Avó aos 34 anos, Francisca Falcão é a pedreira mais 'hypada' da arena Castelão
Roberto Pereira de Souza
Do UOL, em Fortaleza
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Roberto Pereira de Souza/UOL
Vovó Falcão, a pedreira mais famosa da arena Castelão
Francisca Falcão tem 34 anos, três filhos e três netos. Ela fala da família com o orgulho da mulher nordestina que enfrenta as principais barreiras sociais para cuidar da casa. Falcão é pedreira-simbolo do Castelão, em Fortaleza (CE). Além de cuidar da casa como mãe e avó, ela arranja tempo para trocar os azulejos do banheiro do quarto de um dos filhos. Nessa obra, não tem quem não conheça a "vovó Falcão".
"Sim, faço tudo. Meu filho precisava de um banheiro. Levantei as paredes, dei acabamento sozinha, no prumo e no nível de piso", explica Falcão, empolgada por dar a entrevista e poder falar da importância de estar ali, terminando a arena que vai sediar alguns jogos da Copa das Confederações (junho de 2013) e Copa do Mundo (junho de 2014).
Obras no Castelão
"Sou a terceira geração que trabalha nesses estádio. Meu avô ajudou a construir o Castelão antigo, junto com meu pai".
E como é ser avó aos 34 anos?
"É bom. Também fui mãe muito jovem. Lá em casa, desde cedo eu já mexia com construção, sabia? Tinha oito anos e ajudava meu pai a tirar o nível do terreno com aquela mangueira transparente de água. Eu era um meninho, naquele tempo", lembra com sorriso de quem fazia coisas erradas.
Falcão está na obra do novo Castelão desde 2010. Foi contratada na primeira turma junto com outras cinco mulheres. Do grupo de seis, apenas restaram três. Antes de desempenhar a função de pedreira, a vovó foi treinada pela construtora e aprendeu a ler e a escrever corretamente.
"Sabia ler e escrever só meu nome. Aqui tive aulas após o trabalho, das 5 da tarde até as 7 da noite. Fico triste porque a obra está chegando ao fim, levo comigo essa experiência de ter aprendido coisas novas", explicou a pedreira.
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Francisca Falcão tem 34 anos, três filhos e três netos. Cuida da casa como mãe e avó, troca os azulejos do banheiro do quarto de um dos filhos, além de trabalhar de pedreira no Castelão.
Uma das coisas que aprendeu foi ficar presa a uma corda para dar acabamento nas paredes mais elevadas. "Faço o que qualquer homem faz aqui dentro", responde, demonstrando certo espírito de competição.
Os dias passados na obra ajudaram a jovem vovó a cultivar outros sonhos: "Como já aprendi a ler e a escrever posso mudar de profissão, né. Quero fazer um curso de segurança armada. Gosto do serviço e da farda."
O outro sonho de Falcão está sendo realizado aos poucos: guardar dinheiro para ver um jogo da Seleção de Mano Menezes. "Já estou economizando para comprar os ingressos. Quero trazer minha familia para ver um jogo desses", anuncia a pedreira.
Mas se Falcão fez sucesso nos andaimes e no acabamento dos banheiros do estádio, Mirna Maia quebrou outro tabu na obra, ao assumir a Prefeitura da Arena.
De diretora de hospital, a administradora assumiu o comando da produção diária dos bastidores da construção, cuidando da qualidade dos restaurantes, das filas dos operários e da acomodação dos técnicos contratados.
Mais de mil operários estão sob sua responsabilidade, quando o assunto é relacionamento humano entre engenheiros e funcionários.
"Nunca tinha feito isso e me sinto muito à vontade, também. Toquei sozinha, mas, agora, tenho duas assistentes no dia a dia.", disse a prefeita Mirna. "A prefeitura cuida dos detalhes administrativos. Estou abaixo de meu gerente de área. Tudo o que acontece com os operários, passa por aqui".
Acabada a obra, Mirna pretende continuar o processo de gestão que trouxe do hospital. "Gosto de trabalhar com pessoas, acho que vou continuar em outras obras, sim."