Boleiros viajantes tranformam bola em "tocha olímpica da Copa" e planejam viagem ao Brasil-2014

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Spirit of Football/Divulgação

    Garotos fazem pose com a bola do Spirit of Football durante passagem por Moçambique

    Garotos fazem pose com a bola do Spirit of Football durante passagem por Moçambique

Em 2002, os ingleses Christian Wach, Phil Wake e Richard Hamilton realizaram uma jornada épica: percorrram mais de 12 mil quilômetros a pé, de ônibus ou carro (o avião só foi usado em último recurso) até a Coréia do Sul, para a Copa do Mundo. Colhendo assinaturas na bola que estava sempre a tiracolo, os três criaram, sem querer, a tocha olímpica do futebol.

A aventura virou coisa séria. A bola viajante foi parar no Museu do Futebol da Inglaterra, o projeto ganhou o nome de Spirit of Football, algo como "alma do futebol", e mais duas viagens foram realizadas. Em 2006, uma nova bola recebeu centenas de assinaturas na caminho entre Inglaterra e Alemanha. O mesmo aconteceu em 2010, entre Londres e a África do Sul.

MOMENTOS DO SPIRIT OF FOOTBALL

  • Viagem de 2010: Moro Naba, líder africano, driblou as regras e assinou a bola sem ter feito embaixadinhas ao lembrar que, na infância, foi goleiro

  • Divulgação

    Viagem de 2006: Christian e Phil começam a jornada no Battersea Park, onde foi disputado o primeiro jogo com regras modernas da história

  • Divulgação

    Viagem de 2002: Criando a tradição, bola assinada que viajou da Europa até a Ásia faz parada na Cidade Proibida de Pequim

Para 2014, o trajeto já está definido. Em 9 de janeiro do ano da Copa, o grupo, agora com cinco integrantes (chegaram o neozelandês Andrew Aris e o brasileiro Fernando Godoy), sai da Inglaterra para um roteiro de quatro meses e 24 países. A chegada ao Brasil está prevista para o dia 6 de junho.

Em dez anos e três viagens, algumas tradições já foram criadas. Em todas as paradas, os amigos organizam uma partida de futebol, que pode acontecer em quadras ou campos ou mesmo nas ruas. "O importante é mostrar como o futebol aproxima as pessoas. Como é uma língua que permite a comunicação entre pessoas que não falam, necessariamente, o mesmo idioma", conta o brasileiro da turma, o ex-jogador Fernando Godoy.

Mais rigoroso, porém, é o ritual de assinaturas: só assina quem faz embaixadinhas. A única exceção veio em uma das viagens pela África. "Em um encontro com o líder religioso Moro Naba, o Andrew, da Nova Zelândia, falou que, se ele quisesse assinar, só se fizesse as embaixadinhas. Quando jogaram a bola para ele, ele pegou com as mãos e já foi assinando. O Andrew, que é um brincalhão, gritou 'Não'. E todos os seguranças levantaram. Foi então que o líder africano surpreendeu todo mundo. Ele disse: 'Eu vou assinar sim. Fui goleiro na infância. No futebol, sou o único que pode colocar a mão na bola. E todo mundo relaxou'", conta Fernando.

Histórias como essa não faltam durante as viagens. Na primeira versão, em 2002, por exemplo, eles jogaram futebol com monges budistas no alto das montanhas da China. Organizaram uma partida com crianças carentes em zonas de conflito no Quirguistão. Até mesmo saíram correndo da máfia coreana. "Todos que participam do projeto são pessoas normais, trabalhadoras. Mas a cada quatro, eles separavam dois, três meses para viajar em aventuras até a Copa do Mundo. Nas primeiras, saíram sem saber onde iriam dormir, o que iriam comer, mas buscando sempre o lado bom do futebol".

Para a versão Brasil-2014, porém, as coisas ficaram mais organizadas. Fernando foi convocado para fazer parte do grupo em 2010, para divulgar o Spirit of Football no Brasil. Ao pensar em como iria apresentar o trabalho aos brasileiros, desenvolveu um projeto social, que envolve palestras em comunidades carentes e escolas. "Esse projeto já começou e vai até dezembro de 2013. E, quando a bola começar a viajar, devemos voltar aos lugares mais importantes. E essas visitas já ensinaram muitas coisas. Na primeira delas, inclusive, encontramos um historiador de Campinas. Ele mostrou um estudo que revela que seis anos antes de Charles Miller chegar ao Brasil com a primeira bola de futebol, o jesuítas já jogavam bola em um colégio em Campinas".

Gostou do projeto? Visite o www.sof2014.com.br para obter mais detalhes.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos