Para se defender, Fifa alega que subornos fazem parte do salário da maioria da população da América do Sul
Paulo Passos
Do UOL, em São Paulo
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EFE/Mario Ruiz
Fifa, presidida por Joseph Blatter, tentou se defender de escândalo
Ciente dos subornos recebidos por João Havelange, ex-presidente da Fifa, e Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, da empresa de marketing esportivo ISL pela negociação dos direitos de transmissão das Copa do Mundo de 2002 e 2006, a Fifa se defendeu alegando que receber propinas é comum entre africanos e sul-americanos. De acordo com os documentos que condenam os cartolas brasileiros, divulgados pela própria entidade na última quarta-feira, os advogados da Fifa alegaram que exigir a devolução do dinheiro usado no suborno era "quase impossível".
"Eles justificam isso com o argumento de que uma queixa da Fifa na América do Sul ou África dificilmente seria aplicada, já que pagamentos de subornos pertencem ao salário recorrente da maioria da população", relata trecho da decisão judicial do Tribunal do Cantão de Zug, na Suíça. A alegação de que receber propina era algo cultural entre sul-americanos e africanos foi um argumento usado pelos advogados da Fifa para tentar – sem sucesso – defender a diretoria da entidade.
Teixeira e Havelange foram condenados pela Justiça Suíça por receberem 21,94 milhões de francos suíços (R$ 45 milhões) em subornos da ISL. A Fifa também foi condenada por gestão desleal, já que seus dirigentes tinham conhecimento da existência das propinas. Durante o processo, os representantes legais da Fifa alegaram que a entidade não era obrigada a solicitar que Ricardo Teixeira entregasse o dinheiro obtido em propinas.
Em 2010, os brasileiros pagaram uma multa e se livraram das condenações. Desde então, o processo foi mantido em sigilo. Porém, nesta quarta-feira, o Tribunal Federal da Suíça decidiu divulgar os documentos e revelar os dirigentes envolvidos no caso de corrupção.
Durante a década de 1990 e o início da década seguinte, a ISL foi a principal parceira comercial da Fifa. Em 2001, a empresa de marketing esportivo faliu e uma investigação da Justiça da Suíça revelou que houve pagamentos de mais de 150 milhões de francos suíços (R$ 311 milhões) em propinas para dirigentes em troca de benefícios em negociações comerciais de direitos de transmissão.
Além de presidente da CBF, Ricardo Teixeira foi integrante do comitê executivo da Fifa por mais de uma década. Em março de 2012, ele renunciou aos dois cargos. Já João Havelange, que foi presidente da Fifa durante 24 anos, deixou o cargo vitalício no Comitê Olímpico Internacional, em meio a investigação por corrupção, mas ainda é presidente de honra da entidade máxima do futebol.