo. Segundo Cetertick, já há "muitos investidores" interessados no negócio.

ESTÁDIO ATUAL COMPORTA 4 MIL

  • Gabo Morales/Folhapress

    Devido á ausência de refletores, Conde Rodolfo Crespi não pode receber partidas noturnas. Os times grandes de SP também não atuam no campo

"Tudo seria custeado com recursos de investidores. Já temos muitos interessados, mas infelizmente ainda não posso dizer o nome. Eles querem participar, porque têm visão da maravilha que será ter uma arena multiuso em uma localização como a rua Javari, praticamente no centro de São Paulo. Acredito que será um grande sucesso", diz o presidente da equipe grená.

Além de jogos de futebol, a Arena Juventus poderá ser utilizada para shows de música, por exemplo.

Atualmente, o estádio Conde Rodolfo Crespi comporta cerca de 4 mil torcedores. Devido à ausência de refletores, o campo não pode receber jogos à noite, o que obriga o Juventus a mandar seus jogos em horários alternativos, sempre à luz do dia.

O tamanho do estádio também não permite mais que clubes como Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Santos atuem no local. Quando enfrenta os "grandes", o Juventus costuma mandar os jogos no Pacaembu.

CT da Copa de 2014

De acordo com Rodolfo Antonio Cetertick, o Juventus já está discutindo o estádio com as autoridades para que o projeto não "encalhe" nos órgãos da prefeitura. O objetivo é que a Arena fique pronta antes da Copa do Mundo de 2014, para que possa ser utilizada como centro de treinamentos para as seleções que virão ao Brasil.

"Nossos engenheiros e projetistas já estão conversando com as autoridades, para que o projeto não fique esbarrando tanto quando dermos entrada na prefeitura. Temos um estudo de viabilidade que deve ser submetido em breve aos órgãos responsáveis. Mas primeiro, é claro, preciso da autorização do conselho do clube. Ainda está tudo no papel, por enquanto", ressalta.

QUEM É A FAVOR E QUEM É CONTRA A CONSTRUÇÃO DA ARENA JUVENTUS

"Se for para o bem do clube, para o crescimento do Juventus, será uma boa. O Juventus sempre foi clube de Série Especial (primeira divisão), já deu muito trabalho contra os times grandes, mas hoje não pode nem mandar os jogos no próprio campo. É um projeto benéfico, que visa o engrandecimento do clube" ANTÔNIO GARCÍA, vendedor de cannoli há 42 anos na rua Javari
"Achei um bom projeto. O Juventus tem que voltar a ser time grande, já está na hora da gente voltar a ser protagonista. A rua Javari (estádio Conde Rodolfo Crespi) já está muito antiga, não tem refletor, a Federação Paulista não aprova várias coisas... Se construir o estádio novo, continuarei frequentando normalmente" SÉRGIO MARGIULLO, presidente da torcida organizada Ju Jovem
"O projeto é uma piada. Os desenhos são muito mal feitos. É óbvio que esse estádio não cabe no quarteirão da rua Javari. Foi tudo feito às pressas, por motivação política. Quero ver manter um time com média de público de mil pessoas por jogo manter um estádio pra 20 mil pessoas. Tudo não passa de uma utopia" GUILHERME CONDE, torcedor do Setor 2 e criador d'O Blog do Juva

Segundo o presidente, há espaço disponível para a construção da nova arena no mesmo quarteirão onde está localizado o Conde Rodolfo Crespi, entre a rua Javari e a rua dos Trilhos, na Mooca, não sendo necessário desapropriar terrenos vizinhos.

No projeto da Arena Juventus, também está prevista a construção de 3 mil vagas para automóveis, para comportar tanto torcedores em dias de jogos como expectadores de show e espetáculos que poderão ser realizados. Tudo sem causar problemas no trânsito da zona leste da capital.

Pensando no futuro

Como a maioria dos times de futebol do Brasil, o Juventus tem dívidas e um orçamento apertado. Segundo seu presidente, atualmente há empate entre gastos e arrecadação - vale lembrar que, além do time de futebol, ainda há o clube e a sede social. Para Cetertick, a Arena Juventus possibilitaria ao time ampliar sua receita de maneira definitiva.

TRADIÇÃO x MODERNIDADE NA MOOCA

  • Lucas Lima/Folhapress

    A charmosa e histórica fachada do Conde Rodolfo Crespi deixará de existir se o projeto da Arena Juventus for aprovado e o estádio for construído

"Atualmente, temos empate entre receitas e despesas, o que não é suficiente para o que a gente planeja. É necessário lucro para poder trabalhar melhor", diz o dirigente, que afirma que os possíveis novos recursos serão investidos tanto no futebol profissional quanto para a manutenção do clube e da sede.

"O clube não é novo, tenho reformas para fazer nos prédios, nas quadras, no salão de festas, na garagem, nas piscinas. Temos piscina aquecida, às vezes tem que trocar os filtros... Preciso ter dinheiro para fazer tudo isso. Temos essa área de 80 mil m² e 48 mil sócios que precisam ser bem tratados", ressalta.

"Temos muito amor pelo futebol, mas também temos o tênis, a natação, a bocha, o judô, praticamente todos os esportes olímpicos. Sem dinheiro, não vamos conseguir manter isso", completa.

Hotel Quatro Estrelas

Além da Arena Juventus, o "Moleque Travesso" também planeja construir um hotel quatro estrelas em sua sede social, localizada na rua Comendador Roberto Ugolini, também na Mooca, a cinco minutos da rua Javari.

HOTEL SERÁ NA SEDE DO JUVENTUS

  • Divulgação/CA Juventus

    "Moleque Travesso" planeja erguer hotel quatro estrelas integrado à sede do clube, perto da Javari

Com 240 quartos, ele serviria para acomodar alguma seleção durante o Mundial-2014, e depois seria utilizado para turismo e negócios em geral, além de ser o local de concentração do time de futebol.

"Queremos fazer algo de padrão elevado, que possa atender muito bem a todos. Junto ao hotel, estamos fazendo um centro de convenções, que poderá ser utilizado para todo tipo de negócios. Além disso, é destaque a localização privilegiada onde ele ficaria", explica Rodolfo Antonio Cetertick.

A estrutura do clube, como as piscinas, também poderão ser usadas pelos frequentadores do hotel: "Em convenções, congressos, a gente teria tudo à disposição. Teremos restaurante, boliche, sala de teatro", revela o presidente.

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