Argentinos temem violência se jogarem contra o Brasil

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

Até agora os argentinos são só elogios à hospitalidade dos brasileiros, mas um eventual encontro entre as duas seleções no final de semana - caso a Argentina perca da Holanda nesta quarta e venha a disputar o terceiro lugar com o Brasil - deixa os torcedores apreensivos. Eles afirmam que se isso acontecer vão andar em grupos para evitar serem pegos desprevenidos e temem emboscadas no trânsito.

A preocupação de Daniel Condotto, 27 anos, começa no jogo desta quarta-feira em São Paulo, quando a Argentina disputa uma vaga na final da Copa com a Holanda. O morador de Santa Fé acredita que dependendo do andamento da partida podem surgir incidentes. Mas um encontro com o Brasil é certeza de clima quente porque os torcedores dos dois países estarão em grande número. "Neste caso, tenho medo de violência. Eu não vou andar sozinho".

Daniel conta que presenciou um episódio que podia virar briga na Vila Madalena, bairro de São Paulo, quando brasileiros atiraram cerveja em argentinos. Em menor número, o grupo relevou e foi embora o mais rápido possível. "Não era torcedor comum. Era essa espécie de barras brava que vocês têm aqui".

A estratégia para aumentar a segurança de agora em diante é frequentar locais com muitos argentinos e se locomover sempre em bando. Se precisar viajar para Brasília, opção não desejada porque é onde se decide o terceiro lugar, Nestor Lanzillotta, 49 anos, se preocupa com a saída da Fan Fest.

Sem ingresso, ele vai ver o jogo no local e a concentração de argentinos e policiais traz segurança. Mas no caminho até pegar o carro e no tráfego pelas ruas do entorno da Fan Fest a situação pode fugir ao controle. "Se provocarem darei uma risadinha e sairei".

Mas as frases mais agressivas que os argentinos têm enfrentado até o momento são encaradas como brincadeiras vinculadas ao esporte. Juan Pernia, 24 anos, foi ao Carrefour comprar comida e não ligou quando, no caminho, mostraram o dedo do meio. Encarou como coisas do esporte e ressaltou que na fila do caixa todos foram cordiais e puxaram papo.

Ariel Fernando Miembro, 25 anos, diz que a rivalidade com o Brasil existe somente dentro das quatro linhas e fora não há qualquer reserva em relação aos brasileiros. Os países que os argentinos realmente não gostam são outros.

Daniel usa palavrões para classificar os sentimentos por Inglaterra e Chile. Justifica que a Guerra das Malvinas azedou a relação com os dois. "Os ingleses invadiram a Argentina e contaram com apoio do Pinochet (ex-presidente chileno)".

O que os argentinos não entendem é a maneira como os brasileiros torcem. As expressões mais usadas para o comportamento são "peito gelado" e "frio". Pablo Cardallido, 32 anos, estava na Fan Fest do Rio de Janeiro no dia do jogo com o Chile e não se conforma que havia gente sem prestar atenção aos pênaltis.

Ariel também fala em falta de paixão e que os cantos do Brasil não preenchem o estádio. Critica que quando a seleção está perdendo os torcedores xingam os jogadores, atitude contrária a dos argentinos. "Nessa hora gritamos mais porque é quando precisamos levantar o time". Parte da torcida brasileira realmente deixou ontem o Mineirão ainda no primeiro tempo do jogo contra a Alemanha, quando o Brasil já perdia de 5 x 0.

Ele acredita que é essa diferença na maneira de torcer que faz os argentinos serem fotografados por acamparem nas cidades onde a seleção passa. Ariel segue a seleção com mais três amigos num Subaru 1998. Eles dormem no carro e comem sanduíches ou em restaurantes baratos.

O que os argentinos se queixam na Copa é do ambiente dos estádios, que fazem os jogos se parecerem muito mais com a Liga dos Campeões do que com a Libertadores. Mas todos dizem que o culpado não é o Brasil, mas a FIFA.

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