Montagem Folha e AFP

Eusébio, Figo e C. Ronaldo: representantes das três gerações de craques de Portugal

08/06/2010 - 07h00

'Exportação' de jogadores faz Portugal virar potência na Copa do Mundo

Rafael Krieger
Em São Paulo

FELIPÃO VÊ SELEÇÃO "VITORIOSA"

  • AFP


    Luiz Felipe Scolari comandou Portugal entre 2003 e 2008. Embora não tenha conquistado títulos, conseguiu mudar a imagem da seleção.

    Para o treinador, os últimos resultados foram suficientes para que o futebol português adquirisse seu próprio estilo.

    "Já possui uma identidade própria, que foi criando no decorrer das competições, e tornando vitoriosa esta identidade na seleção e nos clubes", analisou Felipão.

    "Tem um estilo bem definido e, mesmo mudando de técnico, o básico do estilo permanece", completou.

Se o Brasil começasse a Copa de 1990 no mesmo grupo de Portugal, seria apenas mais um adversário. Afinal, naquele Mundial, eles nem conseguiram passar das eliminatórias. Vinte anos depois, enfrentar os portugueses logo na primeira fase tornou-se bem mais arriscado. Foi tempo suficiente para que os grandes centros do futebol descobrissem um novo celeiro de craques, o que fez a seleção lusa ganhar experiência e respeito.

Tudo isso começou justamente naquela época, há quase 20 anos, com a conquista do título mundial Sub-20, em 1991. O adversário da final foi o Brasil. A seleção que tinha Roberto Carlos, Paulo Nunes e Élber não conseguiu ganhar do time que contava com Luís Figo, e perdeu a taça nos pênaltis.

Quem comandava aquela seleção era Carlos Queiroz, o mesmo técnico que conduz Portugal em sua terceira Copa consecutiva, um feito inédito. Queiroz agora leva para a África do Sul um time que tem apenas nove dos 23 jogadores atuando no Campeonato Português.

Desde então, Luis Figo e Cristiano Ronaldo chegaram a conquistar o prêmio de melhor jogador do mundo, mas o país ainda espera por um grande título. Ao menos, a seleção consegue se manter entre as 15 primeiras do ranking da Fifa desde 2004, ano em que foi vice-campeã europeia.

A Eurocopa de 2004 foi o primeiro marco da “Era Scolari”, que teve ainda a conquista do quarto lugar na Copa de 2006. Um dos responsáveis pelo desenvolvimento do futebol local, o treinador brasileiro considera a exportação de talentos determinante para tornar o país um celeiro de craques e ajudar a desenvolver a seleção.

“Alguns dos grandes jogadores portugueses vão jogar em outros países porque a oferta financeira é bem maior que a de Portugal”, explicou Luiz Felipe Scolari ao UOL Esporte. “Com isto, ajudam a seleção com os conhecimentos que adquirem nos outros locais em que jogam”, continuou o treinador.

MARCOS DA EVOLUÇÃO DE PORTUGAL

1966

Com Eusébio artilheiro, conquista o terceiro lugar na Copa do Mundo

1986

Seleção volta a disputar um Mundial, mas é eliminada na primeira fase

1991

Conquista o Mundial Sub-20, dois anos depois de levar título no Sub-19

1995

Lei Bosman abre o mercado europeu. Nomes como Figo, Fernando Couto e Vítor Baía se destacam no exterior

2002

De volta a uma Copa, time de Figo e companhia fica na fase de grupos

2004

Alcança a decisão da Eurocopa, mas perde final em casa para a Grécia

2006

Comandada por Felipão, seleção chega à semi da Copa do Mundo

2010

Joga a terceira Copa seguida e aposta no astro Cristiano Ronaldo; Brasil é adversário na primeira fase

“Eles conhecem outras formas de dirigir equipes, outras formas de treinamento e ajudam o selecionador e os colegas que jogam em Portugal”, completou Felipão. Autor do livro Luiz Felipe, o homem por trás de Scolari, o jornalista José Carlos Freitas acompanhou a seleção de Portugal desde o começo dessa nova ascensão, e ratificou essa análise.

Para ele, o marco da evolução do futebol português foi o Caso Bosman, uma decisão judicial de 1995 que abriu as fronteiras do mercado europeu de jogadores: “Os portugueses passavam, assim, a jogar no seu dia a dia com os melhores do mundo e não apenas algumas vezes por ano, quando os defrontavam em jogos da seleção”.

“Essa aproximação quebrou as barreiras psicológicas e levou-os a pensar: ‘se jogamos ao lado deles, é porque somos tão bons quanto eles’”, observou Freitas. O pesquisador cita Luis Figo, Rui Costa, Fernando Couto, Vitor Baía, João Vieira Pinto e Pauleta como “os rostos mais importantes dessa explosão do talento português além fronteiras”.

Especialista em Felipão, Freitas não deixou de citar técnico brasileiro como um dos que mais contribuíram para o ressurgimento do futebol português. Mas a sua ressalva final sobre o trabalho dos craques e treinadores à frente da seleção reflete a grande desconfiança dos próprios jogadores da seleção atual.

“Os resultados finais, não se traduzindo em conquista de títulos, acabaram por ser bem importantes”, diz o pesquisador, referindo-se ao terceiro lugar na Eurocopa de 2000, o vice-campeonato europeu de 2004 e o quarto lugar na Copa de 2006.

É por causa dessa escassez de títulos que jogadores como o luso-brasileiro Deco fazem questão de frisar que Portugal não tem favoritismo nenhum na África do Sul. O problema é que tanto ele quanto Cristiano Ronaldo e companhia estarão lá para provar justamente o contrário.

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