19/07/2010 - 09h02

África do Sul colherá benefícios de Copas, diz ex-astro do rúgbi

Marcel Merguizo
Folhapress
Em São Paulo

A última vez que François Pienaar sentou-se com Nelson Mandela para tomar um chá foi em fevereiro passado. Esse cenário, aliás, não deve ter saído da mente do ex-capitão da seleção sul-africana desde que o então presidente e líder nacional o recebeu antes do começo da Copa do Mundo de rúgbi de 1995, realizada na África do Sul.

A história do dia em que Mandela entregou a Pienaar o poema ‘Invictus’’ ficou famosa no cinema devido ao filme de mesmo nome lançado neste ano, no qual os personagens são interpretados por Morgan Freeman e Matt Damon, respectivamente. O poema que inspirou o líder africano na prisão também teria ajudado os Springboks, nome pelo qual a seleção de rúgbi do país é conhecida, na conquista daquele título mundial em 1995.

Exatamente 15 anos depois, a África do Sul voltou a abrigar uma Copa do Mundo. E, para Pienaar, foi outra oportunidade de o país mostrar que o povo está conseguindo superar as diferenças impostas no período de segregação racial do apartheid. Esse talvez seja o grande legado das duas competições mundiais que ocorreram no país nestas últimas décadas, segundo o ex-atleta que hoje tem uma empresa de gestão esportiva e de negócios em entretenimento e mídia.

"A África do Sul ganhou os corações e as mentes de pessoas em todo o mundo pela hospitalidade e vai colher os benefícios nos próximos anos’’, declarou Pienaar, por e-mail, à Folha de S.Paulo. Os Spingboks foram campeões em 1995, mesmo não sendo favoritos, vencendo os temidos All Blacks, da Nova Zelândia, que formavam a melhor seleção do planeta.

Neste ano, porém, os donos da casa foram eliminados logo na primeira fase. De positivo, Pienaar vê o fato de a torcida local continuar apoiando outros países. "Estou imensamente orgulhoso pelo modo como o povo da África do Sul aprovou outras equipes quando os Bafana Bafana não se qualificaram para as oitavas de final. Cada país foi tratado com respeito e saudado com um sorriso caloroso’’, disse.

O próprio Pienaar passou a torcer para a Holanda, que possui uma das maiores colônias do país. Mas não lamentou a derrota na final para a Espanha, campeã depois do 1 a 0 na prorrogação. "A Espanha merecia ser campeã. Apoiei a Holanda na final, e eles poderiam ter vencido, mas perderam suas oportunidades’’, analisou.

Pienaar acompanhou de perto alguns jogos e chegou a visitar a concentração da seleção portuguesa, antes da partida contra a Espanha pelas oitavas de final, na Cidade do Cabo. Os portugueses chamaram de ‘inspiradora’’ a visita do ídolo sul-africano, mas os espanhóis acabaram vencendo a partida por 1 a 0.

Considerado herói nacional, Pienaar destacou os momentos que considera serem os mais importantes da Copa-2010: a cerimônia de abertura e o ‘espetacular’’ gol do sul-africano Tshabalala, na estreia dos Bafana Bafana contra o México (1 a 1).
Já o momento mais triste para o torcedor Piennar foi a defesa do atacante uruguaio Suarez, que evitou com a mão o gol que classificaria Gana, última representante africana no Mundial, para as semifinais. Os ganenses desperdiçaram a cobrança de pênalti e, depois, foram eliminados pelo Uruguai.

Assim acabou a chance de uma nação africana levantar a taça, como Pienaar levantou em 1995, na famosa imagem ao lado de Mandela, tão lembrada pelos torcedores. "A Copa do Mundo de futebol foi muito maior em todos os aspectos e não se deve tentar comparar. A de rúgbi, em 1995, foi o primeiro grande evento esportivo internacional na África do Sul e, nos últimos 15 anos, temos hospedado mais eventos do que qualquer país que conheço.’’

Os eventos passam, mas os ídolos ficam. Agora, é a vez do Brasil, em 2014, 2016... "Nós sempre podemos aprender uns com os outros, mas não quero fazer essa prescrição para o Brasil’’, concluiu Pienaar.

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