Vila Madalena vive insólita micareta após derrota, para espanto dos gringos

Vanessa Ruiz e Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

No dia 8 de julho de 2014, no bairro paulistano da Vila Madalena pintado de verde e amarelo, ao fim de um primeiro tempo de jogo de futebol com uma Copa irremediavelmente perdida, alguns milhares de brasileiros protagonizavam insólita festa, com música, bebida, risos, histeria e aparente alegria.

O que festejavam? "O Brasil já perdeu, não tá vendo? Acabou cinco a zero o primeiro tempo. Eu vou chorar? Chorar por causa disso? Não! Solta o som, DJ!", esboçou um brasileiro, 20 anos se tanto, bêbado e gritando. E o DJ soltou mesmo, baixou o Galvão Bueno e o segundo tempo foi ao som de funk e pagode, na Mourato Coelho, perto da Inácio.

Mas por que estavam assim cantando? "Ah, a gente veio aqui em todos os jogos do Brasil, a gente veio aqui quando a Argentina ganhou, e vibrou com os argentinos. Hoje, estava mais cheio do que todos os dias, estava uma festa linda, agora está seis a zero, e a gente tá tudo aqui, só resta cantar, só resta beber", discorreu uma brasileira, um tempo após o sexto gol da Alemanha, logo após interpretar "Don´t cry for me, Brasil" a plenos pulmões na rua ao lado de um bar, na Mourato com a Aspicuelta.

E de que se valiam para seguir sorrindo? "Você sabe o que eu mais ouvi dos gringos aqui nessa mesma Vila Madalena, nesses dias de Copa? Que o que eles mais estavam gostando no Brasil era do povo. Da nossa alegria, sabe? Da gente fazer festa, da gente ser feliz, ser gentil. Agora o jogo acabou, mas a Copa continua, se o Brasil ganhar ou perder, a gente quis fazer a Copa, não quis? Vamos saber perder e sorrir da própria desgraça", encerrou uma brasileira, do alto de seus 68 anos, na Mourato perto da Wisard.

Assim viveu a derrota brasileira o bairro da Vila Madalena e as milhares de pessoas que foram até lá. Até o terceiro gol alemão - e o primeiro tempo ainda estava na metade - eram torcedores apaixonados pela seleção, cantaram o hino com força e coração, gritaram que acreditavam após o primeiro gol, seguiram esperançosos após o segundo, se desorientaram após o terceiro, entregaram-se em devaneio após o quarto.

E assim foi depois disso. Acabou o primeiro tempo e começaram a música, as risadas, as piadas rindo de si mesmos, o clima de pegação, o assédio machista fora do tom de uns e outros, a micareta que ignorou o sexto gol, e o sétimo, e o primeiro e único, e o apito final.

Mas o que festejavam, os brasileiros? "Eu não sei, não sei se um dia vou entender... Eu acho que é isso que é o Brasil. Vocês fazem festa na vitória, vocês fazem festa na derrota... Obrigado", arriscou um espantado Thomer Pidun, 29 anos, camisa da Alemanha no peito, um constrangimento agridoce no rosto. 

E por que estavam assim cantando, os brasileiros? "Boa pergunta. Na Argentina, um 7 a 1 como esse? Dios, já estariam peleando em las calles, me entiende? Mas aqui, não entendo, é esta festa", disse o argentino Maxi Joto, 21 anos, incapaz de explicar, incapaz de entender.

E de que se valiam para seguir sorrindo os brasileiros? "Eu acho que uma derrota por sete como essa deixa as pessoas tão chocadas, é algo tão inesperado, que as pessoas preferem dar risada, preferem acreditar que não está acontecendo, que nada faz sentido. No sense at all...", resumiu o britânico Matthew Legg, 24 anos, agente de viagens, talvez diante da mais insólita visão de suas viagens. 

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