"Gostoso como gol" segundo Dadá Maravilha, tropeirão está garantido no cardápio do novo Mineirão
Bernardo Lacerda *
Do UOL, em Belo Horizonte
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Guyanne Araújo/UOL Esporte
Tropeiro é tão importante na história do Mineirão, que esteve presente em almoço festivo dos operários
O Mineirão está em festa nesta sexta-feira. Após dois anos e meio, as obras de modernização serão oficialmente entregues, em solenidade a partir das 16h, com a presença da presidenta Dilma Rousseff e, às 20h, show da banda Jota Quest. As cerca de 20 mil pessoas que trocaram alimentos não perecíveis por ingressos para conhecerem a nova Arena, no entanto, terão que aguardar a bola rolar em 3 de fevereiro, no clássico Cruzeiro e Atlético-MG, para saborear o famoso tropeiro, tradição da culinária mineira e que fez enorme sucesso no antigo "Gigante da Pampulha".
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Receita de feião tropeiro típica da culinária mineira, que é servido no Restaurante Dona Lucinha, em BH
Diferente do Independência, também totalmente reformado e que foi inaugurado no final de abril deste ano, o tropeiro voltará a ser vendido nos bares localizados na parte interna do Mineirão, resgatando tradição, que segue na memória dos seus freqüentadores. Se no estádio do Horto, onde Atlético, Cruzeiro e América-MG mandaram seus jogos pelo Brasileiro deste ano, tropeiro só do lado de fora, em bares, restaurantes e até em garagens de casas, no Mineirão o tradicional prato está garantido.
Na parte interna do Independência, os torcedores só encontram salgados à venda. Porém, no novo "Gigante da Pampulha", o tropeiro e também o não menos tradicional sanduíche de pão francês com pernil serão comercializados antes, durante e depois das partidas.
O secretário Extraordinário da Copa do Mundo em Minas Gerais (Secopa-MG), Tiago Lacerda, afirma que o tropeiro faz parte da história do Mineirão. "É tradicional, quem vem acompanhar jogos sempre come o tropeiro, é marcante isso, já é uma tradição que tem de ser mantida", assegurou.
"Muita gente vem de outras cidades, até países só para poder conhecer esta comida que é típica de Belo Horizonte. Acho que a torcida está com saudade do Mineirão e também do tropeiro, com vontade de comer antes e depois dos jogos", acrescentou Tiago Lacerda.
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Dario, o Dadá Maravilha, tem longa história no Mineirão e destaca a tradição do seu tropeirão
O consórcio Minas Arena, responsável pela gestão do Mineirão até 2037, determinou a presença das iguarias no cardápio das empresas interessadas em montar bares e restaurantes no Gigante da Pampulha, que já foram licitadas. O cardápio deverá conter os produtos em pelo menos dois bares de cada setor: feijão tropeiro completo (bife, ovo, couve, torresmo, lingüiça calabresa e bacon) e sanduíche de pernil fatiado.
O tropeiro será rigorosamente igual ao servido antes da reforma do estádio, com os mesmos ingredientes. Porém, a comida típica de Minas Gerais passará por uma "modernização" na forma de ser servido. Ele deixará os antigos pratos descartáveis, sendo trocado por pequenas tigelas, para maior conforto e facilidade dos torcedores.
A expectativa para a volta do tropeirão é grande entre torcedores anônimos e famosos, acostumados a acompanharem jogos no Mineirão. "Não seria o Mineirão se não tivesse o tropeiro. É tradicional ir ao estádio e comer o tropeiro, antes com a cerveja, hoje sem, mas ele não pode faltar", disse o advogado Robson Guadanini.
Esse torcedor tocou em um ponto importante. A cerveja, pelo menos por enquanto, continuará proibida dentro do Mineirão. Bebida alcoólica somente estará liberada nos camarotes que serão adquiridos por empresas e utilizados para receber seus convidados.
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Mineirão será entregue à população belo-horizontina em solenidade oficial na tarde desta sexta-feira
O ex-atacante Dario, que carrega em sua vida muitas histórias passadas dentro do gramado do antigo Mineirão, com a camisa do Atlético-MG, pelo qual foi campeão brasileiro em 1971, também é a favor da volta da venda do tropeirão. "Tropeiro é igual o gol, é gostoso, faz parte do futebol. Jogo sem gol é ruim, sem o tropeiro também não é igual, tem de vender e a torcida tem de correr para comprar e matar a saudade", afirmou.
Também ex-atacante do Atlético-MG, mas nos anos 90 e 2000, Marques, que atuou no estádio até pouco antes do seu fechamento, em junho de 2010, igualmente reconhece que a iguaria é tradição do Mineirão. "Acho que é impensável ir ao Mineirão e não comer o tropeiro, eu mesmo adoro, é tradição, faz parte da diversão das pessoas de Belo Horizonte", observou o ex-craque e atual deputado estadual.
Obstáculos
Depois de dois anos e meio fechado para as obras visando a Copa do Mundo de 2014, o Mineirão será oficialmente entregue com cara nova e marcado pela modernidade e comodidade para os torcedores. Fechado desde meados de 2010, o Mineirão ficou pronto dentro do cronograma anunciado pelo governo de Minas Gerais. Para que isso acontecesse, no entanto, foi necessária a superação de obstáculos, como greves, congelamento de bens de pessoas envolvidas no projeto e ainda irregularidades constatadas pelo Ministério Público Federal em termos de acessibilidade, na última segunda-feira. Foram apontadas falhas como número insuficiente de lugares reservados para pessoas obesas e com mobilidade reduzida.
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Moderno telão foi instalado no Mineirão, que receberá em fevereiro o 1º jogo: Cruzeiro x Atlético-MG
Em novembro, a Justiça Federal de Minas Gerais decretou a indisponibilidade dos bens de autoridades públicas e do arquiteto envolvidos na reforma do Mineirão por suposta irregularidade relacionada ao projeto. O problema começou quando o governo de Minas Gerais contratou o escritório Gustavo Penna Arquitetos & Associados sem licitação para fazer o projeto de reforma do estádio. A alegação era de que o arquiteto tinha notória especialização técnica. O total a ser pago seria de R$ 17,8 milhões.
Mas o Ministério Público entendeu que não havia motivos para a dispensa de concorrência. A Justiça Federal em Minas Gerais, por meio de sua assessoria de comunicação, informa que o caso ainda está em tramitação. Durante as obras, o Mineirão ainda teve problemas com greves de operários, principalmente durante o segundo semestre de 2011.
Pronto para mega-eventos
As obras do Mineirão, que custaram R$ 665 milhões, o deixaram bem diferente do estilo do antigo estádio. Com a parte interna toda reformada, o público que conhecerá o local nesta sexta-feira, sábado e domingo, período da visitação guiada, terá camarotes, estacionamento, bares e museu como grandes novidades. O anel do Mineirão foi todo reformado. As 62 mil cadeiras foram trocadas, delimitando o público do estádio para as partidas de futebol. Foram construídos 98 camarotes, que acomodam de 15 a 25 pessoas cada um, que começarão a funcionar em fevereiro. Uma área vip, com restaurante panorâmico, foi construída.
Sem dúvidas era um estádio diferente, mais moderno, bem diferente do que era. Vejo por fotos, ficou maravilhoso, mas lá dentro será diferente com certeza
Júlia Murtosa, que irá ao MineirãoDo lado de fora do estádio, duas grandes obras foram feitas. Os estacionamentos que terão capacidade para 2.569 vagas foram fechados, sendo que 1530 serão cobertos. Uma explanada, com 80 mil metros para eventos foi construída, onde será realizado o show do Jota Quest, que marcará a inauguração oficial do Mineirão. De acordo com a Minas Arena o estádio também receberá além de futebol, shows. O primeiro marcado é de Elton John, que cantará no dia 9 de março. Outros quatro eventos são esperados para o restante de 2013. "Além do futebol, teremos mega-eventos no estádio, juntamente com o futebol", explicou Ricardo Barra, presidente da Minas Arena.
Obras no Mineirão
* Colaboração de Gabriel Duarte