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Por segurança, jogadores deverão fazer uma passagem discreta pelo Zimbábue

31/05/2010 - 17h45

Seleção terá exposição mínima em 21 horas em solo do Zimbábue

Alexandre Sinato e Bruno Freitas
Em Johanesburgo (África do Sul)

O primeiro dos dois jogos amistosos que a seleção de Dunga realiza na África antes da estreia na Copa do Mundo acontece nesta quarta-feira, no Zimbábue, contra a equipe local. Segundo a embaixada brasileira no local, a orientação é evitar exposições desnecessárias da delegação nas pouco mais de 21 horas previstas de visita das estrelas do futebol a um dos países com realidade sócio-política mais complicada do continente.

VIOLÊNCIA E DESEMPREGO

A realidade sócio-política do Zimbábue é familiar a muitas nações pobres africanas, com cenário político caótico e índices elevados de violência e desemprego.

Os últimos números de criminalidade do Zimbábue foram anunciados em 2004. De acordo dados divulgados pela saúde pública local e reproduzidos pela ONU, foram 34,3 homicídios para cada 100.000 pessoas - o Brasil teve, em 2008, 22 homicídios para o mesmo grupo de pessoas.

O país teve uma taxa de desemprego de 95% em 2009. De acordo com dados da CIA referentes a 2004, 68% da população vive abaixo da linha de pobreza.

A violência do Zimbábue também tem conotações políticas. Desde a sua independência em 1980, o país é governado por Robert Mugabe, que nunca saiu do poder desde que se tornou o primeiro ministro do país. Nas eleições de 2002 e 2008, o líder político foi acusado de manipular votos.

No pleito de dois anos atrás, Mugabe foi superado pelo oposicionista Morgan Tsvangirai no primeiro turno das eleições presidenciais. Mas, antes do segundo turno, os integrantes do partido de oposição foram vítimas de ações violentas.

Depois que a manipulação dos votos chamou atenção da opinião pública internacional, chegou-se a um acordo entre as partes: Mugabe seguiria presidente e Tsvangirai seria o primeiro ministro. Mesmo assim, as discordâncias políticas continuam.

Baseado em Johanesburgo na preparação para a Copa, o Brasil deixa a cidade sul-africana no início da noite de terça. A expectativa é que a delegação desembarque no Zimbábue por volta das 22h, horário local, no mesmo dia. Na quarta, a equipe retorna para a África do Sul imediatamente após o jogo, marcado para 15h30 (10h30, de Brasília).

"Recebemos uma notificação de Brasília afirmando que não será possível a realização de nenhum evento. Não vai ter nenhuma exposição dos jogadores. Eles saem do aeroporto ao hotel, vão do hotel ao estádio e do estádio ao aeroporto", relata Ismael Menezes, oficial consular da embaixada brasileira em Harare, em contato por telefone com a reportagem do UOL Esporte.

Mesmo assim, o governo local usará a partida como trunfo político. O presidente Robert Mugabe tem presença confirmada na partida de quarta, no estádio Nacional de Harare. No cargo há 30 anos, o mandatário ainda tomou medidas para que o estádio esteja cheio na festa com os brasileiros.

A principal carga de ingressos será vendida com preços por volta de US$ 10, valor considerado alto para a maioria da população. Por isso, Mugabe determinou meio expediente para o funcionalismo público no dia do jogo, como incentivo à lotação máxima.

A visita da seleção brasileira ao país foi comemorada como um triunfo histórico para os zimbabuanos, por meio das páginas do jornal estatal. O The Sunday Mail vem tratando a partida como uma autêntica vitória do Zimbábue numa Copa do Mundo.

Na quarta-feira, o esquema de segurança para a partida da seleção em Harare contará com policiais e contingente de segurança privada.

O Zimbábue tem índices alarmantes de violência, mas a questão não preocupa os jogadores brasileiros, que veem o amistoso como uma oportunidade beneficente.

"Da seleção, não conheço nada. Mas do país, sei que tem muitas brigas, muitos assassinatos. Tô feliz de ir, poder jogar para a torcida, levar alegria para aquele pessoal de um país tão sofrido", comentou nesta segunda Felipe Melo, volante titular da seleção.

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