Polícia investiga elo de máfia do ingresso com ingleses detidos em hotel

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Bruno Braz/UOL

    Polícia acredita que suspeitos detidos no Copacabana Palace (foto) integram quadrilha de cambistas

    Polícia acredita que suspeitos detidos no Copacabana Palace (foto) integram quadrilha de cambistas

Os 12 acusados pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) de integrar a chamada máfia do ingresso da Copa do Mundo já estão presos. Isso não significa, porém, que todos os suspeitos de integrar a quadrilha internacional de venda de bilhetes do Mundial tenham sido pegos pela polícia.

Agentes da 18ª DP (Delegacia de Polícia) do Rio acreditam que outros membros do grupo ainda estejam livres. Investigam, inclusive, uma possível ligação entre o bando e outros dois estrangeiros suspeitos de cambismo que foram detidos durante o Mundial, mas liberados após pagarem fiança e comprometerem-se a não deixar o país.

De acordo com investigações, esses cambistas seriam os ingleses Roger Anthony Leigh e Desmond John Lacon. Os dois foram presos por agentes da Deat (Delegacia Especial de Apoio ao Turismo) no dia 21 do mês passado, no hotel Copacabana Palace. Junto com eles, foram apreendidos ingressos e cerca de R$ 3 mil em moeda estrangeira.

No mesmo hotel, estava hospedada a cúpula da Fifa na Copa. O executivo Raymond Whelan, apontado como chefe da máfia do ingresso, também ocupava uma suíte no local.

As investigações apontam que o acusado de ser o número 2 da quadrilha, o argelino Mohamadoud Lamine Fofana, pegava ingressos para revender com Whelan no próprio Copacabana Palace. Um escuta telefônica obtida pelo UOL Esporte, contudo, mostra que o executivo não era a única fonte de bilhetes de Fofana dentro do hotel.

Nesta escuta, Fofana conversa com uma pessoa chamada Roger sobre bilhetes do Mundial. A conversa acontece no dia 17 de junho, dias antes de Roger Anthony Leigh ser detido. A polícia suspeita que o interlocutor de Fofana ao telefone e o inglês detido sejam a mesma pessoa.

Leia trechos traduzidos da ligação entre os dois:

Roger: Você me escuta, Lamine?
Fofana: Alô, eu te escuto, Roger. Escuta: eu tenho comigo US$ 10 mil. Escute cuidadosamente: eu não quero perder dinheiro, eu não quero perder amizade, eu não quero perder nada. Eu não quero isso. Se eu não te respondi, é porque estou com um problema para resolver. Eu vou amanhã de manhã, às 8h30. Eu estarei no Copacabana Palace, ok? Com isso eu encerro a situação com você.
Roger: Você vai comprar box
[tipo de bilhete vip] para Uruguai x Inglaterra?
Lamine: Escuta: tenho US$ 10 mil. Ele
[pessoa não identificada] disse que trará o dinheiro antes da meia noite. Se ele me trouxer, eu compro o skybox para o Uruguai. Se não, guardo esses US$ 10 mil que ele me deu e compro outra coisa que você tenha.
Roger: Te vejo às 8h30. Não se atrase, por favor.  (...) Eu estarei no Palace.
Lamine: Estarei lá. Tchau.

Investigadores da 18ª DP e da Deat já estão trocando informações devido às interceptações telefônicas. É na 18ª DP que estão centralizados os trabalhos de investigação da máfia do ingresso. Foi de lá que surgiu a Operação Jules Rimet. O delegado Fábio Barucke, titular da delegacia, já informou que vai prosseguir com a apuração sobre o cambismo na Copa. 

Operação Jules Rimet

Na Jules Rimet, quase 200 ingressos da Copa já foram apreendidos, além de dinheiro e máquinas para pagamento em cartão de crédito. Os bilhetes pegos pela polícia eram reservados pela Fifa a seus patrocinadores, a clientes de pacotes de hospitalidades e até a membros de comissões técnicas. Dez ingressos, inclusive, eram reservados a integrantes da comissão técnica da seleção brasileira.

Segundo a Polícia Civil, a quadrilha desbaratada na operação vendia ingressos por até R$ 35 mil. Com isso, lucrava até R$ 1 milhão por jogo.

A polícia informou que o esquema não é novo. Ele funcionava há quatro Copas. O trabalho seria tão lucrativo que integrantes da quadrilha trabalhariam durante o torneio e depois descansariam por quatro anos até o próximo Mundial.

Todos os acusados alegam ser inocentes. Roger Anthony Leigh e Desmond John Lacon também. Para serem soltos após a detenção no Copacabana Palace, comprometeram-se a não deixar o país.

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