10 motivos para entender a rivalidade entre Brasil e Argentina

Do UOL, em São Paulo

24 anos depois da Copa do Mundo de 1990, torcedores argentinos chegaram ao Brasil cantando aquela que se tornaria a música mais marcante da Copa de 2014: "Brasil, decime que se siente". A letra faz piada com a água 'batizada' entregue por Diego Maradona aos jogadores brasileiros nas oitavas de final daquela Copa. Se isso, como canta a música, nunca será esquecido, imagine se a Argentina levantar a taça da Copa do Mundo em pleno Maracanã...

A história que explica a rivalidade intensa entre Brasil e Argentina começa muito antes de Pelé e Maradona, muito antes do futebol, e antes até de Brasil e Argentina existirem. Entenda, em alguns motivos, como começou e como evoluiu a rivalidade.

1. Tratado de Tordesilhas
A disputa foi entre Portugal e Espanha, mas serviria como ponto de partida para os próximos episódios históricos que colocariam Brasil de um lado e Argentina de outro. O Tratado, assinado em 1494, dividia os territórios que pertenceriam aos países europeus após a descoberta do novo continente.

2. Colônia do Sacramento
No século XVII, Portugal começou a tentar expandir as fronteiras ao sul do território do Brasil, com o objetivo de dominar a região de Colônia do Sacramento, na outra margem do Rio da Prata. A disputa se sucedeu até o início do século XIX, até a Independência do Uruguai, que ficou com o território.

3. Guerra Cisplatina
Entre 1825 e 1828, o Brasil Imperial e as Províncias Unidas do Rio da Prata – nome da Argentina anterior à primeira constituição – travaram conflito pela posse da Província Cisplatina – que mais tarde se tornaria o Uruguai. O Brasil Imperial perdeu o controle como resultado do conflito, e assim o governo de Dom Pedro I perdeu ainda mais força.

4. Primeiros jogos
O primeiro jogo entre as duas seleções aconteceu em 20 de setembro 1914, em um amistoso em Buenos Aires, vencido por 3 a 0 pela Argentina. Uma semana depois, o Brasil venceu por 1 a 0 na primeira edição da Copa Roca, em 1914 - a Argentina nem considera essa a primeira versão. Conta os títulos do torneio apenas a partir de 1939. Na ocasião, no entanto, os jogadores brasileiros comemoraram o título em Buenos Aires. Foi a primeira competição conquistada pelo Brasil na história. Argentinos já tinham duelado contra Uruguai – muitas vezes – e Chile.

5. Itaipu
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), só saiu do papel na década de 70 após a assinatura do Acordo Tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina. Os três países viviam sob ditadura militar na época, e a Argentina temia que, após a construção da hidrelétrica, o Brasil tivesse o poder de inundar completamente a capital Buenos Aires caso abrisse completamente todas as comportas de Itaipu. Foi preciso provar-se o contrário para que o governo argentino permitisse a construção, em processo que desgastou relações entre os países.  

6. Pelé x Maradona
A Argentina deu os primeiros passos como seleção antes do Brasil, no início do século XX. Nos anos seguintes, viu os vizinhos surgirem com muito mais força na América do Sul. Depois, o futebol argentino passou pelo momento mais baixo da história enquanto o Brasil começou a dominar o mundo. O momento histórico é importante para entender o quanto a figura de Pelé – tratado como o melhor da história do esporte – é inversa ao período pelo qual passava o futebol argentino. De 1958 a 1970, o Brasil – de Pelé – venceu três das quatro Copas do Mundo que disputou enquanto a Argentina não conseguiu nada. Depois, houve a situação inversa: Diego Maradona apareceu como outro jogador histórico e levou a Argentina ao sucesso em um período em que o futebol brasileiro não conquistou o mundo, apesar de ter formado excelente time em 1982.

7. Libertadores
Até o fim da década de 80, início da década de 90, os clubes brasileiros não davam tanta importância para a Copa Libertadores. A indiferença fez com que os argentinos largassem na frente do Brasil na conquista. De 90 para cá, no entanto, a rivalidade entre clubes brasileiros e argentinos aumentaram intensamente.

8. Duelos históricos
De 1914 a 2014, foram vários os jogos entre Brasil e Argentina que entraram para a história, por diferentes motivos. Em 1920, a seleção brasileiro foi a Buenos Aires para uma partida e foi recebida com manchetes de cunho racista na imprensa local, contendo o termo "macaquitos" em referência a jogadores afrodescendentes. Em 1978, quatro anos após o primeiro encontro em Copas do Mundo – com vitória do Brasil e eliminação dos adversários – a Copa na Argentina teve desfecho polêmico. Após empate por 0 a 0 em jogo extremamente violento contra o Brasil, os donos da casa venceram o Peru por 6 a 0 e se classificaram para a final em confronto com fortes suspeitas de facilitação do peruano. Naquele ano, a Argentina foi campeã pela primeira vez. Em 82, o Brasil derrubou a Argentina da Copa e, em 1990, viveu o episódio lembrado até hoje nas canções – da água 'batizada'.

9. Reações distintas às provocações
Há um descompasso entre as reações de brasileiros e argentinos às provocações vizinhas. A Argentina encara a rivalidade de forma mais amigável e costuma fazer, de modo geral, brincadeiras mais leves. A música, "Decime que se siente", é bom exemplo: não insulta o Brasil em nenhum momento, apenas provoca ao relembrar o episódio da Copa de 1990. No Brasil, é mais fácil encontrar o ódio ao argentino, às vezes presente até em peças publicitárias. A disparidade das reações contribui para que atitudes reverberem de forma negativa de cada lado.  

10. Temos o que eles não têm. Eles têm o que não temos
A parte saudável da rivalidade se explica pela admiração ao vizinho. Não é difícil encontrar argentinos que digam que os jogadores brasileiros são os mais técnicos do mundo. Nem brasileiros que admitam que os atletas argentinos jogam com mais garra do que todos do mundo. O sentimento é de que o vizinho sempre carregará uma qualidade inalcançável e invejável.

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