Polícia busca cinco integrantes de máfia de ingresso em SP, DF, ES e CE
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
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Osvaldo Praddo/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
O executivo inglês Raymond Whelan (foto) é acusado de ser o chefe da máfia
A Polícia Civil do Rio de Janeiro encerrou na semana passada a primeira fase das investigações sobre a máfia do ingresso. Uma nova etapa de apurações sobre as atividades da quadrilha internacional que vendia ilegalmente bilhetes da Copa já foi iniciada. Nela, policiais buscam pelo menos cinco suspeitos de colaborar com a máfia mesmo fora do Rio.
O trabalho da polícia e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) já constatou que cinco pessoas, ainda não completamente identificadas, trabalhavam para a quadrilha em quatro Estados do país: São Paulo (duas), Espírito Santo, Ceará e Distrito Federal. Policiais, agora, tentam avançar com a investigação para prender esses suspeitos.
A própria denúncia sobre a máfia do ingresso apresentada pelo MP-RJ à Justiça já aponta a existência de ligações de membros da máfia com cambistas de outros Estados. De acordo com o documento, obtido pelo UOL Esporte, o acusado Sergio Antonio de Lima ligou para esses cinco suspeitos para negociar bilhetes.
"Sergio é extremamente experiente no ramo do cambismo possuindo contatos com outros cambistas em outros Estados", descreve o promotor Marcos Kac, autor da denúncia. "O acusado tem 'braços' em São Paulo, atuando com os cambistas Regis e Levi; em Brasília, com o cambista Branco; no Espírito Santo, com o cambista Rodrigo; e no Ceará."
Nem a polícia nem o MP-RJ sabem exatamente qual o nome completo desses suspeitos citados. Justamente por isso, Regis, Levi e outros ainda não tiveram sua prisão solicitada à Justiça. A expectativa é que, com o prosseguimento das investigações, os suspeitos sejam encontrados.
"Ainda estamos atrás informações mais suspeitos", complementou o delegado Fabio Barucke, titular da 18ª DP (Delegacia de Polícia) do Rio, responsável pela operação Jules Rimet, que desbaratou a quadrilha.
Negociação interceptada
Foi Barucke quem liderou o trabalho para a prisão dos 12 acusados pegos durante a Jules Rimet. Antes de a operação ser deflagrada, agentes da delegacia de Barucke já haviam interceptado cerca de 50 mil ligações telefônicas entre suspeitos.
Numa das ligações interceptadas, Sergio conversa com um suspeito que fala de Fortaleza. Eles negociam ingressos da Copa que teriam sido dados pela Fifa a escola da cidade, a pedido do governo federal.
A conversa foi gravada no dia 13 de junho, um dia após o início da Copa do Mundo, com autorização da Justiça. Leia um trecho da transcrição obtida pelo UOL Esporte:
Interlocutor: As escolas daqui [de Fortaleza] ganharam 7.500 ingressos e esses ingressos que as escolas ganharam vieram para a rua. Eu vou fazer o maior esforço para vender no menor preço possível.
Sergio: Eu paguei nisso aí R$ 350. Porque você sabe que a gente não paga o preço oficial.
Interlocutor: É verdade.
Sergio: A gente paga o preço mais caro. Aí você vê o que faz aí, está bom?
Interlocutor: Está. Pode deixar.
Sergio: Falou, filhão. Estou te esperando.
Operação Jules Rimet
Na Jules Rimet, quase 200 ingressos da Copa já foram apreendidos, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidades e até a membros de comissões técnicas. Dez ingressos, inclusive, eram reservados a integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.
Segundo a Polícia Civil, a quadrilha vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo.
A polícia informou que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.
Todos os acusados alegam ser inocentes, inclusive, Sergio Antonio de Lima.