Preso em impasse, empréstimo do Itaquerão fica para 2013 e vai estourar prazo-limite do BNDES

Daniel Tozzi, Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinski

De São Paulo

  • Reinaldo Canato/UOL

    Imagem das obras do Itaquerão no final de novembro, pouco antes de visita da Fifa

    Imagem das obras do Itaquerão no final de novembro, pouco antes de visita da Fifa

O empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o estádio do Corinthians ficou para o próximo ano. Isso porque a Odebrecht e o Banco do Brasil, que é o intermediário da operação, estão longe de um acordo em relação às garantias para o financiamento, segundo apurou UOL Esporte.

A construtora já pediu a prorrogação do prazo para obter o financiamento do banco estatal, que acabava no final de 2012. Assim, o Itaquerão será a única arena da Copa-2014 que não vai conseguir o empréstimo dentro do período previsto para projetos do evento.

Questionada, a Odebrecht informou que a previsão da conclusão da operação bancária é para o início do próximo ano. Mas, por segurança, pediu ao BNDES uma prorrogação do prazo para o financiamento por mais seis meses. O banco ainda determinou uma extensão desse empréstimo.

O Banco do Brasil, que atua como repassador do empréstimo, limitou-se a dizer que "as negociações continuam em andamento". "Informamos que a operação encontra-se aprovada e que não há nenhuma pendência no BB. Outras informações estão protegidas sob sigilo comercial", informou a assessoria do banco.

O que está por trás do sigilo é um impasse sem solução visível no momento. O UOL Esporte apurou as posições dos dois lados com fontes ligadas à negociação.

Como garantia para o financiamento de R$ 400 milhões, a Odebrecht oferece as receitas futuras do estádio do Corinthians. Estudos de especialistas, contratados pelo clube, apontam que essas rendas superariam com folgas as despesas com o pagamento da dívida.

Mais, a construtora convenceu o clube a acumular os seis primeiros meses de rendas para ficar como uma poupança para quitação de parte do débito. Explica-se: as condições do financiamento determinam que há um prazo de três meses de carência para o início do pagamento, isto é, haveria tempo para juntar recursos que serviriam como garantia.

A questão é que o Banco do Brasil não aceita a projeção de rendas como garantia. Um comitê de diretores do banco chegou a conclusão que esse tipo de operação iria contra as práticas bancárias.

Essa posição se tornou ainda mais firme quando o promotor José Roberto Pimenta, contra a vontade do banco, teve acesso ao contrato entre as partes. Ele indicou que a rejeição da instituição bancária estatal estava correta.

O que o BB exige é que a Odebrecht preste uma garantia física ou uma fiança para suportar o empréstimo – isso teria de somar os R$ 400 milhões. Outra opção é que a construtora se torne a controladora do fundo imobiliário que detém os direitos sobre o estádio – a empresa só tem 11% das cotas.

A empresa, no entanto, recusa as duas opções. Não quer prestar garantias em relação a um empreendimento que não é seu: é apenas a responsável pela construção. Já o Corinthians não abre mão de ter o controle sobre o fundo e, portanto, sobre a futura gestão da arena.

As duas posições antagônicas se explicam pelos contextos do banco e da construtora. No caso do BB, como instituição estatal, está sujeito a controles de órgãos fiscalizadores. Ou seja, dirigentes podem ser punidos por descumprir as normas vigentes, ainda mais em uma operação de alta repercussão como o financiamento do Corinthians.

Até agora, não houve interferência política do governo nesta operação. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a participar de reunião para saber sobre o andamento do financiamento, mas não fez pressão para conclusão do negócio.

No caso da Odebrecht, a empresa já prestou garantias para dois empréstimos, que somam R$ 250 milhões, para o financiamento da obra até agora. Ainda investiu um montante próximo de R$ 100 milhões de caixa próprio para não parar a obra. Dentro da construtora, não é considerado no momento retardar a construção.

Mas, ao mesmo tempo, seus executivos não veem motivo para assumirem um compromisso ainda maior financeiramente com garantias em um projeto do qual a construtora não é dona.

Uma possível solução vislumbrada por participantes da negociação são os naming rights do estádio. Fontes da operação do estádio dizem que essa transação está próxima de ser concluída por valores bem acima do mercado.

Neste caso, a Odebrecht e o Corinthians teriam como apresentar um contrato já assinado, o que representaria uma garantia mais segura de que haverá rentabilidade no estádio. Mas essa possibilidade ainda não entrou em análise no Banco do Brasil.

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