Daniel Cassol/UOL

Torcedores uruguaios fazem festa em Montevidéu depois da eliminação na Copa

06/07/2010 - 19h34

Uruguaios transformam derrota na Copa em festa nas ruas de Montevidéu

Daniel Cassol
Em Montevidéu (Uruguai)

Nem precisava. Mas o gol de Maxi Pereira e a pressão sobre a Holanda nos minutos finais fizeram com que a queda da seleção uruguaia na Copa do Mundo se transformasse em festa nas ruas de Montevidéu. O orgulho pela atuação dos jogadores pintou de celeste as ruas da cidade desde horas antes da partida desta terça-feira.

URUGUAIOS SAEM ORGULHOSOS

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    Presidente do Uruguai, José Mujica, assistiu à derrota da seleção em auditório de Montevidéu

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    Enquanto isso, nas ruas da capital, as uruguaias que pintaram o rosto não perderam o sorriso

  • E o vendedor de adesivos Miguel Echeverría já estava satisfeito até com 1 a 0 para a Holanda

“Marchamos com dignidade”, foram as primeiras palavras do presidente do Uruguai, José Mujica, assim que a equipe foi eliminada da Copa. Mujica acompanhou a partida ao lado de 3 mil pessoas no auditório Sodre, no centro de Montevidéu. Ao repórter brasileiro, o presidente uruguaio fez uma comparação exagerada para mostrar a alegria de um país pequeno ter chegado tão longe. “Somos 3 milhões de habitantes, quase um bairro de São Paulo”, afirmou, para completar: “Perdemos com muita dignidade. Foi bárbaro.”

A duas quadras dali, milhares de torcedores se concentraram para assistir à semifinal em um telão instalado na Praça da Independência. Montevidéu havia acordado celeste numa terça-feira que deveria ter sido feriado desde manhã, como pregava uma campanha que circulou pela internet. Por volta das 15h, o comércio fechou, os táxis desapareceram, e o único movimento era visto nos bares com televisão e na avenida 18 de Julho, caminho para a praça com maior concentração de torcedores.

O ambulante Miguel Echeverria, que vendia por 10 pesos (menos de R$ 1 na cotação desta terça-feira) dois adesivos da seleção, já estava satisfeito mesmo com o jogo em 1 a 0 para Holanda. “Já cumpriu, se não perdermos por muitos gols, nada importa”, afirmou. “Está todo muito contente, porque mesmo um quarto lugar já será bom.”

Neli, que pintava o rosto de um adolescente por cerca de R$ 5, foi entrevistada no exato momento em que Diego Forlán fez o gol de empate. “Não tínhamos isso há muitos anos, a garra 'charrua'. É um grupo muito bom”, disse, para então largar o serviço que fazia e comemorar o gol de empate.

A epopeia celeste na Copa atraiu atenções de todo o mundo. Funcionários de uma empresa chinesa com negócios no Uruguai faziam jus à fama dos turistas orientais e tiravam fotos de tudo que acontecia ao redor. Menos numerosos que os torcedores eram os jornalistas de outros países, mas ainda assim fizeram figura na Praça da Independência. Argentinos, alemães, brasileiros e até iranianos procuravam registrar a apreensão dos uruguaios.

“As pessoas no Irã querem saber como os uruguaios vivem essa paixão pelo futebol”, explicava Mehdi Bizari, correspondente da televisão estatal do país em Buenos Aires, enquanto sua mulher o ajudava com as entrevistas.

Os dois gols da Holanda em sequência derrubaram o que havia de esperança de vitória, mas não calaram os gritos de “soy celeste” da torcida. “O Uruguai já demonstrou muito neste Mundial. Os jogadores colocaram tudo em campo”, disse o ex-jogador de futebol Ruben Sosa, presente ao auditório Sodre.

O gol de Maxi Pereira no final da partida e a pressão na área da Holanda nos acréscimos não permitiram um lamento sequer após o apito do árbitro. Sem exageros, os uruguaios viram na equipe comandada por Oscar Tabárez um grupo de compatriotas trabalhadores e dedicados, que levaram o país a um posto que ninguém imaginaria na véspera da Copa.

“Foi muito bom para o futebol uruguaio, porque há muito tempo não chegávamos neste ponto. Para nós, é um orgulho o Uruguai chegar a esta posição”, afirmou o jovem Matias, ao lado de seus colegas das categorias de base do Bella Vista. “A conduta”, respondeu quando perguntado qual era o exemplo deixado pelos jogadores da seleção. Com simplicidade, resumiu o sentimento de muita gente por estas bandas: “Há muita conduta ruim, jogadores que não se interessam pelo futebol e só pelo dinheiro. Isso não é bom. Fica um exemplo. Vamos La Celeste!”. Nas ruas, a festa continuou mesmo com o cair da noite.

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