Disputa por "tri" do troféu da Copa-14 repete 70, mas ficou mais difícil...

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

Chegando às semifinais, a Copa de 2014 iguala uma marca bem peculiar da Copa de 70. Não se trata de média de gols ou outras estatísticas: neste Mundial, Brasil, Alemanha e Argentina podem levantar o troféu pela terceira vez. Sim, a seleção brasileira é pentacampeã; a alemã, tri. Mas esta taça, criada em 1974, só levantaram duas vezes, assim como os 'hermanos'.

Em 70, a situação era quase idêntica: chegaram às semifinais Brasil, Itália e Uruguai. Três bicampeões, candidatos à conquista da Taça Jules Rimet. O troféu antecessor era acanhado perto do atual, e durante a disputa da Copa, ninguém imaginava como ele acabaria sendo um marco na história esportiva (e policial).

Quase idêntica, porque em 70 o caminho até o tricampeonato foi relativamente mais curta. Para que algum país levantasse três vezes a Jules Rimet, foram necessárias nove copas. A disputa foi bastante aberta: nove seleções diferentes participaram das finais. O Brasil foi o que mais chegou nas decisões: jogou quatro.

De 1974 até hoje aconteceram mudanças no futebol, e países que eram tradicionais despareceram do mapa do esporte, casos de Hungria e Tchecoslováquia, hoje República Tcheca. As disputas ficaram mais concentradas entre um grupo poderoso de seleções. Isso não significa que as coisas ficaram mais fáceis; muito pelo contrário.

A Copa de 2014 será a 11ª com o novo troféu, sem que ainda seja conhecido um tricampeão. Nas 11, apenas um grupo seleto de sete países chegou a finais. A seleção brasileira foi a três delas, um aproveitamento bem pior do que obteve até 1970. O maior finalista passou a ser a Alemanha, justamente o adversário brasileiro desta terça-feira – foram quatro finais.

Quase idêntica também porque, naquela época, as regras da Fifa eram diferentes: aquele que levantasse a taça pela terceira vez ganharia a posse dela, em definitivo. E o Brasil ganhou.

A pequena Jules Rimet, porém, durou pouco em solo brasileiro: em 1983, despareceu da sede da CBF, no Rio de Janeiro. Quatro suspeitos foram presos, mas a taça nunca mais foi vista. Presume-se que tenha sido derretida e vendida no mercado negro.

Os criminosos não faziam ideia, mas ao derreter o ouro da Jules Rimet, incineraram junto com ele o carisma do troféu da Copa do Mundo. O substituto, criado pelo escultor italiano Silvio Gazzaniga, é bonito, mas não tem conteúdo: em poucos minutos, é possível saber tudo sobre ele e sobre sua história.

O trófeu da Copa do Mundo tem um nome original: "Troféu da Copa do Mundo Fifa". Não importa quantas vezes seja levantado, ele nunca mais terá dono: sua casa será sempre a sede da Fifa, em Zurique, na Suíça. O prêmio máximo é gravar o nome em sua base, mas ela não é visível com a peça em posição vertical; é preciso se aproximar e virá-la.

Apesar dos circunstâncias insossas que cercam o símbolo da glória máxima no Mundial, nem tudo segue o mesmo caminho: dentro de campo, as semifinais de 2014 reúnem três campeões e a sempre perigosa Holanda, e têm tudo para serem tão emocionantes quanto as de 70. Para os brasileiros, com um charme a mais: serão disputadas em casa.

Quanto ao nome da taça? É preciso lembrar que Jules Rimet foi presidente da Fifa. Batizar o novo troféu com o nome de um dirigente do alto escalão da entidade, em um momento em que ela é cada vez mais sinônimo de corrupção e escândalos, seria uma medida de alto risco, muito possivelmente impopular. Batizá-lo com o nome de um jogador? Seria injusto com os 736 atletas, de 32 países, que a cada quatro anos fazem o espetáculo que para o mundo. 

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